Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Proteínas MSPDBL-1 E MSPDBL-2 de Plasmodium falciparum: estudo do perfil de resposta humoral, identificação de epítopos B imunodominantes e avaliação do papel funcional dos anticorpos em populações naturalmente expostas à malária da Amazônia Brasileira
Bolsista: JULIA GOULART RODRIGUES
Orientador(a): LILIAN ROSE PRATT RICCIO
Resumo: Introdução: A malária é a doença parasitária mais prevalente no mundo com, aproximadamente 600.000 mortes por ano, principalmente devido á infecção por P. falciparum. Nesse cenário, uma vacina eficaz tem potencial para reduzir drasticamente estas estatísticas. As proteínas MSPDBL-1 e MSPDBL-2 se ligam a proteína MSP-1 na superfície dos merozoítos, formando um complexo que facilita a invasão do P. falciparum. Estudos demonstram que anticorpos contra essas proteínas são capazes de inibir o crescimento do P. falciparum in vitro e estão associados à proteção clínica contra a malária, sugerindo um papel importante na imunidade antimalárica. Objetivo: Avaliar o perfil da resposta imune humoral contra as proteínas MSPDBL-1 e MSPDBL-2 de Plasmodium falciparum em populações naturalmente expostas à malária da Amazônia Brasileira. Metodologia: O estudo foi realizado utilizando amostras de indivíduos de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul, no Acre, e Guajará, Amazonas. A pesquisa de anticorpos IgG e subclasses contra as proteínas MSPDBL-1 e MSPDBL-2 foi realizada por ELISA. Para o mapeamento epitópico, anticorpos IgG contra peptídeos sintéticos da MSPDBL-1 (P1, P2 e P3) e MSPDBL-2 (P4, P5, P6, P7, P8 e P9), identificados utilizando o software BcPreds, foram avaliados por ELISA. Anticorpos específicos contra MSPDBL-1 e MSPDBL-2 foram purificados por cromatografia de afinidade e utilizados para reconhecimento da proteína nativa do parasito por microscopia confocal e em ensaios de fagocitose. Resultados: Nossos dados mostraram que as proteínas MSPDBL-1 e MSPDBL-2 são amplamente reconhecidas por anticorpos naturalmente adquiridos de indivíduos que vivem nas áreas estudadas, com predominância de anticorpos IgG citofílicos, um fato importante considerando que a aquisição de imunidade protetora antimalárica está associada a maior prevalência e níveis de anticorpos IgG1 e IgG3. Os epítopos imunodominantes na população estudada foram o P1 e P3 da MSPDBL-1 e P4 da MSPDBL-2. Anticorpos IgG purificados contra MSPDBL-1 e MSPDBL-2 reconheceram a proteína nativa de merozoítos da cepa D10 de P. falciparum e promoveram atividade opsonizante semelhante a encontrada em anticorpos IgG purificados de um pool de imunoglobulinas de adultos hiperimunes. Conclusão: As proteínas MSPDBL-1 e MSPDBL-2 são alvos de anticorpos naturalmente adquiridos de indivíduos de áreas brasileiras endémicas de malária e os anticorpos IgG purificados contra essas proteínas possuem uma forte atividade opsonizante.
Obtenção de anticorpos do tipo VHH aplicáveis na construção de imunossensores aplicáveis a detecção da p24 do vírus HTLV-1
Bolsista: NATHALYA ROCHA DURAM
Orientador(a): Soraya dos Santos Pereira
Resumo: O vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1 (HTLV-1) é um retrovírus com alta prevalência em determinadas regiões do Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde fatores como desigualdade no acesso à saúde e subnotificação agravam seu impacto. A infecção por HTLV-1 é frequentemente negligenciada, embora possa levar a condições graves como mielopatia associada ao HTLV e leucemia/linfoma de células T do adulto. A detecção precoce da infecção é crucial para controle epidemiológico, manejo clínico e prevenção de complicações. No entanto, os métodos diagnósticos atualmente disponíveis, como ELISA, Western blot e PCR, são caros, de difícil acesso e frequentemente dependem de kits importados. Além disso, apresentam limitações como resultados falso-positivos e dificuldades na confirmação dos casos. Diante desse contexto, o presente projeto visa desenvolver e otimizar ferramentas diagnósticas alternativas, acessíveis e de alta especificidade utilizando anticorpos de domínio único (VHHs), também conhecidos como nanocorpos, direcionados à proteína p24 do HTLV-1. Esses anticorpos apresentam vantagens como alta estabilidade térmica, baixo custo de produção em sistemas bacterianos e afinidade elevada pelo antígeno-alvo, tornando-se candidatos ideais para a construção de biossensores diagnósticos. Inicialmente, uma biblioteca de VHHs foi gerada a partir da imunização de Lama glama com a proteína recombinante p24 do HTLV-1. Clones específicos foram selecionados por Phage Display e testados por ELISA. Com o objetivo de expandir as possibilidades diagnósticas, o projeto buscou otimizar a expressão de novos clones denominados VHH-52, VHH-59, VHH-60 e VHH-63, inicialmente subclonados no vetor pET22b(+). Contudo, os ensaios de expressão realizados em Escherichia coli Rosetta gami revelaram que, embora houvesse expressão induzida por IPTG, os VHHs estavam presentes em corpos de inclusão, inviabilizando sua aplicação funcional. Para contornar esse problema, as sequências codificantes dos VHHs foram subclonadas no vetor pET28SUMO, com o objetivo de melhorar a solubilidade das proteínas recombinantes. A expressão e purificação foram padronizadas nas cepas de E. coli utilizando cromatografia de afinidade por coluna de cobalto (IMAC), com posterior diálise e quantificação das proteínas purificadas pelo Kit BCA Protein Assay. Dois clones, VHH-52 e VHH-59, foram selecionados para expressão com IPTG a 0,3 mM a 30°C, por períodos de 2, 4, 6 e 20 horas pós-indução. Ambos apresentaram expressão solúvel no novo sistema, e as eluições foram purificadas com sucesso. A imunorreatividade foi avaliada por ELISA indireto: o VHH-52 subclonado em pET28SUMO demonstrou maior absorbância comparado à versão expressa em pET22b(+), sugerindo melhora na funcionalidade. Por outro lado, o VHH-59 não apresentou reatividade significativa à proteína p24, indicando possível alteração na estrutura ou perda da capacidade de ligação ao antígeno após a subclonagem. Os resultados obtidos demonstram que a subclonagem para pET28SUMO melhorou a solubilidade e a resposta imunológica de pelo menos um dos clones testados, validando a estratégia como alternativa viável para expressão funcional. Ainda assim, são necessárias etapas adicionais de otimização para aprimorar a expressão e a estabilidade dos demais clones, além de avaliações complementares quanto à especificidade e sensibilidade dos VHHs em diferentes plataformas de detecção. A continuidade deste trabalho poderá contribuir significativamente para o desenvolvimento de um método diagnóstico nacional, de baixo custo e alta precisão para HTLV-1, impactando positivamente os programas de triagem e vigilância em saúde pública, sobretudo em regiões endêmicas e vulneráveis.
Uso de Contraceptivos por migrantes venezuelanas residentes no Brasil
Bolsista: VITOR NOGUEIRA DA GAMA COUTO
Orientador(a): MARIA DO CARMO LEAL
Resumo: ObjetivosDescrever o perfil de utilização de métodos contraceptivos por mulheres migrantes venezuelanas que residiam no Brasil. MétodosInquérito realizado em 2021 com mulheres venezuelanas entre 15 e 49 anos que residem em Manaus e Boa Vista. A amostragem utilizou o método Respondent Driven Sampling. Um total de 1871 tiveram relação sexual alguma vez e responderam sobre a utilização de métodos contraceptivos. Foram calculadas as prevalências considerando a complexidade amostral no software SPSS.ResultadosTrês em cada quatro mulheres tiveram relação sexual no último ano e a maioria (63%) não utilizou preservativo masculino nenhuma vez. As principais razões para não utilização foram confiar no parceiro (50%), usar outro método contraceptivo (15%) e não gosta de fazer sexo com preservativo masculino (11%).Na Venezuela 46% relataram usar algum método contraceptivo, sendo os mais usados a pílula (24%), seguido de injetáveis (19%) e preservativo masculino (19%), ligadura de trompas (14%) e DIU de Cobre (14%).No Brasil, 53% faziam uso de contracepção. Os contraceptivos injetáveis eram os mais usados (35%), seguido de preservativo masculino (21%), pílula (16%) e ligadura tubária (13%), DIU de Cobre (10%). As principais formas de obtenção destes métodos foram em serviços de saúde (50%) e comprado com recursos próprios (25%). ConclusõesApesar do pequeno aumento na prevalência de utilização de métodos contraceptivos pelas migrantes após chegarem ao Brasil, as venezuelanas usam menos métodos do que as brasileiras. O acesso ao planejamento reprodutivo pelas mulheres migrantes é um direito e precisa ser ampliado no SUS.
Síntese e aumento de escala de nitroimina derivada da Cânfora para a obtenção de substâncias potencialmente bioativas
Bolsista: THAIS GABRIELLY SOUZA DE OLIVEIRA
Orientador(a): MARCUS VINICIUS NORA DE SOUZA
Resumo: Esse projeto busca explorar a cânfora como matéria-prima natural para a obtenção de derivados com potencial atividade biológica, especialmente contra o Mycobacterium tuberculosis. A cânfora, um monoterpeno amplamente disponível, é reconhecida como um excelente building block para a síntese de compostos bioativos devido à sua estrutura rígida e funcionalizada. Neste contexto, o projeto foca na síntese e aumento de escala da nitroimina da cânfora, intermediário chave para a obtenção de uma diversidade de derivados. Inicialmente, foi realizada a síntese em escala de multigramas da oxima e da nitroimina da cânfora, seguida da obtenção do derivado imínico conhecido como Canfeceno. A partir do Canfeceno, foi realizada com sucesso a síntese de seu intermediário mesilato, obtido em alto rendimento (91%). Esse intermediário foi então empregado em reações de substituição nucleofílica (SN2), resultando na obtenção de sete derivados do tipo alquilamina, com rendimentos variando entre 38% e 60%. Além disso, o projeto incorporou a síntese de uma nova série de benzilidenos da cânfora por reação de condensação aldólica com benzaldeídos substituídos, resultando em 18 derivados, dos quais 11 são inéditos na literatura. Todos os compostos foram caracterizados por RMN de ¹H e ¹³C, espectrometria de massas e infravermelho. A avaliação biológica preliminar foi conduzida por meio do ensaio Alamar Blue(Marca Registrada) contra M. tuberculosis (H37Rv). Os derivados alquilaminas apresentaram baixa atividade, com MIC > 100 microg/mL. Por outro lado, entre os benzilidenos, os compostos com substituintes metoxi e etoxi nas posições para do anel aromático destacaram-se com MIC = 25 microg/mL, próximos ao valor do fármaco de referência Etambutol (MIC = 3,12 microg/mL). Os resultados obtidos reforçam a viabilidade da cânfora como núcleo bioativo e sua aplicabilidade no desenvolvimento de novos compostos com potencial farmacológico. A síntese eficiente dos intermediários em escala de multigramas, a diversidade estrutural gerada e os resultados preliminares de atividade biológica fornecem bases sólidas para a continuação do projeto. As próximas etapas incluem a síntese de novos derivados, otimização das condições reacionais e envio para ensaios biológicos, visando o desenvolvimento de candidatos a fármacos, especialmente para doenças negligenciadas como tuberculose, malária e leishmaniose.
Estudo epidemiológico comparativo das diferentes ondas da COVID-19 e o impacto das variantes de preocupação que circularam no Brasil durante a pandemia
Bolsista: BEATRIZ NASCIMENTO DE ARAUJO
Orientador(a): Erika Martins de Carvalho
Resumo: A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 23 de julho de 2022, declarou a varíola dos macacos como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), elevou seu nível de atenção e recomen¬dou a ampliação das capacidades de vigilância e de medidas de saúde pública para contenção de sua transmissão nos países. No Brasil, em 23 de maio de 2022, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) mobilizou sua Sala de Situação no sen¬tido de organizar e preparar o Sistema Único de Saúde (SUS) para o enfrentamento da doença. Com o avanço da MPX no país, em 29 de julho de 2022, a SVS/MS mobilizou o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública Nacional (COE-MPX) e este atuou de forma a organizar e coordenar a atuação do SUS em resposta à doen¬ça, fortalecer a vigilância e adotar medidas de prevenção e controle para a contenção da emer¬gência, nas três esferas de gestão do Sistema. Em 7 de junho de 2022, o primeiro caso de MPX foi confirmado no estado de São Paulo, e a vigilância de rotina, instituída em 12 de julho. Mediante o aumento do número de casos a Unidade de Apoio ao Diagnóstico foi acionada para apoiar no diagnóstico diferencial (monkeypox, varíola e herpes) utilizando RT-PCR como metodologia analítica. Foram analisadas em torno de 6mil amostras entre 01 de julho a 15 de novembro de 2022 de diferentes estados brasileiros sendo 77% das amostras oriundas da região nordeste. A taxa geral de positividade foi de 25,4% com predominância entre indivíduos do sexo masculino (88%) e adultos jovens nas faixas etárias de 18 a 39 anos. O estudo evidencia as discrepâncias na rede de testagem bem como a capacidade de apoio da Unidade.
Investigação de focos ativos de transmissão da esquistossomose utilizando DNA ambiental (eDNA)
Bolsista: Bento Silva Peçanha
Orientador(a): Sandra Grossi Gava
Resumo: Investigação de focos ativos de transmissão da esquistossomose utilizando DNA ambiental (eDNA)Grupo de Helmintologia e Malacologia MédicaBento Silva Peçanha, Isadora Rodrigues de Carvalho, Lângia Colli Montresor, Marina de Moraes Mourão, Roberta Lima Caldeira, Sandra Grossi GavaA esquistossomose é uma infecção parasitária causada por Schistosoma mansoni, transmitida através da água contaminada em locais onde há caramujos Biomphalaria. No Brasil, é um problema de saúde pública, principalmente em áreas com deficiências no saneamento básico. O controle da doença enfrenta desafios, como a dificuldade na identificação dos caramujos e na detecção do parasito, especialmente em estágios iniciais. A utilização de DNA ambiental (eDNA) surge como uma ferramenta promissora para monitorar a presença de S. mansoni em ambientes aquáticos, permitindo a detecção do parasito mesmo em locais com baixas endemicidade e cargas parasitárias. O subprojeto descrito visa testar esse método em diferentes localidades com variados níveis de endemicidade nos estados de Minas Gerais e Alagoas, focando na extração do DNA ambiental e na detecção de S. mansoni e fontes de contaminação fecal por qPCR. Assim, o objetivo é estabelecer uma abordagem de diagnóstico baseada em eDNA que possa ser aplicada para identificar focos com a presença de S. mansoni em coleções hidricas. Em Alagoas, as coletas hídricas foram realizadas por colaboradores em 61 coleções hídricas, divididas em três pontos de amostragem (Principal, Esquerdo e Direito), distantes 300 m entre si. Em cada ponto, a água foi coletada em triplicata (500 mL cada) e filtrada utilizando membranas Whatman GF/F 47 mm em um sistema de filtração a vácuo. Após a filtragem, 5 mL de etanol 95% foram adicionados para fixação do DNA, e as membranas foram secas, armazenadas em papel alumínio e congeladas a -20 °C. Foram obtidas 1721 membranas. A extração do eDNA seguiu o protocolo modificado do kit DNeasy Blood and Tissue (Qiagen). As membranas foram incubadas com tampão AL e proteinase K, centrifugadas e submetidas a lavagens com tampão TE e etanol. A eluição final foi feita com tampão AE, e o eDNA foi quantificado e armazenado a -20 °C e -80 °C. Nos pontos com alta carga de resíduos, múltiplas membranas foram usadas para uma mesma amostra. Para otimizar o processo de extração de eDNA, foram comparadas duas estratégias: (I) combinação das membranas no início da extração, processando-as em uma única coluna, e (II) extração individual das membranas, seguida da união das amostras na etapa final. A eficiência da extração foi avaliada via qPCR utilizando iniciadores para o gene Smcoi, para verificar a presença de DNA de S. mansoni, e para genes de bactérias indicadoras de contaminação fecal por mamíferos e específicas de humanos. Dois pontos foram utilizados para essa análise: RIO_CAN, MAR_EST. Os resultados indicaram que a extração individual das membranas resulta em amplificações mais consistentes. Dessa forma, o método de extração individual das membranas foi definido como ideal com base no rendimento e qualidade do DNA. Com os resultados obtidos, a utilização dessa metodologia se mostra promissora para o monitoramento e controle da doença. A abordagem otimizada de extração de eDNA demonstrou maior eficiência na obtenção de amostras de qualidade, o que pode contribuir significativamente para análises moleculares mais precisas. A aplicação desses métodos pode facilitar a implementação de investigações mais eficazes, permitindo um rastreamento mais detalhado tanto da presença do patógeno quanto das possíveis fontes de contaminação fecal. Essa abordagem auxiliará no desenvolvimento de estratégias para o controle e, potencialmente, a erradicação da doença.Apoio: Fiocruz Minas (Apoio à Pesquisa Jovem Talento), FAPEMIGPalavras-chave: Schistosoma mansoni, DNA ambiental (eDNA), epidemiologia, biologia molecular
Página 52 de 68 páginas.