Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Detecção, quantificação e caracterização molecular de vírus entéricos e SARS-CoV-2 no ambiente do trabalhador de limpeza urbana.
Bolsista: LIDIA POMBO GOMES
Orientador(a): NATALIA MARIA LANZARINI
Resumo: O objetivo deste projeto é realizar a detecção, quantificação e caracterização molecular de vírus entéricos, o mastadenovírus humano (HAdV) e o rotavírus A (RVA), além do SARS-CoV-2, no ambiente de trabalho dos profissionais de limpeza urbana. O objeto desta pesquisa foi a análise do lixiviado dos caminhões de resíduos sólidos urbanos (RSU) e de swabs das barras de apoio dos veículos. A pesquisa foi realizada em três Estações de Transferência de Resíduos (ETRs) no Rio de Janeiro: Caju, Marechal Hermes e Jacarepaguá. Foram coletadas 274 amostras de lixiviado e 46 swabs de barras de caminhões. As amostras de lixiviado passaram por um processo de ultracentrifugação para concentração viral e, em seguida, ambas amostras passaram pela extração de ácidos nucleicos com o EXTRACTA KIT FAST. Para a quantificação viral, foi utilizado a técnica de PCR em Tempo Real (qPCR/RT-qPCR) para detectar HAdV e RVA. Os resultados mostraram uma alta prevalência de HAdV no lixiviado, com 86,0% das amostras positivas. As médias de cópias genômicas por 100 mL variaram entre 6,07×10² no Caju e 1,34×10³ em Marechal Hermes. O RVA foi identificado em 72,0% das amostras, sendo que a maior carga viral foi observada na ETR Caju, com uma média de 5,16×10 cópias por 100 mL. Nos swabs das barras, HAdV foi detectado em 21,0% das amostras, enquanto o RVA foi detectado em 8,0%. Esta análise ressaltou a contaminação ambiental como um risco ocupacional importante, especialmente pela exposição direta dos trabalhadores a superfícies contaminadas. A ausência de etapas de concentração nas amostras de swab poderia ter influenciado na baixa sensibilidade da detecção, além da presença de inibidores na amostra, indicando que há espaço para aprimoramentos metodológicos no futuro. O trabalho de detecção do SARS-CoV-2 e a caracterização molecular dos vírus ainda estão em andamento, o que pode ajudar a aprofundar nosso conhecimento sobre os genótipos que circulam e os riscos associados. Pode-se concluir que as metodologias utilizadas foram eficazes na detecção do HAdV e RVA, ressaltando a importância do monitoramento ambiental como uma ferramenta valiosa para a vigilância em saúde pública e ocupacional. Além disso, o projeto destaca a necessidade de implementar medidas protetivas adequadas para os trabalhadores e pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de prevenção em situações de emergências sanitárias.
Detecção e identificação taxonômica de patógenos emergentes do gênero Candida em águas de monitoramento ambiental.
Bolsista: MARINA GUIMARAES BITTENCOURT
Orientador(a): Manoel Marques Evangelista de Oliveira
Resumo: As infecções fúngicas, denominadas micoses, são causadas por fungos patogênicos. Entretanto a candidíase, uma das micoses mais incidentes e de maior importância médica, pode ser causada por agentes fúngicos da própria microbiota do ser humano. Embora Candida albicans ainda seja a principal espécie envolvida, o uso de agentes antifúngicos de forma inadequada ou indiscriminada, possibilitou o aumento de espécies como Candida tropicalis, Candida krusei e Candida glabrata. No ano de 2016, a Organização Mundial da Saúde acrescentou a essa lista a espécie Candida auris, com prevalência de mais de 90% de resistência ao fluconazol. Os sistemas automatizados de identificação usados na rotina de diagnóstico, podem realizar a identificação incorreta de isolados de C. auris, como outras espécies. Ferramentas essas não disponíveis na rotina de diagnóstico clínico e muito menos em laboratórios de monitoramento ambiental de águas. Justificando a criação em nosso Laboratório de um Serviço Sentinela e o desenvolvimento de um protocolo para o recebimento, screening e identificação por provas moleculares sequenciamento parcial da região ITS rDNA e MALDI-TOF MS para a identificação confiável dessas espécies emergentes do gênero Candida detectadas no monitoramento ambiental de águas, dos complexos lagunares. Nas coletas realizadas durante a primavera de 2022 (ARE-J/out; ARE- P/nov), e observou-se uma diferença significativa na quantidade de unidades formadoras de colônias (UFC) isoladas de cada lagoa. Na Lagoa de Jacarepaguá, foram quantificadas 44 UFC nos sete pontos de coleta (seis pontos + ponto controle), enquanto na Lagoa de Piratininga, em apenas um ponto de coleta, foram registradas aproximadamente 240 UFC.Resultados da bolsista anterior. Sucintamente, os resultados destacaram a diversidade de espécies do gênero Candida identificadas na Lagoa de Jacarepaguá. Das 44 UFC isoladas, foram identificadas cinco espécies distintas de leveduras: C. albicans (25%), C. krusei (25%), C. Parapsilosis (25%), C. glabrata (15%) e C. tropicalis (10%). As amostras de água já foram coletadas em lagoas situadas na área urbana da Cidade do Rio de Janeiro, Lagoa de Jacarepaguá e Lagoa da Tijuca incluídas no complexo lagunar da Baixada de Jacarepaguá obtidas no Verão, Inverno e Primavera. Sendo processadas a alíquotas da Primavera apenas pela bolsista anterior. No meu projeto vou realizar o processo das demais coletas, e finalizar a identificação taxonômica das espécies.
Padronização da técnica de LAMP como método de pré-amplificação em testes de Diagnóstico de SEPSE por CRISPR/Cas13
Bolsista: JORGE EDUARDO LORENZATO DA SILVA
Orientador(a): Lia Carolina A S Medeiros
Resumo: A sepse é uma condição médica grave que exige diagnóstico rápido para um tratamento eficaz, já que está associada a altas taxas de mortalidade. Os métodos tradicionais de detecção, como hemoculturas, são demorados, enquanto técnicas moleculares como a PCR, embora precisas, demandam infraestrutura complexa e têm custo elevado. Diante dessas limitações, o projeto inicialmente propôs o uso da técnica LAMP (amplificação isotérmica mediada por loop) como etapa de pré-amplificação em um teste diagnóstico baseado no sistema CRISPR-Cas13, visando detectar Staphylococcus aureus, um dos principais agentes causadores da sepse. Os alvos selecionados foram os genes recA (marcador espécie-específico) e mecA (associado à resistência à meticilina). No entanto, durante o desenvolvimento, foram identificados desafios técnicos com a LAMP, como amplificações inespecíficas e dificuldades de padronização, o que levou à substituição pela técnica RPA (amplificação mediada por recombinase), que se mostrou mais compatível com o sistema CRISPR-Cas13 por operar em temperaturas mais baixas e exigir um desenho de primers mais simples.O trabalho focou na padronização da RPA para amplificação dos genes recA e mecA. Foram desenhados primers específicos e realizadas reações de amplificação, seguidas de análise em gel de agarose. Nos primeiros ensaios, observou-se amplificação inespecífica, possivelmente devido a contaminantes ou a efeitos de primer noise. Após ajustes, como redução no tamanho dos primers e otimização das concentrações, foi possível obter bandas correspondentes aos fragmentos esperados para recA (179 bp, 195 bp e 216 bp). No entanto, para o gene mecA, os resultados foram menos consistentes, com amplificações inespecíficas predominantes, embora algumas combinações de primers tenham gerado bandas fracas do tamanho correto (187 bp e 200 bp).Apesar dos desafios, a RPA demonstrou potencial como método de pré-amplificação, e espera-se que a etapa subsequente com CRISPR-Cas13 aumente a especificidade do teste, eliminando falsos positivos. As próximas etapas incluem a purificação dos produtos amplificados, transcrição in vitro e validação do sistema CRISPR-Cas13 para detecção dos alvos. O desenvolvimento dessa metodologia pode contribuir para um diagnóstico mais rápido e preciso da sepse, especialmente em locais com recursos limitados, melhorando a resposta clínica e reduzindo a mortalidade associada à doença.
Identificação de novos hospedeiros de hantavírus e arenavírus na fauna brasileira
Bolsista: LUCAS OLIVEIRA DA SILVA
Orientador(a): JORLAN FERNANDES DE JESUS
Resumo: A distribuição geográfica de hantavírus e arenavírus se sobrepõe à de seus hospedeiros e está bem estabelecida para aqueles identificados em roedores, que são os agentes zoonóticos de importância para saúde humana. Nas últimas décadas, houve um aumento no número de relatos na literatura da detecção desses vírus em outros grupos de animais como quirópteros, musaranhos, toupeiras, lagomorfos, carrapatos, peixes e répteis, sendo necessária uma reorganização taxonômica das famílias Arenaviridae e Hantaviridae. Só no Brasil, entre os anos de 2020 e 2024, cinco espécies de quirópteros capturados no bioma Mata Atlântica e Amazônia foram identificadas como hospedeiros de hantavírus e arenavírus. Deste modo, em um país mega diverso como o Brasil, a análise de amostras de mamíferos, répteis e invertebrados pertencentes a fauna nativa passa a ser imprescindível para caracterização dos ciclos enzoóticos, obtenção de dados sobre a circulação e a diversidade de hospedeiros destes vírus. Assim, o objetivo desta proposta é identificar hantavírus e arenavírus em amostras de outros grupos de animais, que não os roedores, com ênfase em quirópteros e marsupiais. Serão utilizadas técnicas sorológicas e moleculares para identificação e caracterização destes vírus em amostras de animais vertebrados e invertebrados, coletados durante trabalhos multidisciplinares em diferentes localidades do Brasil, entre 2010 e 2024 e armazenados no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses, IOC/ Fiocruz. Além de preencher uma lacuna no conhecimento, a obtenção de dados inéditos sobre a circulação destes vírus em diferentes grupos animais, poderá subsidiar medidas para o diagnóstico e prevenção de doenças associadas as mais de 100 espécies de arenavírus e hantavírus descritas na literatura.
Estudo do efeito do composto investigacional JME-209 na inflamação pulmonar refratária ao tratamento com anti-inflamatório esteroidal
Bolsista: LUISA DE ALMEIDA GAZE
Orientador(a): Marco Aurelio Martins
Resumo: Doenças inflamatórias pulmonares a exemplo da asma e da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) são um grave problema de saúde pública mundial, com altas taxas de morbidade e mortalidade. Essas condições são marcadas pela inflamação crônica pulmonar que leva à obstrução e remodelamento das vias aéreas. A terapia farmacológica utilizada atualmente se baseia no uso de glicocorticoides associado a broncodilatadores. No entanto, alguns pacientes portadores de asma grave ou DPOC, apresentam resistência parcial ou total a esses medicamentos, tornando urgente a necessidade de novas terapias anti-inflamatórias eficazes e seguras. O Laboratório de Inflamação em conjunto com pesquisadores de Farmanguinhos (FIOCRUZ) planejou, sintetizou e avaliou o potencial terapêutico de análogos do anestésico local mexiletina, dentre quais se encontra o composto JME-209, que se destacou por sua atividade dual anti-inflamatória e broncodilatadora em estudos iniciais. O composto em tela faz parte de uma patente aprovada (EP 3031794,2019) para o tratamento da asma. O objetivo deste trabalho é avançar no entendimento do potencial anti-inflamatório e antiespasmódico do JME-209 em condições de inflamação pulmonar resistente aos glicocorticoides. Para tal, camundongos da linhagem A/J foram expostos ao LPS por três dias consecutivos e os tratamentos com o glicocorticoide de referência dexametasona ou JME-209 foram realizados 1 h antes de cada instilação. Após 24 horas da última instilação foram avaliados parâmetros que incluem a função pulmonar por pletismografia invasiva, o infiltrado inflamatório nas vias aéreas e o nível de marcadores de estresse oxidativo no tecido pulmonar. O tratamento oral com JME-209, especialmente em sua maior dose (3 mg/Kg), inibiu as alterações de mecânica pulmonar, o infiltrado inflamatório neutrofílico e o dano oxidativo induzidos pelas provocações repetidas de LPS em cenários onde o glicocorticoide dexametasona foi inativo. O conjunto de dados aqui apresentados demonstram o potencial anti-inflamatório e broncodilatador do análogo JME-209 em um modelo de inflamação pulmonar de difícil tratamento. Os dados reforçam que o composto em tela é um promissor candidato à terapia de doenças inflamatórias pulmonares, especialmente em contextos nos quais as terapias convencionais com glicocorticoides mostram-se insuficientes.
Avalia??o da antigenicidade de uma quimera recombinante multiest?gio potencialmente vacinal contra o Plasmodium falciparum em popula??es naturalmente expostas ? mal?ria da Amaz?nia Brasileira
Bolsista: VICTOR MAIA MARQUES RIBEIRO
Orientador(a): BARBARA DE OLIVEIRA BAPTISTA
Resumo: A malária permanece como uma das doenças parasitárias mais prevalentes no mundo. Estimativas apontam para a ocorrência de 263 milhões de casos de malária e de mais de 597 mil mortes por ano, sendo a maioria absoluta das mortes causada pelo Plasmodium falciparum. Apesar de o P. falciparum, principal causador dos casos graves e óbitos, ser proporcionalmente responsável por um número menor de casos, a infecção por esta espécie é preocupante no Brasil. O aumento significativo na incidência de malária por P. falciparum associado a descrição de isolados resistentes a derivados da artemisinina, evidenciam lacunas no controle da malária e o eminente risco do surgimento e introdução de resistência aos antimaláricos disponíveis. Assim, o desenvolvimento de uma vacina tem sido uma das principais estratégias de pesquisa para enfrentar esse problema. Atualmente apenas candidatos derivados da proteína pré-eritrocítica circumesporozoíta (CSP) se encontram em estágios avançados de desenvolvimento, objetivando possivelmente inibir a motilidade das formas infectantes iniciais (esporozítos), invasão aos hepatócitos e desenvolvimento intra-hepático. Entretanto, considerando o complexo ciclo de vida do P. falciparum e disponibilidade de diversos antígenos promissores provenientes de distintas formas evolutivas, torna-se necessária a busca de novos imunógenos efetivos, que forneçam proteção multiestágio, de ação não apenas no possível bloqueio da infecção, mas também na redução de sintomas e transmissão da doença. Nesse sentido, proteínas quiméricas recombinantes tem se tornado uma atraente abordagem vacinal. No presente trabalho, nos propomos avaliar o potencial antigênico de uma nova quimera recombinante multiestágio baseada em epítopos conservados e imunogênicos de linfócitos T e B de antígenos de P. falciparum, pelo reconhecimento de anticorpos presentes no plasma de indivíduos naturalmente expostos (infectados e não infectados) a malária residentes na região amazônica. O estudo foi realizado utilizando amostras de indivíduos de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul, no Acre, e Guajará, Amazonas. A pesquisa de anticorpos IgG e IgM contra a proteína quimérica multiestágio PfMSC foi realizada pela técnica de ELISA. Nossos dados mostraram que a proteína quimérica multiestágio PfMSC foi amplamente reconhecida por anticorpos naturalmente adquiridos de indivíduos residentes nas áreas de estudo, principalmente da classe IgG. Os níveis de anticorpos IgG que reconheciam a PfMSC estavam positivamente correlacionados a idade, tempo de residência em área endêmica e número de infecções anteriores de malária, indicando que os níveis de anticorpos IgG que reconhecem a PfMSC aumentam com a exposição ao parasito. Indivíduos infectados por P. falciparum apresentaram maiores níveis de anticorpos IgG e IgM que reconheciam a proteína PfMSC, esse dado pode ser devido a um reflexo da estimulação do sistema imune levando a um booster na produção de anticorpos antiplasmodiais, incluindo aqueles contra as proteínas que compõem a PfMSC. Em conclusão, nossos dados mostram que a proteína quimérica PfMSC é amplamente reconhecida por anticorpos naturalmente adquiridos de indivíduos residentes em áreas endêmicas brasileiras de malária e que esses anticorpos estão correlacionados a exposição ao parasito, evidenciando a importância da PfMSC como uma candidata a vacina multiestágio contra o P. falciparum.
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