Bolsista: LEONARDO FERNANDES RIBEIRO
Orientador(a): Paulo Afonso Nogueira
Resumo: O estado de imunodeficiência associado à baixa contagem de linfócitos CD4 favorece o desenvolvimento de diversas alterações hematológicas, principalmente anormalidades morfofuncionais plaquetárias, que tendem a se agravar nos estágios finais da doença. Evidências também sugerem que essas alterações podem influenciar o curso da doença e, sobretudo, o desfecho clínico de pacientes com HIV, uma vez que o aumento na contagem plaquetária está relacionado à carga viral e pode impulsionar a progressão da infecção. Frente à necessidade de evidenciar as alterações morfofuncionais no comportamento plaquetário diante da infecção pelo HIV, um estudo integrado em uma coorte prospectiva foi instituído por nosso grupo de pesquisa, com o objetivo de correlacionar, por meio de avaliações citométricas, alterações plaquetárias como possíveis marcadores de desfecho clínico em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) atendidas no pronto atendimento da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMT-HVD, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram incluídos no estudo PVHIV com comprovação sorológica, com idades entre 18 e 70 anos, de ambos os sexos, divididos em perfis de acordo com o uso regular ou não da terapia antirretroviral (TARV). Foram excluídos indivíduos fora da faixa etária mencionada, com qualquer patologia relacionada ao sistema hematológico, coinfecção por HIV e hepatite B ou C, e usuários de anti-hipertensivos. Os objetivos do estudo foram traçados e definidos com prioridade na avaliação da morfologia plaquetária por meio dos índices plaquetários do hemograma e da imunofenotipagem de plaquetas por citometria de fluxo, realizados na admissão e antes da alta hospitalar. Entre as metas específicas, destacaram-se: comparar os índices plaquetários MPV (volume plaquetário médio) e PDW (largura de distribuição plaquetária) em relação à trombocitopenia e aos critérios de gravidade hospitalar; determinar associações entre os índices plaquetários e a imunofenotipagem de plaquetas ativadas com a gravidade da infecção, tanto na admissão quanto na alta; e avaliar o desfecho clínico como fator primordial na evolução da doença, relacionando-o com o ambiente inflamatório gerado por citocinas, plaquetas e carga viral (CV).Foi possível identificar que a ativação plaquetária está relacionada à patogênese da infecção pelo HIV. Evidenciaram-se alterações morfofuncionais plaquetárias, por meio dos índices hematimétricos MPV e PDW, tanto em indivíduos que faziam uso regular da TARV quanto naqueles com uso irregular ou falha terapêutica. Além das alterações hematimétricas, foram observadas correlações relevantes entre as variáveis plaquetas, carga viral, expressão do fator tecidual plaquetário (CD142) e citocinas inflamatórias, atuando como preditores de desfecho clínico nos pacientes especialmente devido à formação acentuada de um estado pró-inflamatório e pró-trombótico, o qual contribuiu para o desfecho de óbito. Esse achado se mostra extremamente relevante para a compreensão fisiopatológica da doença e para o entendimento do seu desenvolvimento em indivíduos com HIV. Alterações hematológicas são frequentemente relatadas em diversos estudos envolvendo pacientes com HIV, destacando-se trombocitopenia, ativação plaquetária e a presença de um estado inflamatório e trombótico exacerbado. Todas essas variáveis, quando presentes, contribuem para diferentes tipos de desfechos clínicos nesses pacientes e são de extrema importância para um manejo clínico eficaz e individualizado dos PVHIV. Dessa forma, é fundamental que esses indivíduos sejam abordados de forma abrangente, levando-se em consideração todas as alterações sistêmicas possíveis de serem detectadas no espectro da doença, especialmente as alterações hematológicas associadas às plaquetas, permitindo, assim, a prevenção de desfechos clínicos negativos mais graves.