Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Efeito de vesículas extracelulares plasmáticas produzidas durante a COVID longa sobre o estado de ativação de neutrófilos
Bolsista: FELIPPE DOS SANTOS OLIVEIRA
Orientador(a): THIAGO SOARES DE SOUZA VIEIRA
Resumo: A condição pós-COVID-19 aguda, ou COVID Longa, é caracterizada pela persistência dos sintomas após a infecção inicial por SARS-CoV-2. Dentre os sintomas, destacam-se as anomalias trombóticas. Os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nessa predisposição ainda não estão estabelecidos. Os neutrófilos são os leucócitos mais abundantes na corrente sanguínea e sua ativação intravascular pode promover tromboinflamação. Vesículas extracelulares (VEs) são nanopartículas produzidas por praticamente todos os tipos de células, que carregam diversas moléculas biologicamente ativas. Nosso grupo demonstrou que sobreviventes da COVID-19 carregam altos níveis de VEs plaquetárias com expressão aumentada de fator tecidual (TF) no plasma. Além de promover a ativação da coagulação através da via extrínseca, o TF pode ativar o receptor ativado por protease tipo 2 (PAR-2), um receptor associado à ativação de neutrófilos. Portanto, nosso objetivo é explorar a contribuição das VEs do plasma de pacientes com COVID longa, especialmente de origem plaquetária, no processo de ativação de neutrófilos. Os neutrófilos foram purificados de doadores saudáveis por separação com gradiente de densidade e incubados com vesículas extracelulares (VEs) plasmáticas de controles saudáveis (VE-CT) ou pacientes com COVID longa (VE-LC) por 30 a 120 minutos, que foram purificadas por cromatografia de exclusão por tamanho. O estímulo com VE-LC promoveu agregação significativa de neutrófilos em todos os tempos testados (p < 0,05), com pico do índice de agregação em 60 min (p < 0,05) e diâmetro significativamente maior em 120 min em comparação com células não estimuladas (p = 0,0571). Não observamos aumento significativo nos níveis de LDH em neutrófilos estimulados com EV-LC ou EV-CT, indicando a agregação observada não esta relacionado com morte celular. Os resultados preliminares dos ensaios de quantificação de LTB4 no sobrenadante das culturas de neutrófilos demonstram um aumento da produção deste mediador lipídico perante ativação com ambas os grupos de vesículas e o controle positivo com LPS, entretanto os dados indicam maior quantidade de leucotrieno B4 na cultura de neutrófilos com vesículas controle no tempo de 60 minutos, o que sugere que a produção de LTB4 pode não estar envolvida com o processo de agregação. Por fim, nossos dados até o momento indicam que as vesículas de pacientes com COVID longa têm relação com o estado de agregação de neutrófilos, além de promoverem aumento da produção de LTB4.
AVALIAÇÃO DA IL1 beta E SEUS RECEPTORES E SCD14 NA DOENÇA DE CHAGAS HUMANA AGUDA E CRÔNICA
Bolsista: LUCAS CASTILHO FIGUEROA
Orientador(a): Virginia Maria Barros de Lorena
Resumo: A doença de chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, representa um desafio significativo em termos de diagnóstico e monitoramento terapêutico. Este estudo teve como objetivo a investigação do potencial das moléculas IL-1B e CD40L como biomarcadores para acompanhamento terapêutico da doença tanto para a fase aguda como para a fase crônica. A pesquisa foi realizada através das amostras de pacientes agudos (n=28) e crônicos (n=21). A metodologia utilizou kits de Cytometric Bead Array (CBA) que posteriormente foram analisados por citometria de fluxo utilizando o citômetro FACScalibur, permitindo a quantificação das moléculas no soro dos pacientes. Os resultados indicaram que o tratamento com benzonidazol foi eficaz em reduzir de forma estatisticamente significativa os níveis de IL-1B na fase aguda da doença. Em relação ao CD40L, observou-se um aumento considerável dos níveis após 24 meses do início do tratamento, quando em comparação com os níveis anteriores ao tratamento. No entanto, entre os pacientes crônicos não foram observadas diferenças estatisticamente significativas. Dessa forma os achados sugerem que IL-1B e CD40L apresentam comportamento característico quando tratados ainda na fase aguda da Doença de Chagas e podem representar biomarcadores promissores para o monitoramento da resposta terapêutica ao benzonidazol. Embora para pacientes tratados na fase crônica não tenham sido observados resultados significativos, ainda são necessários mais estudos para entender com mais eficácia os mecanismos de funcionamento dessas moléculas para a Doença de Chagas.
Novas perspectivas de diagnóstico das leishmanioses caninas em Rondônia, Brasil
Bolsista: CRISTOF KALEO BELLEZA MARQUES
Orientador(a): André de Abreu Rangel Aguirre
Resumo: A Leishmaniose é uma doença infecciosa ocasionada por um parasita do gênero Leishmania, protozoário que por sua vez ataca preferencialmente o sistema imune do hospedeiro, podendo afetar seres humanos, animais domésticos e até mesmo os silvestres em boa parte das regiões brasileiras. Sinais comuns da Leishmaniose Visceral Canina (LVC) são as lesões na pele, como a alopecia e as dermatites, porém alguns cães por sua vez podem não apresentar, em sua maioria, sinais clínicos. O objetivo deste estudo é aplicar testes sorológicos para Leishmania infantum e detecção molecular de Anaplasma, Ehrlichia e Babesia de amostras com diagnóstico sorológico inconclusivo. As amostras presentes no Laboratório de Entomologia II pertencente a Fiocruz Rondônia é oriunda de coletas realizadas em atividades de campo anteriores. Tendo como local de coleta vilas adjacentes na ESEC Samuel e Joana DArc III, além das regiões de fazenda em torno do Parque Natural e Parque Nacional Mapinguari. Para a realização do teste DPP foram utilizadas amostras sorológicas de campos anteriores. Com o auxílio de uma lanceta foi inserida na amostra sorológica, aproximadamente de 5 µl de amostra foram colocadas no poço 1 seguido de duas gotas da solução tampão própria do teste DPP. Cinco minutos foram cronometrados para a realização da segunda etapa do teste rápido. Para a segunda etapa, foram adicionadas 4 gotas de solução tampão no poço 2, o mesmo é responsável por atribuir o resultado ao teste, após isso foi cronometrado 10 minutos para que pudesse ser feita a interpretação do resultado. Foram processadas um total de 450 amostras sorológicas. As amostras classificadas como Linha T fraca correspondem àquelas em que o teste DPP apresentou uma linha de teste fraca. Um total de 35 amostras de soro reagiram de alguma forma com o teste, e embora não sejam consideradas positivas, essas amostras foram eleitas para posterior teste Elisa, a fim de contraprova sorológica. Perante os resultados obtidos na triagem com o uso dos testes DPP, podemos concluir que haja uma suposta circulação de Leishmania infantum nas regiões de estudo, porém mais estudos devem ser executados como ELISA, para que assim obtenha-se uma confirmação dos resultados.
Estudo da composição genômica de isolados dos Complexos Mycobacterium kansasii e Mycobacterium abscessus e associação com morfotipo e doença.
Bolsista: JEANINE DE AZEVEDO DIAS
Orientador(a): SIDRA EZIDIO GONCALVES VASCONCELLOS
Resumo: O gênero Mycobacterium inclui patógenos relevantes como o Complexo M. tuberculosis (TB), M. leprae (hanseníase) e micobactérias não tuberculosas (MNT), associadas a diversas infecções. A prevalência de doenças pulmonares por MNT tem aumentado globalmente, embora subestimada pela falta de notificação compulsória na maioria dos países. No Brasil (2013-2019), foram registrados 2.731 casos, com predominância de M. kansasii, M. abscessus e o Complexo M. avium-intracellulare (MAC). No Rio de Janeiro, M. kansasii é a MNT mais isolada, enquanto M. abscessus se associa à alta morbidade e infecções pós-cirúrgicas/estéticas.A alta prevalência de TB no Brasil dificulta o diagnóstico diferencial de MNT. Pacientes com MNT pulmonar frequentemente são tratados inicialmente como TB, pois a baciloscopia não distingue os agentes. O Teste Rápido Molecular para TB não detecta MNT. A confusão diagnóstica leva a tratamentos inadequados. No Brasil, infecções pulmonares por MNT não são de notificação compulsória, exceto as relacionadas a procedimentos estéticos/cirúrgicos. Desde 2022, casos de MNT pulmonar diagnosticados diferencialmente de TB e confirmados por cultura e identificação são registrados no SITE-TB para acompanhamento.O diagnóstico de MNT requer cultura (mais de 40 dias) e identificação da espécie, dificultado por culturas mistas em pacientes com fibrose cística ou colonização por múltiplas MNT. A análise macro/microscópica da cultura pode falhar em detectar misturas, levando a erros. O diagnóstico da doença pulmonar por MNT combina critérios clínicos, radiográficos e microbiológicos. A terapia considera a apresentação clínica, distinção entre colonização e infecção, e risco-benefício, sendo complexa como a de TB/hanseníase, com múltiplos antimicrobianos por longo período. A seleção de fármacos depende da espécie identificada e da sensibilidade, havendo divergências in vivo/in vitro. Pesquisas sobre M. abscessus são prioritárias devido ao desafio terapêutico e em M. kansasii pelo aumento da resistência.Este relatório apresenta resultados preliminares do estudo da composição genômica de isolados de M. kansasii e M. abscessus e sua associação com morfotipo e doença. Analisamos isolados clínicos e ambientais para correlacionar dados genômicos e epidemiológicos, visando compreender estrutura genétoca e desenvolver novas ferramentas diagnósticas. Foram analisados 89 isolados (69 M. kansasii, 20 M. abscessus). A identificação genômica (fastANI) confirmou 77% de M. kansasii e identificou outras espécies, sugerindo novas descobertas. Para M. abscessus, 30% foram confirmados, com identificação de subespécies e outras bactérias. O estudo revelou 23% de discrepância entre a identificação inicial e genômica, atribuída a misturas ou novas espécies. A análise fenotípica mostrou divergências em relação às características típicas de M. kansasii. Os resultados reforçam a importância da integração de métodos tradicionais e moleculares (sequenciamento do genoma total e análise ANI) devido à complexidade da identificação de micobactérias (crescimento lento, exigências nutricionais, infecções múltiplas).
Diversidade de parasitos da família Trypanosomatidae que infectam pequenos vertebrados (pequenos mamíferos, anuros e répteis) em áreas florestais e antropizadas na região Amazônica.
Bolsista: LAIS DA SILVEIRA NORONHA
Orientador(a): Cláudia Rios Velasquez
Resumo: A Amazônia é uma das regiões mais biodiversas do planeta, mas é impactada por ações antrópicas como a agricultura e expansão urbana, o que afeta diretamente os ciclos ecológicos e epidemiológicos de diversos organismos, incluindo parasitos. Dentre esses parasitos, os protozoários da família Trypanosomatidae se destacam por infectarem uma ampla gama de hospedeiros, incluindo pequenos mamíferos, répteis e anuros. Espécies dos gêneros Trypanosoma e Leishmania, tsão os mais estudados devido a sua importância médica e veterinária. No entanto, há uma lacuna significativa de conhecimento sobre a diversidade e distribuição desses parasitos na região amazônica. O presente estudo teve como objetivo identificar, com base em características morfológicas e morfométricas, protozoários da família Trypanosomatidae que infectam pequenos mamíferos, répteis e anuros em áreas florestais e antropizadas de dois municípios do estado do Amazonas: Presidente Figueiredo eUrucurituba. As coletas foram realizadas em quatro campanhas de campo (duas em cada município) entre 2023 e 2024 totalizando 18 dias de amostragem por localidade. Em cada área de estudo foram instaladas armadilhas de interceptação do tipo pitfall, Tomahawk e Sherman. Os animais capturados foram submetidos à biometria, avaliação de ectoparasitas e coleta de amostras sanguíneas, das quais foram produzidos 430 esfregaços sanguíneos, corados com Giemsa e analisados por microscopia óptica para detecção de hemoparasitas. No total, 227 vertebrados foram capturados: 69 anuros, 72 répteis e 83 pequenos mamíferos. Em Rio Pardo, observou-se maior número de indivíduos capturados (152), em comparação a Urucurituba (75). A análise microscópica identificou parasitas da família Trypanosomatidae em seis indivíduos em Rio Pardo (quatro anuros e dois mamíferos), totalizando uma taxa de infecção geral de 4,5%. Nos anuros, a taxa de infecção foi de 10,2%, com parasitismo confirmado em Leptodactylus mystaceus, Allobates femoralis e Leptodactylus pentadactylus. Nos mamíferos, a infecção foi registrada em Neacomys paracou e Monodelphis aff. brevicaudata, com taxa de infecção de 3,7%. Em Urucurituba, nenhuma infecção por tripanossomatídeos foi detectada, embora tenham sido observados parasitas do filo Apicomplexa e microfilárias. Foram identificados dois morfotipos distintos de Trypanosoma: um com corpo alongado e fusiforme, outro com morfologia arredondada a elíptica. A análise morfométrica, realizada com auxílio de fotomicroscópio, permitiu caracterizar as estruturas dos parasitos, como cinetoplasto, núcleo e membrana ondulante. Em alguns indivíduos a parasitemia era muito baixa, o que impossibilitou medições precisas. Apesar das diferenças observadas entre as localidades, a análise estatística pelo teste do qui- quadrado indicou que a variação na proporção de infecção entre Rio Pardo e Urucurituba não foi significativa ao nível de 5% (p > 0,05), embora o valor (p 0,07) indique uma tendência que pode se confirmar em estudos com maior amostragem. Comparado a outros trabalhos, como o de Pinho (2018), que encontrou taxas de infecção de 17,9% em anuros do Pará, os resultados desta pesquisa indicam uma taxa relativamente baixa na região estudada, o que pode estar relacionado à sazonalidade, densidade vetorial ou tipo de habitat. Conclui-se que os pequenos vertebrados da Amazônia, especialmente anuros e pequenos mamíferos, abrigam parasitos da família Trypanosomatidae mesmo em áreas com baixa intervenção humana, e que há variação na ocorrência conforme o município. A presença de parasitos em ambientes de peridomicílio alerta para possíveis interfaces entre ciclos silvestres e humanos, reforçando a importância de monitoramento contínuo e uso de ferramentas moleculares para uma caracterização mais precisa. A pesquisa contribui para o conhecimento da biodiversidade parasitária amazônica e para a compreensão dos efeitos da antropização sobre os ciclos de transmissão de agentes de doenças negligenciadas
Avaliação de candidatos a pró-fármacos ativados por nitrorredutase do tipo I sobre Leishmania spp
Bolsista: MARIANA SANTOS DE CARVALHO
Orientador(a): EDUARDO CAIO TORRES DOS SANTOS
Resumo: A leishmaniose é uma doença tropical negligenciada causada por protozoários do gênero Leishmania. O tratamento atual é limitado, com relatos de resistência e falhas terapêuticas, o que torna urgente a busca por novas alternativas terapêuticas. Amidoximas vêm sendo estudadas como fármacos ou pró-fármacos, uma vez que podem ser reduzidas a amidinas e transformadas por diferentes enzimas em amidas, com subsequente liberação de óxido nítrico (NO), além de apresentarem melhor biodisponibilidade em comparação às amidinas. Diante disso, nosso grupo de pesquisa tem se dedicado à síntese de derivados de amidoxima e amida, com o objetivo de melhorar propriedades físico-químicas, como a solubilidade, e potencializar a atividade biológica sem aumentar significativamente a toxicidade. Foram sintetizados seis derivados da série OSC contendo o núcleo 4,5-di-hidrofurano-3-carboxamida, nos quais exploramos diferentes substituintes na estrutura: 2-nitrobenzamida, picolinamida, N'-hidroxi-2-nitrobenzimidamida e N'-hidroxipicolinimidamida na posição 2 do di-hidrofurano, além de N'-hidroxibenzimidamida nas posições 3 e 5. A escolha da piridina como substituinte se baseou na sua reconhecida capacidade de modular propriedades farmacológicas. A atividade leishmanicida foi avaliada em promastigotas de L. amazonensis, com valores de IC variando entre 7,4 e 39,7 µM. Os compostos OSC-151 (IC = 30,7 ± 3,3 µM) e OSC-258 (IC = 39,7 ± 9,6 µM) foram os menos ativos da série, sugerindo que a presença de piridina nas posições 3 e 5 do anel di-hidrofurano reduz a atividade. Os derivados OSC-260 (IC = 11,8 ± 1,3 µM), OSC-275 (IC = 9,4 ± 0,6 µM) e OSC-276 (IC = 11,3 ± 1,6 µM) apresentaram atividades semelhantes, enquanto o composto OSC-272 (IC = 7,4 ± 0,9 µM) foi o mais ativo da série. As moléculas mais promissoras (OSC-260, OSC-272, OSC-275 e OSC-276) também foram avaliadas quanto à citotoxicidade em macrófagos peritoneais de camundongos BALB/c. Observou-se maior toxicidade para OSC-276 (CC = 38,83 µM) e OSC-275 (CC = 76,45 µM), enquanto OSC-260 (CC = 95,8 µM) e OSC-272 (CC = 141,8 µM) apresentaram menor toxicidade. Com base nos dados obtidos até o momento, OSC-272 e OSC-260 destacam-se como os compostos mais promissores da série. Estudos adicionais em amastigotas intracelulares, bem como investigações mecanísticas, serão conduzidos para elucidar a relação estrutura-atividade e o mecanismo farmacológico desses compostos.
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