Bolsista: MILENA DE PAULA REBELLO
Orientador(a): JOSE JUNIOR FRANCA DE BARROS
Resumo: A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) e as doenças metabólicas, incluindo a esteato-hepatite não alcoólica (EHNA/NASH), exibem uma interação complexa e multifatorial, tais como, distúrbios metabólicos e herança genética. Embora a apoptose mediada por ácidos graxos livres seja uma característica proeminente da EHNA/NASH, o impacto da infecção pelo HCV nos mecanismos que levam à fibrose avançada, à cirrose e ao hepatocarcinoma (HCC) ainda não estão completamente esclarecidos. Adicionalmente, Polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) no gene da fosfolipase-3 semelhante à patatina (PNPLA3) é um importante fator de risco genético para doença hepática gordurosa não alcoólica ((DHGNA). Desta forma, uma maior compreensão desses eventos se torna necessário no desenvolvimento de novos métodos preventivos, de diagnóstico não invasivo, de prognóstico e terapêuticos, como ferramentas e estratégias de controle desse agravo à saúde pública. O presente projeto visa estudar polimorfismos nas posições 70, 91, 164, 182 e 186 da proteína core-HCV correlacionados com a presença e/ou ausência de EHNA, como fator viral, e as variações alélicas do PNPLA3 (rs738409 C>G), como fator do hospedeiro, em amostras obtidas de pacientes cronicamente infectados pelo HCV, através do sequenciamento nucleotídico do core-HCV e do gene humano da PNPLA3. Após construção de um banco de dados e análise dos resultados obtidos, registramos que na nossa amostragem eram 70,0% (56/80) do sexo feminino e a idade média de 63 ± 10,2 anos. Os subgenótipos encontrados foram: HCV-1a, HCV-1b, HCV-3a e HCV-2b, sendo o mais prevalente o subgenótipo 1b com 48,7% (39/80) e o 2b só foi encontrado em um indivíduo. Dentre as substituições no core-HCV a mais prevalente foi T189A. As amostras foram organizadas em grupos com EHNA (n=53) e grupo controle (sem EHNA) (n=27). Assim, foram avaliadas as principais substituições na proteína core do HCV nesses grupos. As mutações mais frequentes no grupo com EHNA foram T189A, R70Q e L91M, respectivamente. No grupo controle (sem EHNA), essas mesmas substituições também estiveram entre as mais prevalentes, mas em menor frequência comparado com o grupo EHNA. As demais mutações (Y164F, L182F e T186I) que apresentaram frequências mais baixas em ambos os grupos, variando de 3,7% a 9,4%, só foram encontradas no subgenótipo 3a. Além das substituições na proteína core-HCV, avaliamos parâmetros clínico-laboratoriais nos grupos com e sem EHNA. Observou-se que a média do Índice de Massa Corporal (IMC) foi discretamente maior no grupo com EHNA (27,05 ± 5,64) em comparação ao grupo controle (25,37 ± 3,36). Embora essa diferença não permita inferências causais, pode sugerir que características relacionadas ao estilo de vida ou composição corporal estejam mais presentes nos indivíduos com EHNA. Os níveis médios de enzimas hepáticas, Alanina Aminotransferase (ALT), Aspartato Aminotransferase (AST) e Gama Glutamil Transferase (GGT), foram semelhantes entre os grupos. Assim como o perfil lipídico (colesterol total, HDL e LDL), com exceção dos triglicerídeos, que apresentaram média ligeiramente superior no grupo sem EHNA (114,28 ± 52,51). Através do sequenciamento, a variante I148M do gene PNPLA3 foi analisada em um subconjunto de 36 indivíduos. A frequência do alelo de risco (presença de pelo menos uma cópia do alelo G, genótipos CG ou GG) foi maior no grupo com EHNA (47,8%, 11/23) do que no grupo sem EHNA (38,5%, 5/13). Dentre os genótipos, o GG foi observado em 34,8% dos indivíduos com EHNA (8/23) e em 15,4% dos indivíduos sem EHNA (2/13), sugerindo uma possível maior frequência do alelo de risco no grupo com a condição clínica. Já o alelo CG (alelo de risco heterozigoto) foi identificado em 3 indivíduos em ambos os grupos. Este estudo sugere que substituições de aa na proteína core-HCV e do gene PNPLA3 podem estar relacionadas ao desenvolvimento de EHNA.