Bolsista: CLARA REGINA PEREIRA ABREU
Orientador(a): ELMO EDUARDO DE ALMEIDA AMARAL
Resumo: As leishmanioses são um grupo de doenças infecciosas causadas por protozoários do gênero Leishmania, onde mais de 20 espécies são responsáveis pelas principais manifestações clínicas da doença: Leishmaniose Tegumentar (LT) e Leishmaniose Visceral (LV), sendo considerada uma das doenças mais negligenciadas do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde e diretamente associada à pobreza e à escassez de recursos financeiros, especialmente em países em desenvolvimento localizados em regiões tropicais e subtropicais. A Leishmania infantum é o agente etiológico responsável pela forma clínica mais grave, a leishmaniose visceral (LV), que pode ser letal em mais de 95% dos casos não tratados adequadamente. Epidemiologicamente, o Brasil destaca-se por obter 90% dos casos registrados na América Latina, onde em média, cerca de 3.500 casos são reportados por ano e a incidência é de 2 casos a cada 100.000 habitantes. O tratamento disponível é limitado a poucos fármacos, os quais apresentam diversos desafios, como falhas terapêuticas, toxicidade elevada, altos custos e surgimento de cepas resistentes. Diante desse cenário, estratégias como a combinação e o reposicionamento de fármacos vêm sendo exploradas como alternativas promissoras. Nesse contexto, destaca-se o uso combinado da memantina um fármaco aprovado para o tratamento da doença de Alzheimer com medicamentos de referência no tratamento da leishmaniose e sua eficácia em células resistentes ao fármaco de primeira escolha utilizado no Brasil, o antimoniato de meglumina. Este estudo teve como objetivo avaliar a atividade avaliar o efeito da memantina sozinha ou combinada com antimoniato de meglumina e miltefosina em L. infantum sensível e resistente ao SbIII. Inicialmente, promastigotas de L. infantum foram incubadas por 72 horas com miltefosina e SbIII para determinação dos valores de IC, obtendo-se 19,7 microM e 55 microM, respectivamente. O valor de IC da memantina previamente determinado para promastigotas foi de 273 microM. As combinações de memantina com miltefosina ou SbIII em diferentes proporções (5:0; 4:1; 3:2; 2:3; 1:4 e 0:5) em promastigotas de L. infantum foram avaliadas após 72 horas de incubação, sendo a viabilidade celular medida por fluorescência com o reagente resazurina. Os valores de concentração inibitória fracionada (FICI) para as combinações de memantina com miltefosina e com SbIII foram de 1,12 e 1,67, respectivamente, indicando efeito aditivo em ambas as associações. Para amastigotas intracelulares, os valores de IC determinados foram de 1,98 ± 0,24 microM para memantina e 0,24 ± 0,02 microM para miltefosina. A combinação entre memantina e miltefosina demonstrou inibir o índice de infecção de maneira dependente da concentração após 72 horas de tratamento, com um FICI de 1,38, também caracterizando um efeito aditivo. Para sugerir uma terapia eficaz em casos de cepas resistentes, promastigotas de L. infantum forma cultivadas ou não com adição de concentrações crescentes progressivas de SbIII para obtenção de resistência. Uma vez atingido 10x o valor de IC50 previamente determinado, as células sensíveis e resistentes foram incubadas com SbIII para verificação de resistência, indicando valores de IC50 40,79 microM e 2630 microM, respectivamente, comprovando a resistência de 64,5 vezes quando comparada à célula sensível. Posteriormente, as células sensíveis ou resistentes ao SbIII foram incubadas com concentrações crescentes de memantina por 72 horas, demonstrando um IC50 de 544,1 microM e 878 microM, respectivamente. Em conjunto, os resultados sugerem que a associação de fármacos de referência com a memantina representa uma estratégia terapêutica promissora para o tratamento da leishmaniose.