Bolsista: MATHEUS EDUARDO GOMES DE OLIVEIRA
Orientador(a): Paulo Sérgio Ramos de Araújo
Resumo: No Brasil, são registrados aproximadamente 80 mil novos casos de tuberculose (TB) a cada ano, acometendo sobretudo grupos vulneráveis, entre eles pessoas privadas de liberdade (PPL), onde a incidência chega a ser 59 vezes maior que a da população geral em Pernambuco, estado que ocupa posição de destaque nos índices de infecção e óbitos por TB. Essa vulnerabilidade é resultado de fatores individuais (como comorbidades, comportamentos de risco - tais quais uso de drogas e alcoolismo) e ambientais (penitenciárias superlotadas, baixa ventilação e acesso restrito à saúde), que favorecem a transmissão, o diagnóstico tardio e um tratamento inadequado. Um cenário preocupante é o da coinfecção TB-HIV, já que pessoas vivendo com HIV têm maior risco de TB ativa (21 vezes mais) e de desenvolver formas graves, exigindo estratégias integradas de controle. Diante disso, o estudo visa conhecer a prevalência da coinfecção TB-HIV, que representa um grande desafio de saúde pública, na população privada de liberdade da Região Metropolitana do Recife (com destaque especial para o Centro de Observação e Triagem Criminológica Professor Everaldo Luna - COTEL), descrevendo as características clínico-epidemiológicas dos casos e identificando possíveis fatores de risco associados à coinfecção. Para tanto, optou-se, a princípio, por um estudo descritivo de delineamento transversal montado a partir de dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais obtidos através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do DATASUS, abrangendo a totalidade dos casos de tuberculose confirmados nessa população durante o período analisado (2020 a 2023), com participação de indivíduos de ambos os sexos, com idade acima dos 18 anos e suspeita de TB com coinfecção com o HIV. Também foram adicionados e analisados dados incipientes acerca do panorama geral de TB, HIV e TB-HIV do primeiro trimestre de 2025 no COTEL. Foram identificados 4210 casos de TB em PPL nas unidades estudadas, sendo 5,3% coinfectados TB-HIV (222 casos), amostra passível de ser analisada, mas subestimada em virtude da grande porcentagem de testes não realizados. No COTEL, cerca de 12% são de coinfectados. O perfil é predominantemente de homens, pardos, com baixa escolaridade, evidenciando que a vulnerabilidade socioeconômica está diretamente ligada à vulnerabilidade ao adoecimento. 80% dos coinfectados com HIV evoluíram para AIDS, ratificando a dificuldade em estabelecer medidas de diagnóstico e tratamento precoces. Tabagismo, drogas, álcool, condições penitenciárias precárias também mostraram-se como fatores favoráveis à transmissão. Muitos dos dados se encontram subestimados por incompletudes, o que restringe a análise do perfil dos casos e aponta a importância de uma melhor integração dos dados para um acompanhamento adequado dos coinfectados e, assim, possibilitar um planejamento que dê base a políticas públicas eficazes. Este projeto foi aceito no Comitê de Ética em Pesquisas do IAM/FIOCRUZ (Parecer: 6.824.226).