Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Iscas açucaradas tóxicas baseadas em óleos essenciais encapsulados em leveduras no mosquito Aedes aegypti
Bolsista: DANIELLE LOPES DUBOIS
Orientador(a): FERNANDO ARIEL GENTA
Resumo: O projeto investigou o uso de óleos essenciais encapsulados em levedura (OEELs) como componente de iscas açucaradas tóxicas atrativas (ATSBs) para o controle do mosquito Aedes aegypti. A iniciativa se baseia em alternativas sustentáveis aos inseticidas sintéticos, visando mitigar a resistência e reduzir impactos ambientais. As ATSBs exploram o comportamento natural dos mosquitos em buscar açúcares, sendo uma estratégia promissora de controle vetorial.Os OEELs foram preparados em parceria com a Universidade do Novo México, incluindo óleo essencial de laranja (OELE) e dois outros em sigilo. Foram realizados ensaios com larvas e adultos de Aedes aegypti para avaliar a ingestão, palatabilidade e toxicidade dos compostos. Métodos incluíram dissecções do trato digestivo, contagem de partículas em câmaras de Neubauer, uso de corantes alimentícios (verde e laranja) e análise por espectrofotometria.Nas larvas, os OEELs demonstraram alta atratividade e ingestão, especialmente o OELE, com maior ingestão em todas as concentrações testadas (20 a 200 mg/L). A ingestão aumentou com o tempo de exposição, sendo 15 minutos o tempo de pico. Nos adultos, testes confirmaram que ambos os sexos ingerem corantes e OEELs, com fêmeas apresentando maior volume ingerido, possivelmente devido à maior demanda energética.A curva padrão de absorbância dos corantes validou a metodologia de quantificação. Ensaios de palatabilidade mostraram que concentrações de 10% e 20% dos corantes foram mais aceitas pelos mosquitos. A cinética de ingestão indicou que 6 horas de exposição resultaram em mais de 80% de indivíduos alimentados, sendo esse o tempo ideal para aplicação de ATSBs.Entre os OEELs, o OELE apresentou os melhores resultados em volume ingerido e percentual de indivíduos alimentados. O OEE2 demonstrou maior sensibilidade entre os machos, com redução na ingestão em concentrações mais altas. Já o OEE3 manteve alta aceitação, especialmente entre as fêmeas, com menor variação no volume ingerido.As análises sugerem que os OEELs são eficazes para aplicação oral em mosquitos, apresentando boa palatabilidade e atratividade, com destaque para o OELE. O projeto alcançou todos os objetivos propostos, incluindo a criação e manutenção de colônia de A. aegypti, padronização de ensaios de ingestão, quantificação por espectrofotometria e avaliação da toxicidade dos OEELs.Como perspectivas futuras, estão previstos testes de mortalidade com ATSBs, análises estatísticas complementares, ensaios enzimáticos e testes de repelência, visando ampliar a aplicabilidade dos OEELs no controle vetorial. Além disso, a autora participou de eventos científicos, reuniões laboratoriais e capacitações, contribuindo para sua formação acadêmica e profissional.
Influência do grau de imunosenescência de linfócitos T estimulados com antígenos parasitários nos diferentes desfechos clínicos de pacientes com leishmaniose visceral.
Bolsista: MANUELA DE CASTRO GONCALVES
Orientador(a): MARIA LUCIANA SILVA DE FREITAS
Resumo: A leishmaniose visceral (LV) é uma doença sistêmica e potencialmente fatal quando não tratada. Nas Américas, o Brasil tem destaque epidemiológico por contribuir com 94% dos casos registrados no continente. Segundo o Ministério da Saúde, desde 2022 foram registrados 3627 novos casos de LV no país. A imunopatogênese da LV ativa é caracterizada por uma imunossupressão específica em paralelo a uma ativação imune sistêmica que pode contribuir para o comprometimento da resposta efetora específica ao parasito, impactando na evolução clínica dos pacientes. Isso está atrelado, principalmente, ao fato de o grau de ativação imune contribuir para a aceleração da imunosenescência que, por sua vez, resulta em um acúmulo de células T terminalmente diferenciadas incapazes de controlar o parasito. Esse cenário vem sendo desafiado pelo aumento no número de recidivas da doença, especialmente entre os pacientes não-coinfectados pelo HIV. Embora a literatura a respeito de fatores envolvidos com a evolução para LV grave seja extensa, pouco se sabe sobre os parâmetros laboratoriais e imunológicos subjacentes às recidivas da doença. Por isso, nosso objetivo foi avaliar a funcionalidade dos linfócitos T in vitro frente aos antígenos de Leishmania infantum nos diferentes desfechos clínicos da LV. Até o momento, 13 pacientes com LV foram avaliados da fase ativa até 12 meses pós-tratamento (mpt), agrupados em R (recidivantes) e NR (não-recidivantes). 13 sadios endêmicos ou não foram incluídos como controles negativos. Os PBMCs foram descongelados e estimulados por 72h com os antígenos de L. infantum ou Concanavalina A (ConA) ou na ausência de estímulo (BG). Após, os PBMCs foram avaliados imunofenotipicamente por citometria de fluxo quanto aos diferentes perfis de diferenciação linfocitária, senescência e exaustão celular, bem como capacidade proliferativa e produção intracelular de IFN-Gamma. Previamente, os pacientes R mantiveram baixas contagens dessa subpopulação após o tratamento, enquanto os NR reverteram estes parâmetros a valores próximos aos sadios, o que pode indicar que o prejuízo na reconstituição imunológica dos pacientes com LV pode estar associado à ocorrência de recidivas. Quanto às avaliações in vitro, até o momento não foi possível observar diferenças significativas nos percentuais de células naives, memória central e memória efetora entre os grupos avaliados. Apesar disso, observou-se um aumento expressivo nos percentuais de células TEMRA na fase ativa do grupo R comparado aos sadios. Na exaustão celular, observou-se maiores níveis de expressão de PD-1 frente ao estímulo parasitário nos pacientes LV comparados aos sadios, especialmente no grupo NR. Por outro lado, observou-se um aumento nos percentuais de células T senescentes frente ao estímulo aos 6mpt do grupo R comparado aos sadios. Quanto à capacidade proliferativa, observou-se um discreto aumento dos percentuais de linfócitos T BrdU+ (em proliferação) aos 12mpt dos NR frente ao estímulo, o que não foi observado nos -R, podendo indicar uma possível melhora na capacidade efetora dos pacientes LV-NR. Em relação à produção de IFN-Gamma, ambos NR e R mostraram níveis de expressão elevados frente ao ConA, mas em menor intensidade comparados aos sadios. Por outro lado, observou-se maiores níveis de expressão de IFN-Gamma em células TCD4+ frente ao estímulo parasitário nos LV-NR comparados aos sadios. No grupo -R, esse aumento foi observado apenas no pós-tratamento, com uma leve supressão aos 12mpt comparado aos sadios. Estes resultados podem sugerir uma possível deficiência na capacidade responsiva específica à L. infantum em pacientes LV-R. Embora as limitações enfrentadas no desenvolvimento do projeto tenham prejudicado o número de pacientes avaliados até o momento e, consequentemente, o poder estatístico dos dados, tais resultados parciais sugerem a impacto da resposta imune efetora específica, possivelmente comprometida, sobre o controle parasitário e evolução clínica de pacientes com LV.
Modulação da extrusão não-lítica pelas vesículas secretadas por diferentes isolados do Cryptococcus neoformans obtidas da cultura em diferentes fontes nutricionais
Bolsista: BIANCA ALVES DANTAS
Orientador(a): Anamélia Lorenzetti Bocca
Resumo: O Cryptococcus neoformans é um fungo patogênico para humanos que promove odesenvolvimento de doenças graves em hospedeiros imunocomprometidos, especialmenteem pacientes acometidos pelo HIV. Alguns dos mecanismos do processo de infecção de macrófagos por Cryptococcus neoformans são muito bem conhecidos e descritos, porém, a exocitose não-lítica é um processo que ainda não foi totalmente elucidado. Este subprojeto tem como objetivo a investigação dos processos de modulação da exocitose não-lítica do Cryptococcusneoformans em macrófagos. Até o momento os ensaios de cultura e co-cultura dos fungos com os macrófagos foram padronizados e a citometria de fluxo está em fase final de padroização. Os ensaios confirmam a ocorrência da extrusão não-lítica do fungo, porém, sem diferença significativa entre 2h e 24h pós-infecção, o que exige a realização de novos experimentos para confirmação dos resultados. Apesar dos desafios técnicos, novas estratégias já foram delineadas para alcançar os objetivos traçados.
Avaliação do comprometimento da funcionalidade dos linfócitos T frente aos antígenos parasitários em pacientes coinfectados com leishmaniose visceral e HIV-1 com diferentes desfechos clínicos
Bolsista: GIOVANA COZENDEY SILVA DOS SANTOS
Orientador(a): JOANNA REIS SANTOS DE OLIVEIRA
Resumo: A maioria dos casos de coinfecção Leishmania/HIV nas Américas ocorre no Brasil, onde a leishmaniose visceral (LV) aparece como a forma prevalente no que se refere à coinfecção com o HIV-1 (LV/HIV). A infecção pelo HIV-1 e pela Leishmania infantum são caracterizadas por uma intensa imunossupressão e ativação celular crônica. Estudos anteriores de nosso grupo já demonstraram que a leishmaniose é um cofator para o aumento do grau de ativação em pacientes coinfectados com HIV, apesar da terapia antiretroviral (TARV) e anti-Leishmania. Essa intensa ativação imune pode afetar a função efetora dos linfócitos T quantitativamente e funcionalmente, o que pode contribuir para as frequentes recidivas da LV em pacientes infectados pelo HIV. De fato, nosso grupo verificou previamente que pacientes LV/HIV recidivantes apresentaram percentuais elevados de células TCD4+ e TCD8+ ativadas até 12 meses pós-tratamento anti-Leishmania, diferente do perfil observado nos não-recidivantes. Considerando que em consequência do status imune ativado verifica-se uma aceleração da imunosenescência, caracterizada por uma exaustão dos recursos imunes primários e aumento da expressão de moléculas inibitórias, hipotetiza-se que esses fenômenos possam estar potencializados na coinfecção LV/HIV e relacionados com o comprometimento da funcionalidade dos linfócitos T nesses pacientes. Nesse contexto, nosso objetivo foi avaliar se o perfil fenotípico e funcional dos linfócitos T de pacientes coinfectados LV/HIV, em termos de senescência e exaustão imune, além da capacidade proliferativa (incorporação de BrdU) e de produção de IFN-y frente aos antígenos parasitários tem relação com a ocorrência de recidivas de LV. Para isso, 20 pacientes LV/HIV recrutados do Hospital Eduardo de Menezes (BH-MG) foram avaliados durante a fase ativa e após o tratamento anti-Leishmania, sendo divididos em recidivantes (R-LV/HIV, n=10) e não-recidivantes (NR-LV/HIV, n=10). A partir de amostras do sangue periférico, foram realizadas as contagens absolutas de linfócitos TCD4+ e TCD8+ e a caracterização fenotípica e funcional in vitro dos linfócitos T frente aos antígenos de L. infantum (Ag-Li) por citometria de fluxo. As informações clínicas foram avaliadas através dos prontuários e mostraram que os pacientes LV/HIV não diferiram no que se refere à idade e tempo de diagnóstico do HIV; dois fatores que podem influenciar a avaliação da senescência. Foi possível observar um aumento nos valores de linfócitos T CD4+ logo após o tratamento em relação à fase ativa da LV no grupo R, embora esse ganho não tenha evitado as recidivas da LV. Apesar disso, tais valores foram menores que os monoinfectados com HIV e indivíduos sadios (p<0,05). O próximo passo foi o descongelamento das células mononucleares dos pacientes coinfectados LV/HIV (n=10) para estimulação frente ao mitógeno e aos antígenos de L. infantum. Tal etapa foi anteriormente padronizada com as células de pacientes apenas com LV e indivíduos sadios. Além da cultura in vitro, foi padronizada uma estratégia de análise desses dados de citometria em software apropriado. De forma preliminar foi possível observar proliferação nas subpopulações de linfócitos T frente ao mitógeno, tanto em pacientes LV/HIV quanto nos sadios. Em relação ao estímulo parasitário, observou-se que os percentuais de células dos pacientes coinfectados que proliferaram foram mais discretos quando comparados aos poços sem estímulo (BG), informando de forma preliminar que esses pacientes não conseguem responder frente ao estímulo específico. Entretanto, esses resultados ainda serão complementados com as amostras dos demais pacientes, com a produção de IFN-Gamma e correlacionados aos resultados de senescência, exaustão, contagens de linfócitos TCD4+, carga viral e carga parasitária. Este estudo ajudará a entender se a senescência e suas consequências estão influenciando negativamente a resposta imune efetora em pacientes coinfectados com diferentes desfechos clínicos da doença.
Avaliação do Programa Piloto para o controle integrado de mosquitos na Fiocruz Pernambuco, com ênfase no uso de Iscas Tóxicas de Açúcar
Bolsista: MARIA DA GRACA CAMPOS PEDROSA
Orientador(a): Maria Alice Varjal de Melo Santos
Resumo: O cenário epidemiológico das arboviroses no Brasil tem se agravado bastante devido a cocirculação dos vírus Dengue, Zika e Chikungunya na maioria dos seus municípios. A redução da incidência destas arboviroses continua dependente da efetividade do controle dos mosquitos vetores, especialmente Aedes aegypti. Esta espécie está adaptada as condições ambientais e climáticas do país e tem ao seu favor comportamentos de oviposição e de sobrevivência a condições adversas, dificultando a eliminação dos seus criadouros. Tais criadouros estão presentes, em sua maioria, nas áreas peridomiciliares dos imóveis residenciais, comerciais e até mesmo em unidades de saúde (US). Investigações em prédios públicos, como o Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz Pernambuco, são escassas, embora estes ambientes possam se mostrar densamente infestados não apenas por Ae. aegypti, mas também por outras espécies de mosquitos. Em muitas situações as ações para o controle de mosquitos são realizadas por empresas do setor privado, voltadas ao controle de pragas urbanas. Neste sentido, o uso de inseticidas químicos por aplicação perifocal tem sido a única medida disponível para a eliminação dos mosquitos na fase adulta. Além da baixa efetividade e elevado custo deste tipo de controle, estudos têm demonstrado a existência de populações de Ae. aegypti resistentes a diversos inseticidas piretroides e organofosforados. Assim, novas estratégias que minimizem o uso destes compostos químicos e maximizem o controle dos mosquitos adultos são urgentes, especialmente em locais com elevado risco de transmissão de arbovírus. O presente trabalho tem por objetivo principal realizar um teste piloto para o controle integrado de mosquitos no IAM. A proposta é utilizar o protótipo de Isca Tóxica de Açúcar (ITA), tratado com ivermectina e/ou espinosade, compostos letais para os mosquitos após a ingestão, a fim de eliminar continuamente as fêmeas dos mosquitos. Para além disso, também pretende-se associar as ITAs às Ovitrampas-Controle (OVT-C), destinadas a coleta e destruição mecânica de ovos de Ae. aegypti no ambiente, bem como, ao tratamento larvicida mensal de criadouros de Culex quinquefasciatus (muriçoca), também presente nas instalações do IAM. Estas abordagens serão avaliadas, por até dois anos consecutivos, e o impacto sobre as populações-alvo será estimado, quinzenalmente, através da coleta de ovos de Aedes spp. por uma rede de 20 ovitrampas-sentinelas (OVT-S) e pela aspiração mecânica de mosquitos adultos em diferentes locais de repouso destes insetos. Os resultados parciais observados após 10 meses do uso exclusivo de 50 ITAs, como medida única de controle, revelam uma redução consistente de mosquitos adultos sobretudo de Ae. aegypti, cuja infestação foi sempre inferior a de Cx. quinquefasciatus. Uma quantidade xx% menor também foi registrada no número de fêmeas capturadas ao longo do monitoramento, mais uma vez demonstrando o baixo contato das fêmeas das duas espécies, especialmente de Ae. aegypti com os hospedeiros humanos que circulam no IAM, sugerindo também um baixo risco de transmissão local de arboviroses.
Diplomacia e assistência: a Igreja Católica no refúgio de intelectuais judeus no Brasil em meio ao nazismo (1938-1953)
Bolsista: KAROLINY DA COSTA LOPES
Orientador(a): Cristiana Facchinetti
Resumo: Acompanhando uma nova historiografia sobre a história de refugiados no Brasil, as atividades da bolsista estão inseridas em um programa de pesquisas coletivo, intitulado Trauma e acolhimento de intelectuais europeus refugiados no Brasil (1938-1953), que se debruça sobre um grupo de cerca de mil refugiados de diferentes nacionalidades, que por meio da diplomacia transatlântica conseguiu autorização de entrada e permanência no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. No seu caso, especificamente, o trabalho é dedicado à investigação de alguns intelectuais, cientistas e artistas que fizeram parte deste grupo, como o ensaísta e jornalista Otto Maria Carpeaux, a médica e parasitologista Ruth Sonntag-Nussenzweig e o advogado e desenhista científico Kurt Krakauer. Por meio da micro-história, a bolsista irá aprofundar o conhecimento acerca desses indivíduos, buscando assinalar a singularidade de suas trajetórias sociais, etárias e ocupacionais no país de abrigo, bem como suas relações com a Igreja.
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