Bolsista: LAIS DA SILVEIRA NORONHA
Orientador(a): Cláudia Rios Velasquez
Resumo: A Amazônia é uma das regiões mais biodiversas do planeta, mas é impactada por ações antrópicas como a agricultura e expansão urbana, o que afeta diretamente os ciclos ecológicos e epidemiológicos de diversos organismos, incluindo parasitos. Dentre esses parasitos, os protozoários da família Trypanosomatidae se destacam por infectarem uma ampla gama de hospedeiros, incluindo pequenos mamíferos, répteis e anuros. Espécies dos gêneros Trypanosoma e Leishmania, tsão os mais estudados devido a sua importância médica e veterinária. No entanto, há uma lacuna significativa de conhecimento sobre a diversidade e distribuição desses parasitos na região amazônica. O presente estudo teve como objetivo identificar, com base em características morfológicas e morfométricas, protozoários da família Trypanosomatidae que infectam pequenos mamíferos, répteis e anuros em áreas florestais e antropizadas de dois municípios do estado do Amazonas: Presidente Figueiredo eUrucurituba. As coletas foram realizadas em quatro campanhas de campo (duas em cada município) entre 2023 e 2024 totalizando 18 dias de amostragem por localidade. Em cada área de estudo foram instaladas armadilhas de interceptação do tipo pitfall, Tomahawk e Sherman. Os animais capturados foram submetidos à biometria, avaliação de ectoparasitas e coleta de amostras sanguíneas, das quais foram produzidos 430 esfregaços sanguíneos, corados com Giemsa e analisados por microscopia óptica para detecção de hemoparasitas. No total, 227 vertebrados foram capturados: 69 anuros, 72 répteis e 83 pequenos mamíferos. Em Rio Pardo, observou-se maior número de indivíduos capturados (152), em comparação a Urucurituba (75). A análise microscópica identificou parasitas da família Trypanosomatidae em seis indivíduos em Rio Pardo (quatro anuros e dois mamíferos), totalizando uma taxa de infecção geral de 4,5%. Nos anuros, a taxa de infecção foi de 10,2%, com parasitismo confirmado em Leptodactylus mystaceus, Allobates femoralis e Leptodactylus pentadactylus. Nos mamíferos, a infecção foi registrada em Neacomys paracou e Monodelphis aff. brevicaudata, com taxa de infecção de 3,7%. Em Urucurituba, nenhuma infecção por tripanossomatídeos foi detectada, embora tenham sido observados parasitas do filo Apicomplexa e microfilárias. Foram identificados dois morfotipos distintos de Trypanosoma: um com corpo alongado e fusiforme, outro com morfologia arredondada a elíptica. A análise morfométrica, realizada com auxílio de fotomicroscópio, permitiu caracterizar as estruturas dos parasitos, como cinetoplasto, núcleo e membrana ondulante. Em alguns indivíduos a parasitemia era muito baixa, o que impossibilitou medições precisas. Apesar das diferenças observadas entre as localidades, a análise estatística pelo teste do qui- quadrado indicou que a variação na proporção de infecção entre Rio Pardo e Urucurituba não foi significativa ao nível de 5% (p > 0,05), embora o valor (p 0,07) indique uma tendência que pode se confirmar em estudos com maior amostragem. Comparado a outros trabalhos, como o de Pinho (2018), que encontrou taxas de infecção de 17,9% em anuros do Pará, os resultados desta pesquisa indicam uma taxa relativamente baixa na região estudada, o que pode estar relacionado à sazonalidade, densidade vetorial ou tipo de habitat. Conclui-se que os pequenos vertebrados da Amazônia, especialmente anuros e pequenos mamíferos, abrigam parasitos da família Trypanosomatidae mesmo em áreas com baixa intervenção humana, e que há variação na ocorrência conforme o município. A presença de parasitos em ambientes de peridomicílio alerta para possíveis interfaces entre ciclos silvestres e humanos, reforçando a importância de monitoramento contínuo e uso de ferramentas moleculares para uma caracterização mais precisa. A pesquisa contribui para o conhecimento da biodiversidade parasitária amazônica e para a compreensão dos efeitos da antropização sobre os ciclos de transmissão de agentes de doenças negligenciadas