Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Triagem de Quimiotecas por Thermal Shift Assay para descoberta de novos inibidores da enzima Tioredoxina Glutationa Redutase de Schistosoma mansoni
Bolsista: LAIS INACIO GILS
Orientador(a): FLORIANO PAES SILVA JUNIOR
Resumo: A esquistossomose é uma doença tropical negligenciada causada por trematódeos do gênero Schistosoma, que afeta mais de 200 milhões de pessoas em regiões tropicais e subtropicais. O tratamento atual depende quase exclusivamente do praziquantel, o que ressalta a necessidade urgente de identificar novos alvos terapêuticos e compostos bioativos. A enzima tiorredoxina glutationa redutase de Schistosoma mansoni (SmTGR) é essencial para a manutenção do balanço redox no parasita, sendo considerada um alvo promissor para o desenvolvimento de novos antiparasitários. O objetivo principal desse trabalho foi realizar a triagem de 640 compostos fornecidos pela Medicines for Malaria Venture (MMV) e validar os inibidores por Thermal Shift Assay (TSA). Este relatório parcial apresenta a estratégia de produção da enzima alvo e resultados da triagem realizada por ensaio da atividade enzimática com o substrato DTNB. A expressão heteróloga da SmTGR em Escherichia coli foi seguida da purificação por cromatografia de afinidade por íons metálicos imobilizados (IMAC), utilizando coluna HisTrap, e subsequente cromatografia por exclusão de tamanho (SEC). O protocolo resultou em proteína recombinante de alta pureza, conforme demonstrado por SDS-PAGE e análise espectrofotométrica. Com a enzima ativa em mãos, foram realizados ensaios bioquímicos com bibliotecas de compostos da MM), com foco nos subconjuntos GHPB e PRB. Os testes de inibição enzimática foram conduzidos em microplacas, e os compostos foram ranqueados de acordo com seus percentuais de inibição. Compostos dos subconjuntos MB2 (ex.: 3641, 49 e 66) e PRB E (ex.: 22, 26, 42, 47 e 67) apresentaram inibição superior a 50%, sendo priorizados para estudos de IC. Outros compostos dos subconjuntos ZND e VEC também demonstraram atividade moderada (3040%). A análise estatística dos dados foi realizada por meio de ANOVA seguida do pós-teste de Dunnett, permitindo identificar compostos com inibição estatisticamente significativa em relação ao controle. A consistência entre as replicatas foi confirmada por coeficientes de variação (CV) inferiores a 10% na maioria dos casos, o que reforça a confiabilidade dos dados obtidos. O composto 33 foi o único a apresentar CV superior a 10%, apesar da aparente atividade inibitória. Os resultados apresentados estabelecem uma base sólida para a seleção racional de compostos candidatos à caracterização cinética detalhada, incluindo a determinação de parâmetros como IC e o tipo de inibição, contribuindo assim para o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas contra a esquistossomose.
Caracterização do alvo antigênico rHDVAg visando a sua aplicação na detecção da Infecção causada pelo Vírus da Hepatite Delta (HDV)
Bolsista: WESLIANE DA CUNHA RODRIGUES
Orientador(a): Soraya dos Santos Pereira
Resumo: O vírus Oropouche (OROV), pertencente ao gênero Orthobunyavirus e à família Bunyaviridae. A infecção por OROV, conhecida como febre Oropouche, manifesta-se clinicamente por sintomas semelhantes aos de outras arboviroses, como febre, cefaleia, mialgia, artralgia, dor retro-orbital e exantema. Essa sobreposição de sintomas com doenças como dengue, Zika e chikungunya dificulta o diagnóstico clínico preciso. No Brasil, o aumento expressivo de casos tem gerado crescente preocupação. Diante desse cenário, o Oropouche é atualmente classificado como doença de notificação compulsória e imediata, de acordo com o Ministério da Saúde. Apesar da relevância epidemiológica, os métodos laboratoriais convencionais para detecção do OROV, como ELISA e PCR, apresentam limitações, sobretudo em regiões com infraestrutura laboratorial deficiente. A coleta de amostras em fases iniciais da infecção, bem como a especificidade cruzada com outras arboviroses, comprometem a eficácia diagnóstica. Nesse contexto, o desenvolvimento de métodos diagnósticos alternativos, mais acessíveis, sensíveis e específicos, torna-se essencial. Neste projeto, foi investigada a expressão do antígeno recombinante OROV-NPqr, derivado da proteína do nucleocapsídeo, em diferentes cepas de Escherichia coli cultivadas a 15°C. Os ensaios revelaram que a proteína foi expressa majoritariamente em forma de corpos de inclusão, indicando dificuldades na obtenção da proteína em estado solúvel. A continuação desse estudo exige a realização de metodologias para otimizar a expressão solúvel do antígeno OROV-NPqr, com o objetivo de viabilizar sua aplicação em ensaios imunodiagnósticos. A expectativa é que a obtenção de uma versão funcional e imunorreativa da proteína N do OROV contribua para o desenvolvimento de um teste diagnóstico mais eficaz e acessível, com impacto direto na detecção precoce e controle da doença.
Construção de proteínas fluorescente carreando proteínas recombinantes de P. vivax para o estudo da memória imunológica de longa duração
Bolsista: Laís Fernandes Silva Maia
Orientador(a): FLORA SATIKO KANO
Resumo: No início das atividades no laboratório, um treinamento de todas as etapas relacionadas aos experimentos sobre à resposta de células T e B já estavam em andamento. Como os experimentos que requerem treinamento prévio, inicialmente minhas atividades no laboratório requereu o treinamento pela complexidade dos experimentos da avaliação da resposta imune celular no período de setembro a dezembro de 2024. Neste período, recebi treinamento da minha coorientadora Dra. Maria Fernanda Alves do Nascimento. Mais especificamente, realizei (i) isolamento de PBMC a partir de sangue total de indivíduos controle negativo proveniente de área não endêmica; (ii) congelamento de PBMC; (iii) cultura de PBMC sob estímulo com proteínas de P. vivax. Esta ultima etapa envolveu: descongelamento de PBMC, contagem celular, cálculo do numero de células e da quantidade das proteínas recombinantes de P. vivax como estímulos na cultura de PBMC; (iv) marcação das PBMCs estimuladas com o painel de anticorpos para identificação de LT e LB; (v) imunofenotipagem de subpopulações de células B; (vi) treinamento em análise dos dados utilizando o programa FlowJo; (vii) construção de figuras e análises estatísticas utilizando o o programa Prism 9.5. A partir de fevereiro de 2025, após a obtenção do plasmídeo contendo o gene para MSP1-19 de P. vivax, iniciei a otimização da expressão piloto da PvMSP1-19 em nosso grupo de pesquisa para uso na construção do SpyCage-MSP1-19.
Diagnóstico de situação das infecções causadas por membros da família Arenaviridae em animais silvestres do Brasil
Bolsista: RAQUEL ALVES MARQUES PRALON
Orientador(a): RENATA CARVALHO DE OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS
Resumo: Os arenavírus, agentes infecciosos emergentes, representam um desafio significativo para a saúde pública e a economia global. Membros da família Arenaviridae, os arenavírus compreendem uma diversidade de 70 espécies, divididas em cinco gêneros distintos. Estes vírus são encontrados em diversos hospedeiros como roedores, morcegos e serpentes, e apresentam genomas constituídos por RNA de fita simples, com diferentes tamanhos e estratégias de codificação gênica. Os arenavírus estão implicados em uma variedade de doenças, tanto em humanos quanto em animais, desempenhando um papel importante na saúde animal, como evidenciado pela hepatite em primatas não humanos e a doença do corpúsculo de inclusão nas serpentes. Com a crescente compreensão da diversidade desses vírus e suas implicações na saúde pública e animal, torna-se crucial realizar estudos para identificar sua circulação em diferentes grupos de animais. Nesse cenário, o presente projeto possui como objetivo avaliar a circulação dos arenavírus em populações de animais silvestres, através da coleta e análise de amostras de serpentes, roedores e primatas não humanos, residentes em instalações do estado do Rio de Janeiro, com destaque para as espécies de maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de doenças. As amostras de soro e sangue dos animais foram analisadas através da técnica ELISA, pela pesquisa de anticorpos da classe IgG anti-arenavírus; amostras de soro, sangue, swab e/ou tecido pela técnica de RT-PCR, estão em andamento para detecção e, posterior caracterização genética dos arenavírus. Até o momento, todos os resultados foram negativos, demonstrando a ausência de infecção por arenavírus em primatas não humanos e roedores, e reptarenavírus em serpentes mantidas em cativeiro na população estudada. Novas análises estão em andamento para elucidar a circulação e frequência dos arenavírus nestes diferentes grupos animais.
Modulação da ativação microglial em modelo in vitro de acidente vascular cerebral hemorrágico utilizando o Beta-hidroxibutirato
Bolsista: LARISSA CARVALHINHA VARANDA PEREIRA
Orientador(a): FERNANDO AUGUSTO BOZZA
Resumo: O Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCh) origina-se da ruptura de um vaso sanguíneo do cérebro, podendo ocorrer no parênquima cerebral (hemorragia intracerebral) ou na porção entre o parênquima e a aracnóide (hemorragia subaracnóide) e apresenta alta taxa de mortalidade, além de ocasionar uma série de sequelas cognitivas nos pacientes que sobrevivem. Quando ocorre a hemorragia, há um dano na citoarquitetura do cérebro e um aumento da pressão intracerebral, causando o dano primário. O dano secundário é resultado do extravasamento de sangue que gera resposta inflamatória e estresse oxidativo. A ruptura das hemácias libera hemoglobina e seu produto de degradação heme (ou hemina, a forma oxidada de heme) que desencadeiam vias de inflamação e morte celular. Nesse processo, destaca-se o papel da microglia, célula do sistema imunológico residente no sistema nervoso central. A modulação do perfil da microglia aparece como alternativa terapêutica para reduzir os danos. No presente projeto, essa modulação é feita através da utilização do corpo cetônico Beta-hidroxibutirato (BHB) como fonte de energia alternativa para a microglia. Existem evidências que BHB possa ter um papel anti-inflamatório em outros modelos de neuroinflamação. Neste projeto, estabelecemos um modelo in vitro de AVCh por meio da exposição de células microgliais BV2 ao heme, com o objetivo de avaliar a produção de citocinas inflamatórias. Observamos o aumento na liberação de TNF-a, IL-1b e IL-6 na presença do estímulo. Em seguida, as células da linhagem microglial BV2 serão estimuladas com heme na presença de glicose e na presença BHB. Avaliaremos viabilidade celular, estresse oxidativo e perfil de citocinas inflamatórias nas duas condições experimentais, além da morfologia das células. A hipótese é que o BHB reduza o perfil inflamatório das células, contribuindo para um ambiente neuroprotetor após AVCh. A modulação da ativação microglial através de fontes alternativas de energia pode trazer novas abordagens para o tratamento de pacientes acometidos pelo AVCh.
Avaliação de novos antígenos recombinantes para potencial uso como parte de proteínas quiméricas aplicáveis ao diagnóstico e monitoramento da leishmaniose visceral
Bolsista: THAMIRES FELIX DOS SANTOS
Orientador(a): Osvaldo Pompilio de Melo Neto
Resumo: Espécies de Leishmania são protozoários responsáveis pela leishmaniose, uma doença negligenciada que afeta cerca de 12 milhões de pessoas e ameaça aproximadamente 350 milhões em todo o mundo. Com manifestações clínicas que variam de lesões cutâneas à forma mais grave, a leishmaniose visceral (LV), a enfermidade acomete tanto humanos quanto outros mamíferos, especialmente cães considerados os principais reservatórios. Os métodos diagnósticos atualmente disponíveis para LV, como PCR e ELISA, embora eficientes, são frequentemente caros, trabalhosos e requerem infraestrutura laboratorial sofisticada, o que dificulta sua aplicação em áreas endêmicas, além de possuírem tecnologias importadas o que encarece o acesso a esses métodos pelo SUS. Diante desse cenário, o desenvolvimento de testes diagnósticos mais acessíveis, eficazes e de produção nacional torna-se essencial para ampliar o acesso ao diagnóstico, otimizar a vigilância e o controle da doença. Resultados anteriores demonstraram o potencial antigênico de proteínas denominadas Lcis frente a soros de cães e humanos com LV, com alguns desses antígenos utilizados na construção de proteínas quiméricas com desempenho superior ao teste diagnóstico padrão da LV. Contudo, dois antígenos originais (Lci6 e Lci8) não foram plenamente avaliados devido a dificuldades na expressão bacteriana, sendo agora retomados como potenciais alternativas diagnósticas ou componentes para o desenvolvimento de novas quimeras. Este projeto tem como objetivo avaliar a eficiência diagnóstica de antígenos previamente identificados pelo grupo em testes sorológicos de ELISA, voltados tanto para a leishmaniose visceral canina (LVC) quanto para a humana (LVH). Os antígenos Lci6 e Lci8 foram analisados in silico quanto ao seu potencial imunogênico. Devido ao seu tamanho, a Lci6 foi dividida em três fragmentos (NT, Meio e CT), concentrando regiões com epítopos preditos, enquanto a Lci8 foi truncada, otimizada e sintetizada quimicamente. Os genes foram clonados no vetor pET21a e submetidos à expressão em E. coli, com otimização de condições como temperatura, tempo de indução e solubilidade em ureia. As proteínas foram então produzidas em larga escala e purificadas. As proteínas purificadas estão sendo utilizadas na padronização de um ELISA indireto, empregando soros bem caracterizados de LV canina e humana, além de soros de indivíduos saudáveis provenientes de áreas endêmicas, todos obtidos do banco de soros do Instituto Aggeu Magalhães, com aprovação ética (CEUA/UPE nº 03/2020 e CAEE 85503724.9.0000.5190). O ponto de corte (cut-off) será determinado pela média das leituras dos controles negativos somada a duas vezes o desvio-padrão. Parâmetros como sensibilidade, especificidade, valores preditivos positivo e negativo, além dos intervalos de confiança, serão calculados utilizando o software MedCalc (versão 12.3). Os gráficos dos resultados serão elaborados com o GraphPad Prism (versão 6.00) e o MedCalc. Espera-se que esta etapa inicial contribua significativamente para o aprimoramento do diagnóstico da leishmaniose visceral no Brasil, promovendo testes mais sensíveis, acessíveis e adaptados às condições locais. Adicionalmente, os resultados obtidos devem impulsionar o desenvolvimento da biotecnologia nacional, fortalecendo a autonomia científica do país na área de diagnósticos.
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