Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Padronização de um protocolo simplificado de extração de DNA/RNA e qPCR portátil para auxílio no diagnóstico de hepatite D (delta) em situações point of care
Bolsista: NATASHA MIKAELA MENDES RAMOS
Orientador(a): Alexandre Dias Tavares Costa
Resumo: As hepatites são causadas por diferentes agentes biológicos. As hepatites virais (A, B, C, D e E) podem ser assintomáticas ou causar inflamações, falência, hepatocarcinoma e até morte. O objetivo deste projeto é padronizar um teste molecular (RT-qPCR) para detecção do vírus causador da hepatite D (delta) em ambientes sem infraestrutura laboratorial. Pretendemos usar reações já publicadas na literatura para padronizar a reação no equipamento portátil Q3-Plus. Neste passo, usaremos um plasmídeo contendo as sequências genômicas do alvo de interesse. Pretendemos também otimizar a extração de RNA a partir de papel de filtro FTA Micro Elute, que permitirá a realização do teste molecular completo direto no campo, desde a extração do RNA até a realização da qPCR. Os resultados atuais mostram que o plasmídeo que usaremos contém a região de interesse, e responde como esperado numa reação qPCR com sonda Taqman. Os próximos passos incluem a otimização da reação no equipamento portátil e avaliação com amostras pré caracterizadas. Esperamos desenvolver um teste molecular que possa ser levado a campo e assim fornecer o acesso à população destas regiões testes moleculares para triagem diagnóstica do vírus da hepatite D (delta).
Investigação dos vírus da hepatite A (HAV) e da hepatite E (HEV) em águas residuárias, matrizes ambientais e em potenciais hospedeiros animais
Bolsista: LUCAS XAVIER FLORENCO
Orientador(a): JAQUELINE MENDES DE OLIVEIRA
Resumo: Os vírus da hepatite A (HAV) e da hepatite E (HEV) causam infecções, geralmente autolimitadas, que afetam o fígado podendo causar alterações leves a graves. Em indivíduos imunossuprimidos, o HEV pode causar infecção persistente com progressão para hepatite E crônica. Ambos os vírus podem causar insuficiência hepatite aguda em portadores de hepatopatias crônicas. HAV e HEV são transmitidos primariamente pela via fecal-oral, mediante consumo de água ou alimentos contaminados. O monitoramento de vírus entéricos em matrizes aquáticas, tais como águas residuárias, subterrâneas e superficiais contaminadas por efluentes de esgoto não tratado, pode fornecer importantes dados epidemiológicos, principalmente para a prevenção de surtos de gastroenterites e hepatites. Além disso, a aplicação da EBAR no monitoramento do HAV, do HEV e de outros vírus de transmissão fecal-oral permite avaliar os impactos da transmissão na saúde humana e animal, além de fornecer dados para a gestão de riscos ambientais. O presente estudo teve como principal objetivo investigar a presença do HEV e monitorar a detecção do HAV em amostras de águas superficiais e residuárias coletadas em pontos potencialmente contaminados por efluentes de esgoto (de origem humana e/ou animal) não tratado. A concentração viral e a extração de ácidos nucleicos foram realizadas em uma só etapa, utilizando um método baseado na ligação a esferas magnéticas. Os alvos genômicos virais foram detectados por RT-qPCR utilizando oligonucleotídeos iniciadores e sondas de acordo com protocolos laboratoriais previamente estabelecidos. Resultados parciais demonstraram a detecção de HAV em 45% a 100% das amostras de águas residuárias e superficiais coletadas entre fevereiro de 2024 e março de 2025 no município do Rio de Janeiro. A alta taxa de detecção do HAV no ambiente pode estar relacionados com o aumento do número de casos de hepatite A notificados no Estado, sobretudo no município do Rio de Janeiro. Em 2024, o número de casos de hepatite A aumentou 229,2% em relação a 2022 113 casos em 2022, 181 em 2023 e 372 casos em 2024. No Estado do Rio de Janeiro foram notificados 148 casos de hepatite A em 2022, 230 em 2023 e 476 em 2024 (de acordo com os dados gerados até 01/04/2025 partir do Banco de Dados do SINAN). Nenhuma das amostras analisadas foi positiva para o HEV. Na segunda etapa do estudo a pesquisa do HEV será ampliada visando confirmar ou refutar a hipótese de circulação do HEV-3 zoonótico e/ou outras espécies de HEV entre prováveis hospedeiros animais habitando ambiente antropizado.
Memória Imune em Neutrófilos em Resposta à Infecção Plasmodial
Bolsista: ANA CLARA DA SILVA POEYS
Orientador(a): FLAVIA LIMA RIBEIRO GOMES
Resumo: Os neutrófilos são componentes-chave do sistema imune inato e representam a primeira linha de defesa do organismo, produzindo mediadores inflamatórios que amplificam a resposta pró-inflamatória e modelam o desenvolvimento da resposta imune adquirida. Neutrófilos capazes de produzir diferentes citocinas, quimiocinas e/ou expressar receptores do tipo Toll (TLRs) distintos foram observados em pacientes e modelos experimentais com tumores, infecções bacterianas e parasitárias. O desenvolvimento de memória imune inata tem sido descrito após infecções e vacinações, nas quais as células imunes inatas podem hiper-responder (treinamento) ou hipo-responder (tolerância) a um estímulo heterólogo subsequente. Estudos prévios em modelos murinos e humanos sugerem que a infecção causada por protozoários do gênero Plasmodium pode induzir tolerância imunológica a infecções secundárias. Assim, o objetivo deste projeto é investigar o desenvolvimento de memória pelos neutrófilos em resposta à infecção plasmodial. Até o momento, estabelecemos o modelo experimental de infecção em camundongos C57BL/6 com Plasmodium berghei ANKA, incluindo o monitoramento da parasitemia e dos sinais clínicos da doença. Observamos que os animais apresentaram redução da temperatura corporal entre o 5º e 6º dia pós-infecção (dpi), com agravamento clínico no 6º dpi, compatível com malária cerebral experimental (MCE). A parasitemia média observada foi de aproximadamente 3,5% no 5º dpi. O tratamento com cloroquina, iniciada no 5º dpi, foi eficaz, promovendo a resolução completa da parasitemia e a recuperação clínica dos animais. Além disso, padronizamos a metodologia de citometria de fluxo para a identificação precisa dos neutrófilos esplênicos (CD11bLy6GLy6Cint), garantindo a reprodutibilidade e robustez das análises. Na próxima etapa, os neutrófilos dos animais tratados e curados serão avaliados quanto à expressão de marcadores de ativação e supressão, produção de mediadores inflamatórios e microbicidas, bem como à resposta funcional frente a um estímulo secundário heterólogo, permitindo a caracterização do perfil de memória imune inata. Os protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Fiocruz.
Imunopatogênese da tuberculose ganglionar na associação HIV/TB: padronização de metodologia para ensaio citotóxico de células Tgd primárias e macrófagos da linhagem THP-1 infectados por Mycobacterium tuberculosis.
Bolsista: LETICIA DA SILVA REGO DE SANTANA
Orientador(a): CARMEM BEATRIZ WAGNER GIACOIA GRIPP
Resumo: A tuberculose (TB) persiste como um grave problema de saúde pública e acomete milhões de pessoas no mundo, incluindo o Brasil, e é a principal causa de morte em pessoas vivendo com HIV (PVHIV). A TB extrapulmonar consiste no acometimento de outros tecidos, sendo a manifestação ganglionar mais frequente em PVHIV. Apesar dos macrófagos alveolares residentes estarem presentes no mecanismo de defesa do Mtb, as células TGammadelta também estão envolvidas, em especial as células Vdelta2+, visto que essa subpopulação de linfócitos T previamente ativada se expande rapidamente logo após a infecção do Mtb, o que demonstra seu papel fundamental na contenção da TB. Em um estudo prévio do nosso grupo foi observado que a frequência de linfócitos TGammadelta circulantes estava aumentado em PVHIV com TB pulmonar, comparado àqueles com a manifestação ganglionar, sendo estas majoritariamente Vdelta2-, sugerindo seu envolvimento com a manutenção do Mtb ao sítio pulmonar. Tendo isso em vista, tem-se por hipótese que as células Vdelta1+, que estão expandidas na circulação, tenham função citotóxica reduzida em PVHIV com TB ganglionar, mas possam ser estimuladas e potencializadas in vitro, e melhor responderem ao Mtb. No presente estudo, pretende-se estabelecer uma metodologia adequada para o ensaio citotóxico de células TGammadelta Vdelta1+ primárias, que serão previamente expandidas e potencializadas in vitro, e estimuladas frente a macrófagos de linhagem THP-1 infectados por Mtb. Com esta finalidade, células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) criopreservadas de PVHIV com TB ganglionar e pulmonar, além de doadores sadios, serão consideradas. Os linfócitos TGammadelta serão isolados a partir das PBMCs estimulados in vitro por 14 a 18 dias, em presença do anticorpo OKT3 e um coquetel de citocinas, quando serão avaliadas quanto a sua plasticidade citotóxica e função frente aos macrófagos infectados por Mtb. Por fim, é esperado que este estudo possa desenvolver um ensaio citotóxico de células TGammadelta primárias, com o intuito de compreender e avaliar o envolvimento dessas células na resposta imune da TB em PVHIV, além da identificação de perfis importantes a estudos vacinais. Até o presente, várias etapas necessárias ao estabelecimento do ensaio foram concluídas ou encontram-se sob ajuste.
Investigação dos aspectos eco-epidemiológicos, geoespaciais e climáticos na dinâmica de dispersão da peste zoonótica e humana na Chapada do Araripe
Bolsista: Julia Gabriela Caldas Amancio
Orientador(a): MATHEUS FILGUEIRA BEZERRA
Resumo: A persistência da peste em regiões endêmicas está fortemente associada a condições ambientais como relevo, precipitação, vegetação e temperatura, em especial onde favorece a proliferação de vetores e hospedeiros. No Brasil, essas regiões são normalmente clima semiárido, onde prevalece a vegetação caatinga, entretanto não é o único bioma com foco natural, evidenciando a complexidade ecológica da doença. Utilizando sistemas de informação geográfica (SIG) este estuda visa avaliar como variações topográficas e pluviométricas influenciam a distribuição de casos de peste em áreas endêmicas do Brasil, através de série histórica de precipitação e dados de elevação (SRTM) que foram cruzados com registros epidemiológicos. Um dos desafios para vigilância epidemiológica brasileira é a necessidade de um direcionamento mais específico em áreas de risco, considerando a vasta extensão territorial e a diversidade de ecossistemas. Embora no país atualmente, não tenha-se registros de casos humanos, a doença permanece ativa em animais sentinela. Nossos achados revelam padrões em relação a variáveis ambientais como altitude derivadas de modelos digitais de elevação (MDE) onde encontra-se focos de peste. Índices pluviométricos originados do (CHIRPS) também apresentam relação aparente com padrões de positividade, mesmo que limitado a estrutura de outros fatores geoclimáticos. Como analisado anteriormente na região da Chapada do Araripe, a precipitação com atraso de um ano teve uma forte correlação com surtos enzoóticos, assim como as concavidades da chapada forneceram micro-habitat favorável para modular o efeito da peste no local. Sugerindo um mecanismo ecológico em cascata: chuvas intensas explosão populacional de roedores surtos no ano seguinte."Utilizamos um banco de dados abrangente que corresponde a uma longa série temporal de décadas, com cerca de 4.000 positivos, mapeamos nove estados brasileiros onde a bactéria, Yersinia pestis, esteve desde sua chegada em 1899, através do Porto de Santos. Essa extensa série temporal permite identificar tendências sazonais, ciclos epidêmicos e fatores ambientais associados à emergência e reemergência da doença. Espera-se com isso um avanço na saúde pública.
Streptococcus agalactiae e Candida spp. em espécimes clínicos de gestantes e neonatos no Rio de Janeiro: isolamento e identificação.
Bolsista: BRUNO FERNANDES BARBOSA
Orientador(a): Manoel Marques Evangelista de Oliveira
Resumo: Em 2019 foram registrados no município do Rio de Janeiro cerca de 13 óbitos a cada 1.000 dos nascidos vivos em menos de 7 dias pós-parto devido a doenças infecciosas. Apesar disso, ainda são escassos os estudos que buscam investigar a contaminação de patógenos emergentes através dessa transmissão vertical quando não associados a agentes infecciosos do grupo TORCH em exames pré-natal. Microrganismos como fungos do gênero Candida e bactérias como Estreptococos do Grupo B podem ser comumente encontrados na microbiota humana e possivelmente transmitidos a neonatos, ocasionando graves infecções associadas. Devido a escassez de investigações acerca desses agentes, este estudo visa identificar e caracterizar espécimes de Candida spp. e Streptococcus agalactiae isolados de amostras retovaginais de gestantes e secrecoes de nasofaringe e conjuntiva dos neonatos das gestantes atendidas na Maternidade Escola (ME) da UFRJ, bem como desenvolver um protocolo para identificação rápida dessas espécies, o que permitirá melhor direcionamento de medidas aprimoradas de controle e prevenção das infecções associadas a eles. Na primeira etapa do projeto obtivemos 56 isolados de leveduras e 40 isolados de bactérias, oriundos de 49 gestantes com faixa etária entre 13 e 43 anos. Desses isolados foram identificadas 49 leveduras como sendo do gênero Candida, majoritariamente da espécie Candida albicans, e outras sete dos gêneros Hanseniaspora (4), Trichosporon (2) e Rhodotorula (1). Ocorreram co-isolamentos de leveduras e bactérias em 32 gestantes, sendo apenas 13 co-isolamentos entre leveduras do gênero Candida e a espécie de bactéria Streptococcus agalactiae. Outras bactérias como Staphylococcus haemolyticus (22), Streptococcus anginosus (1), Staphylococcus epidermidis (1) e Globicatella sanguinis (1) também foram identificadas entre co-isolamentos com leveduras. Entretanto, estudos desse co-isolamento serão realizados nas próximas etapas do projeto.
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