Bolsista: FELIPE RAED XAVIER
Orientador(a): ANISSA DALIRY
Resumo: Atualmente, cerca de 25% da população mundial apresenta doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), que se inicia por uma esteatose simples e pode evoluir para condições mais severas, como a esteatohepatite não alcoólica, cirrose hepática e hepatocarcinoma, sendo o transplante hepático a última linha de tratamento para pacientes elegíveis com doenças hepáticas terminais. Em uma cirurgia de transplante hepático, a decisão para aceitar ou descartar um enxerto depende de fatores do doador e do receptor e modelos de prognóstico têm sido desenvolvidos para auxiliar o cirurgião na escolha do enxerto. Nesse cenário, a esteatose hepática é considerada um dos fatores de risco para a escolha do enxerto, pois pode afetar significativamente a função do órgão, logo uma avaliação cuidadosa desse fator é obrigatória, sendo um grande desafio na prática clínica A biópsia hepática é amplamente reconhecida como o método padrão ouro para avaliar a esteatose, mas apresenta limitações que dificultam seu uso rotineiro em transplantes. A distribuição irregular da esteatose limita a sensibilidade da biópsia hepática como valor diagnóstico, e muitos centros carecem de recursos ou profissionais especializados para realizar a análise histopatológica. Além disso, o processo é demorado, com um intervalo de 30 a 54 horas entre a coleta e a análise, o que torna inviável seu uso como critério de exclusão de enxertos. Esse atraso pode aumentar o tempo de isquemia do órgão, impactando negativamente sua funcionalidade e a sobrevida do paciente. Ainda, a dependência do observador torna os resultados qualitativos e quantitativos menos consistentes. Sendo assim, o desenvolvimento de técnicas mais rápidas, práticas e precisas para avaliação do enxerto a ser transplantado é de extrema importância. No presente trabalho, investigamos a hipótese de que o micro espectrômetro (ME), um dispositivo portátil, prático e não invasivo, poderia ser usado como um novo método diagnóstico, que auxilie a equipe médica na determinação de grau e tipo de esteatose hepática, na própria sala de cirurgia e em tempo real. Até o momento, 100 pacientes que vieram a óbito foram recrutados pela equipe médica. Após a chegada e preparação do tecido a ser transplantado, foi realizada a leitura utilizando o micro espectrômetro (ME). Após a leitura, realizou-se a coleta de amostras hepáticas (uma coleta de biópsia do fígado direito e uma coleta de biópsia do fígado esquerdo) para que o espectro representasse exatamente a mesma região avaliada, totalizando então 200 amostras. Essas amostras foram coradas com Hematoxilina e Eosina (HE) para avaliar a morfologia geral do tecido e o grau de esteatose. Além disso, colorações especiais foram utilizadas para análise da fibrose (Tricrômico de Masson), deposição de fibras reticulares/colágeno tipo III (Reticulina) e deposição de ferro (coloração de Perls). Imagens digitais foram adquiridas para ilustrar as classificações realizadas e/ou achados das biópsias hepáticas. Observamos que a esteatose macrovesicular, que é mais evidente ao olho nu devido às grandes gotículas de gordura, foi observada em 22% dos casos como leve e 5% como moderada, sem casos classificados como esteatose macrovesicular severa. Por outro lado, a esteatose microvesicular, caracterizada por pequenas gotículas de gordura, mais difíceis de identificar macroscopicamente, estava presente em 11% dos casos como leve, 5% como moderada e 47% como severa. Dessa forma, a esteatose microvesicular se mostra mais prevalente em estágios mais avançados (grau 3 - severa), demonstrando uma diferença importante na ocorrência entre os dois tipos de esteatose em fígados transplantados, reforçando a relevância do estudo para a avaliação de fígados destinados ao transplante. As próximas etapas incluirão a correlação das análises histopatológicas com a digitalização do micro espectrômetro, com o intuito de avaliar a aplicabilidade do dispositivo no contexto clínico.