Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Monitoramento de SARS-CoV-2 e variantes virais em águas residuais do Rio de Janeiro, um modelo de vigilância ambiental em territórios com alta concentração de aglomerados subnormais e saneamento precário
Bolsista: ANA JULIA AMORIM DE OLIVEIRA
Orientador(a): MARIA DE LOURDES AGUIAR OLIVEIRA
Resumo: A pandemia de COVID-19 evidenciou a vulnerabilidade global diante de emergências de saúde pública (ESP). Em 2020, a Epidemiologia Baseada em águas residuais (EBAR) ressurgiu como uma ferramenta complementar recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o monitoramento de patógenos com potencial pandêmico. No entanto, a aplicação da EBAR em áreas socioeconomicamente vulneráveis e com saneamento inadequado ainda é pouco explorada.Objetivo: Este estudo teve como objetivo monitorar o RNA do SARS-CoV-2 e suas variantes virais em um subgrupo amostral, e detectar a presenta do RNA de Influenza A, Influenza B e RSV em amostras de água superficial de rios poluídos, com foco na sub-bacia do Canal do Cunha, no Rio de Janeiro, Brasil uma região caracterizada por altas concentrações de comunidades e favelas com saneamento precário ou ausente.Métodos: Entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, foram coletadas amostras pontuais em cinco pontos de amostragem. A concentração viral por método baseado em captura de partículas virais por beads magnéticas seguida por extração automatizada de ácidos nucleicos totais. O RNA do SARS-CoV-2 foi quantificado por RT-PCR em tempo real, com alvo nos genes N1, utilizando curva padrão para quantificação absoluta. A detecção molecular de Influenza A, Influenza B e RSV foi realizada por ensaio multiplex de RT-PCR em tempo-real desenvolvido para amostras ambientais em parceria com Bio-Manguinhos. Resultados: Das 84 amostras coletadas, 88,1% (74) foram positivas para o gene N1. Durante o período de estudo foram observados três picos de concentração de SARS-CoV-2 RNA, o primeiro na semana epidemiológica 202443, a segunda em 202449 acompanhado por um aumento abrupto do número de casos e 202506. Para outros vírus respiratórios (OVR), foi observada a taxa de positividade de 56% (47), seguido por Influenza 17,9% (15) e RSV 0% (0). A positividade das amostras é consoante com as sazonalidades estimadas dos vírus, bem como a cinética epidemiológica apresentado no estado do Rio de Janeiro no período em tela. Conclusão: O aumento da concentração de SARS-CoV-2 RNA acompanhou o aumento de casos de COVID-19 notificados na SBCC. Ademais, as taxas de detecção de OVR por RT-PCR em tempo real são condizentes com a circulação esperada para o período, validando a abordagem laboratorial e epidemiológica. Estes resultados, ainda que preliminares, abrem portas para a expansão do uso da Epidemiologia Baseada em Águas residuais em regiões de difícil acesso e saneamento básico precário.
Conhecimentos e práticas em Saúde, Ambiente e Trabalho de profissionais de equipes de saúde da família (eSF) em territórios pesqueiros no litoral pernambucano
Bolsista: EGEVAL PEREIRA DA PAZ NETO
Orientador(a): Mariana Olívia Santana dos Santos
Resumo: A Estratégia de Saúde da Família (ESF) busca reorganizar o modelo de atenção no Sistema Único de Saúde (SUS), superando o paradigma biomédico. A Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCFA) visa melhorar a saúde dessas populações, garantindo acesso aos serviços de saúde e melhorando os indicadores de saúde e qualidade de vida. No litoral de Pernambuco, as comunidades de pesca artesanal enfrentam processos de vulnerabilização devido à indústria petroquímica, ao turismo predatório, conflitos territoriais, exploração e monocultivo da cana-de-açúcar e megaprojetos. Esses processos, associados a fatores ambientais e condições de trabalho desfavoráveis, impactam a saúde dessas comunidades. Este cenário foi agravado pelo derramamento de petróleo ocorrido em 2019 e pela pandemia de Covid-19. Apesar da importância da PNSIPCFA, a política ainda não é adequadamente implementada, principalmente no que diz respeito à Educação Permanente em Saúde. Além disso, não há estudos sobre a atuação dos profissionais de saúde em territórios da pesca artesanal. Diante disso, este estudo tem como objetivo descrever os conhecimentos e práticas dos profissionais das equipes de saúde da família (eSF) em Saúde, Ambiente e Trabalho, na perspectiva da atenção integral à saúde dos povos das águas, em comunidades pesqueiras do litoral pernambucano. A pesquisa adota uma abordagem mista, de corte transversal, na perspectiva da Determinação Social da Saúde e da Abordagem Ecossistêmica em Saúde. A população do estudo será composta por profissionais das Unidades de Saúde da Família (USF) de comunidades da pesca artesanal participantes do curso de aperfeiçoamento em saúde da população da pesca para profissionais da Atenção Primária. Os dados foram coletados por meio de questionários estruturados e diários de campo. A análise dos dados permitirá compreender de modo amplo o nível de conhecimento dos profissionais e as práticas adotadas em saúde dos povos da pesca artesanal.Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; Saúde do trabalhador; Saúde Ambiental; Determinação Social da Saúde; Educação Permanente em Saúde.
Planejamento, síntese e avaliação de novos derivados 3-nitro-1,2,4-triazólicos como possíveis agentes anti-T. cruzi.
Bolsista: Valentina Caliman Pinto
Orientador(a): FREDERICO SILVA CASTELO BRANCO
Resumo: A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, ainda representa um sério problema de saúde pública, com tratamentos limitados aos fármacos benznidazol e nifurtimox, eficazes apenas na fase aguda e associados a efeitos adversos significativos. Recentemente, os inibidores da biossíntese do ergosterol (IBEs), como o posaconazol, têm sido estudados como alternativas promissoras, embora apresentem limitações quanto à biodisponibilidade, custo e complexidade sintética.Neste contexto, o presente projeto visa a síntese de novos derivados 3-nitro-1,2,4-triazólicos planejados como possíveis inibidores da enzima CYP51 e substratos da nitroredutase. O núcleo 3-nitro-1,2,4-triazol foi escolhido por apresentar maior potência e menor toxicidade comparado ao 2-nitroimidazol, atuando em múltiplos alvos e reduzindo o risco de resistência parasitária. Foram propostas modificações estruturais com a substituição do anel difluorbenzeno por grupos como fenilbenzeno e bifenila, buscando otimizar a atividade e seletividade, além de atender à Regra dos 5 de Lipinski.A rota sintética empregada para obtenção dos compostos envolve acilação de Friedel-Crafts, substituição nucleofílica com 3-nitro-1,2,4-triazol, epoxidação de Corey-Chaykovsky e redução com NaBH. Os derivados das séries 10a-e e 11a-e foram obtidos com sucesso pelos bolsistas egressos. Ensaios in vitro com a série 10ae demonstraram inibição superior a 85% do T. cruzi na menor concentração testada (0,78 µM), apresentando maior potência que o benznidazol. A citotoxicidade foi avaliada com Alamar Blue, e os índices de seletividade (IS) estão sendo determinados. Já para a série 11, 12a-d e 13a,b, até o momento, foram sintetizados os intermediários 20 e 22a com rendimentos de 50% e 70%, respectivamente. O produto final 11 foi obtido com 92% de rendimento, sendo sua estrutura confirmada por espectrometria de massas de alta resolução (HRMS).
Alterações cardíacas na esteatose hepática: papel da via AGE-RAGE
Bolsista: IONE ANDREIOLO
Orientador(a): ANISSA DALIRY
Resumo: A doença hepática gordurosa não alcóolica (DHGNA) acomete 20-30% da população adulta mundial [1]. Estudos sugerem uma importante relação causal entre as alterações hepáticas e os danos cardiovasculares, sendo esta a causa principal de morte em pacientes com DHGNA, porém o exato mecanismo que desencadeia essa progressão ainda não é completamente entendido [2]. Atualmente, discute-se o papel dos produtos finais de glicação avançada, ou AGEs (do inglês, Advanced Glycation End Products), na etiologia das doenças cardiovasculares e DHGNA. AGEs são proteínas modificadas pela ação de açúcares redutores e lipideos, de forma não enzimática, formados ao longo da vida, porém aumentados em situações de estresse oxidativo e hiperglicemia, e podem danificar os tecidos [3]. Até o momento, a única intervenção não farmacológica utilizada para o tratamento da DHGNA é o treinamento físico [4,5]. Protocolos de treinamento com exercícios aeróbicos, de resistência e combinados se mostraram eficazes na atenuação de características morfológicas encontradas na DHGNA, como a esteatose hepática [6]. Desta forma, o treinamento físico pode ser considerado uma alternativa não farmacológica eficaz na melhora da DHGNA e suas complicações associadas. Assim, com o presente estudo visamos elucidar o papel dos AGEs na fisiopatologia e evolução da DHGNA, com foco na função cardíaca, o efeito do treinamento físico como intervenção. Os resultados contribuirão para o entendimento da fisiopatologia da DHGNA e proposição de alternativas terapêuticas visando retardar ou mesmo impedir a progressão das alterações cardíacas na esteatose hepática e seus consequentes efeitos deletérios.
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA INFECÇÃO PELO VÍRUS SARS-CoV-2 EM BIOMARCADORES METABÓLICOS E SUA RELAÇÃO COM O DIABETES MELLITUS: realização de revisão sistemática e metanálise
Bolsista: ISAAC ARTHUR RIBEIRO BRIGIDO
Orientador(a): Roberto Wagner Junior Freire De Freitas
Resumo: Estudos têm mostrado que pacientes infectados pelo SARS-Cov-2 e que possuíam diabetes foram considerados de alto risco e mais propensos a desenvolverem as formas graves da doença. A letalidade é significativamente maior entre aqueles com diabetes mellitus. Dessa forma, considerou-se primordial saber se pessoas que foram infectadas apresentaram, de fato, alterações nos biomarcadores metabólicos que poderão, a curto, médio ou longo prazo, desencadear um pré-diabetes ou diabetes. Apesar dos estudos já realizados sobre a COVID-19, muitas lacunas do conhecimento ainda estão postas e, somente através de evidências robustas, a comunidade científica poderá ter as devidas respostas para o que ainda não é conhecido. Dessa forma, estudos de acompanhamento com pessoas que tiveram a doença são de extrema importância, uma vez que poderão trazer novos dados para elucidar alguns questionamentos, como a questão do aumento na incidência de DM e de alterações em biomarcadores. O estudo teve como objetivo entender, em que medida, as pessoas adultas sem diabetes, após infecção pelo vírus SARS-CoV-2, passaram a apresentar alterações nos biomarcadores metabólicos, especificamente resistência insulínica ou diagnóstico de pré-diabetes/diabetes. Trata-se de uma revisão sistemática com metanálise abrangendo estudos clínicos que estudaram a associação da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 e o diabetes mellitus. A pesquisa foi realizada nas bases de dados ou sites de pesquisas: Pubmed, Web of Science, Scopus e Cochrane Wiley, utilizando os descritores: diabetes mellitus, SARS-CoV-2, biomarcadores, além de seus termos relacionados. Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: estudos clínicos realizados com pacientes adultos, dos tipos observacionais prospectivos, retrospectivos, transversais e ensaios clínicos randomizados, publicados após o início da pandemia e em qualquer idioma. Foram excluídos os artigos de relatos de caso clínico, revisões de literatura, estudos em animais e estudos in vitro. A busca foi realizada de maneira independente, por dois autores, que realizaram a leitura criteriosa de todos os títulos e resumos, a partir dos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, para verificar a concordância ao tema e a capacidade de responder ao objetivo definido para este trabalho, sendo selecionados 14 estudos para a revisão sistemática e metanálise. Foi possível observar que um aumento significativo nos níveis de biomarcadores metabólicos após a infecção por COVID-19, o que sugere um impacto direto na regulação metabólica. A alta heterogeneidade (I² = 87,7%) sugere que as diferenças entre os estudos são substanciais, possivelmente explicadas por variações nos desenhos metodológicos, populações estudadas ou nos marcadores utilizados. A análise mostra um aumento no risco de desenvolvimento de diabetes em indivíduos previamente não diabéticos após infecção por COVID-19. A partir das informações elucidadas neste estudo, os profissionais da saúde poderão traçar medidas de intervenção e/ou tratamento precoce, reduzindo consideravelmente os impactos que a COVID-19 poderá trazer à vida das pessoas. Ainda, pretende-se, com a continuidade do estudo, trazer novas evidências com dados primários dos pacientes que estão sendo acompanhados, para além da revisão sistemática com metanálise.
ABORDAGEM SAÚDE ÚNICA E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: PROPOSTA DE CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA WEB EM CÓDIGO ABERTO PARA MONITORAMENTO, PREVISÃO E PREVENÇÃO DE EPIDEMIAS CAUSADAS POR ARBOVIROSES COMPATIBILIZANDO MÚLTIPLAS FONTES DE INFORMAÇÃO
Bolsista: VIRGINIA SUELLEN DA SILVA LOPES
Orientador(a): LOUISIANA REGADAS DE MACEDO QUININO
Resumo: RESUMOA pandemia de COVID-19 e a recente expansão do surto de Mpox confrontaram o mundo com o risco crescente de novos surtos globais de doenças infecciosas. Acredita-se que a mudança climática seja um fator de risco geral para o surgimento de novos patógenos e o aumento de infecções humanas. Especialmente as infecções transmitidas por artrópodes (arbo) parecem ser influenciadas pelas mudanças de temperatura e precipitação. O cenário epidemiológico da dengue no Brasil evidencia que, somente até abril de 2024, cerca de 4,5 milhões de infecções pelo DENV já foram notificadas. Considerando esse quadro, as situações epidêmicas de que se tratam atualmente não podem ser consideradas sob os moldes tradicionais de intervenção dos sistemas de saúde. Sugere-se um modelo teórico de abordagem destas doenças baseado no conceito de One Health. Propõe-se estudar o comportamento destas doenças no tempo e espaço e segundo variáveis climáticas (temperatura e precipitação) e sociodemográficas, e construir um painel epidemiológico para abordagem e monitoramento de arboviroses em Pernambuco que vai unir várias fontes de informação, anexado a uma plataforma web de código aberto com elaboração em curso (denominada EPIGEODATA@). O estudo será realizado em duas etapas, uma acadêmica, outra de produção de tecnologias para a saúde. Sobre a primeira etapa, diagramas de controle para Pernambuco e para cada mesorregião foram elaborados utilizando dados livres de dengue. Utilizaram-se gráficos de Shewhart para sua elaboração usando linguagem Pyton. Os diagramas de controle elaborados para verificação de períodos epidêmicos da dengue em Pernambuco e mesorregiões mostraram que, em todo o estado, a maior parte dos casos de dengue ocorre no primeiro semestre, onde tambem ocorrem as chuvas e o calor prevalece. Os desafios que as mudanças climáticas impoes aos serviços de saude apontam para sobrecarga. Além disso, a desigualdade social agrava o problema, pois comunidades mais vulneráveis têm menos acesso a medidas preventivas e cuidados médico. Sugere-se intensificar as ações no primeiro semestre do ano. Como limitaçõies do estudo tem-se o uso de dados secundários e a não realização de testes estatísticos para correlacionar a ocorrência de dengue e as variáveis climáticas. Palavras chave (Decs, Mesh): epidemiologia; Projetos de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação; mudanças climáticas; arboviroses.
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