Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
A implantação da Terapia de Exposição Narrativa para sobreviventes de violência com transtorno do estresse pós-traumático – o trabalho com vítimas e ofensores de violência
Bolsista: ALEX SANDRO ESTEVES DA SILVA JUNIOR
Orientador(a): FERNANDA SERPELONI
Resumo: O presente subprojeto integra um esforço de investigação sobre os impactos da violência traumática no sofrimento psicossocial e sua relação com o sistema de justiça brasileiro, especialmente no contexto dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs). Baseando-se em evidências científicas, o estudo concentra-se na implementação da Terapia de Exposição Narrativa (NET) e sua adaptação para ofensores de violência (FORNET) no CEJUSC de Ponta Grossa/PR, tendo como foco central a viabilidade, os desafios e os impactos dessa intervenção no contexto institucional brasileiro.Diversas pesquisas demonstram que múltiplas vivências de violência traumática, quando não reconhecidas como demandas de saúde, podem resultar em condições como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), depressão, ansiedade, consumo abusivo de substâncias psicoativas, comportamentos antissociais e agressividade. Indivíduos afetados por TEPT relatam dificuldades de concentração, distúrbios de sono, memórias intrusivas e flashbacks, sintomas que comprometem o desempenho no trabalho, na escola, as relações sociais e o bem-estar geral. A prevalência desses sintomas é acentuada em populações de contextos urbanos e, de forma ainda mais expressiva, entre pessoas privadas de liberdade, as quais apresentam maiores índices de transtornos mentais quando comparadas à população em geral.Diante dessa realidade, a Terapia de Exposição Narrativa (NET) e sua versão adaptada para ofensores (FORNET) surgem como alternativas terapêuticas promissoras. Ambas são intervenções psicoterapêuticas de curta duração, baseadas em evidências e aplicadas internacionalmente, cuja eficácia já foi validada por meio de estudos clínicos controlados, incluindo um ensaio clínico randomizado duplo-cego recentemente realizado no Brasil. A NET/FORNET propõe a reconstrução da narrativa autobiográfica do indivíduo, promovendo a integração coerente de memórias traumáticas e a diminuição da resposta emocional associada a tais eventos. Sua aplicação visa interromper o ciclo da violência, possibilitando que os sujeitos desenvolvam novas perspectivas de vida.Neste subprojeto, propõe-se investigar o processo de implementação da NET/FORNET no CEJUSC de Ponta Grossa a partir da perspectiva dos profissionais envolvidos. Busca-se compreender como a introdução dessas práticas tem sido operacionalizada, os fluxos de atendimento, as resistências institucionais, a aceitação entre profissionais e usuários, e os impactos observados até o momento. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, com aplicação de entrevistas semiestruturadas a profissionais-chave que participaram do processo de implantação. A análise visa compreender a articulação entre trauma, violência e justiça, e como a capacitação em NET/FORNET influenciou a percepção dos profissionais em relação aos indivíduos atendidos tanto vítimas quanto perpetradores.Espera-se que a participação do bolsista nas atividades do projeto contribua com a coleta, organização e análise dos dados qualitativos; elaboração de instrumentos de pesquisa; acompanhamento de entrevistas e participação em reuniões com os pesquisadores. O estudante terá a oportunidade de ampliar seu repertório teórico e metodológico sobre saúde mental, trauma, justiça restaurativa e avaliação de políticas públicas. Ao final, sua contribuição será fundamental para a produção científica e para o aprimoramento da implementação da NET/FORNET em outros contextos institucionais.
Papel da região C-terminal da proteína VgrG4 de Klebsiella pneumoniae na infecção em macrófagos
Bolsista: GIOVANA BEATRIZ SANTOS DE CARVALHO
Orientador(a): LETICIA MIRANDA LERY SANTOS
Resumo: Klebsiella pneumoniae é uma bactéria Gram-negativa, encapsulada, ubíqua, pertencente à família Enterobacteriaceae. É uma bactéria comensal do trato gastrointestinal humano, que pode ser um patógeno oportunista, causando infecções hospitalares e infecções adquiridas na comunidade. A crescente ocorrência de cepas altamente virulentas e resistentes a antimicrobianos tem gerado grande preocupação entre autoridades de saúde pública ao redor do mundo. Em 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou a lista de patógenos prioritários para pesquisa e desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, dentre eles, K. pneumoniae resistente a carbapenêmicos e a cefalosporinas de terceira geração. A capacidade dessa espécie bacteriana de causar infecções está ligada à sua habilidade de escapar das defesas do sistema imune, por meio da expressão de fatores de virulência. Um desses fatores é o Sistema de Secreção do Tipo VI (T6SS) responsável pela translocação de proteínas do citoplasma para o ambiente extracelular. Esses sistemas são estruturas macromoleculares complexas que viabilizam o transporte de moléculas que, de outra forma, não atravessariam a membrana bacteriana. Alguns desses sistemas alcançam apenas duas membranas, enquanto outros podem atravessar uma terceira, injetando moléculas diretamente em células alvo. Estudos sugerem que o T6SS desempenha um papel importante na virulência de K. pneumoniae. Um componente-chave desse sistema é a proteína VgrG, situada na extremidade do T6SS. Essa proteína está diretamente envolvida na funcionalidade do sistema de secreção. Na cepa CIP 52.145 de K. pneumoniae, a proteína VgrG4 foi identificada como um efetor antibacteriano relevante. Já foi mostrado que a região C-terminal de 138 aminoácidos da VgrG4 (VgrG4-CTD), ausente de similaridade com proteínas de função conhecida fora da própria família VgrG, consegue interagir com proteínas associadas ao citoesqueleto, como a actina, induzindo o remodelamento do citoesqueleto em macrófagos expostos à proteína VgrG4-CTD. Com base nos conhecimentos existentes sobre o T6SS e a proteína VgrG, este projeto visa investigar como o rearranjo do citoesqueleto celular influencia a interação patógeno-hospedeiro. Para isso, estímulos com a proteína VgrG4-CTD foram realizados para analisar as taxas de adesão, internalização e sobrevivência bacteriana durante a interação com macrófagos. Além disso, também foi avaliado o papel da VgrG4-CTD na secreção e expressão gênica de citocinas, assim como, o seu papel na regulação de componentes celulares do hospedeiro. Foi possível observar que o estímulo com a proteína VgrG4-CTD favorece a adesão e sobrevivência bacteriana durante a sua interação com o macrófago e é capaz de regular positivamente os níveis de expressão gênica de IL-6 e IL-10. Não foi possível observar nenhum papel modulador na secreção de TNF, expressão gênica de IL-1Beta ou expressão proteica de PI3K, pAKT e NF-B. No momento, estão sendo realizados ensaios de otimização do uso dos inibidores do citoesqueleto (Citocalasina D - inibidor de filamentos de actina; e Colchicina e Nocodazol - inibidores de microtúbulos) com o intuito de futuramente se avaliar o papel desses inibidores juntamente com o estímulo com a proteína VgrG4-CTD nas taxas de adesão, internalização e sobrevivência bacteriana. Além disso, ensaios para avaliar outros componentes celulares do hospedeiro como STAT1 e citocinas relacionadas a polarização de macrófagos (TLR-IFN1-IL10-STAT6) serão conduzidos a fim de atribuir um significado funcional a modulação de componentes importantes para o hospedeiro como, citoesqueleto e mediadores inflamatórios induzidos pela VgrG4-CTD em macrófagos, colaborando assim para a compreensão do papel da VgrG4 na patogênese de K. pneumoniae.
Desenvolvimento de antígenos multiepitopos quiméricos recombinantes de Schistosoma mansoni
Bolsista: GLIFFITYANE KEIFFER MARIA DE SA
Orientador(a): Elainne Christine de Souza Gomes
Resumo: INTRODUÇÃO: A esquistossomose é uma doença parasitária causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni. As pessoas mais afetadas são aquelas que vivem em comunidades agrícolas e pesqueiras e que não têm saneamento adequado. O Kato-katz é um desafio pois possui baixa sensibilidade em casos de infecção de baixa carga parasitária podendo, desse modo, diagnosticar o indivíduo de forma incorreta. Assim, técnicas imunológicas como o ELISA podem ser utilizadas já que apresentam baixo custo, facilidade de execução e eficiência diagnóstica. Contudo, antígenos apropriados, que apresentem alta sensibilidade e especificidade precisam ser escolhidos, para otimização do teste. O SEA e o SWAP, antígenos muito utilizados para diagnóstico, possuem baixa especificidade, podendo gerar reações cruzadas com anticorpos de outras infecções parasitárias. Então, um antígeno quimérico recombinante, construído com epítopos antigênicos imunodominantes de diferentes proteínas de S. mansoni, que seja estável e que aumente a especificidade e sensibilidade do método, pode ser utilizado. OBJETIVO: Avaliar antígenos quiméricos recombinantes para uso em método diagnóstico imunológico para a esquistossomose, em comparação com extratos de antígenos solúveis do ovo (SEA) e do verme adulto (SWAP). METODOLOGIA: Foi realizada a expressão dos antígenos quiméricos obtidos através de uma parceria com a UFMG e um ensaio ELISA com SEA e SWAP, no qual foram avaliadas 44 amostras de soro positivos para S. mansoni e 6 negativos, todas obtidas do Biorrepositório da UFMG. RESULTADOS PARCIAIS: Os resultados indicaram que a condição mais favorável para a expressão da quimera Sch1 ocorreu a 30°C por 3 horas. Nos ensaios ELISA, a análise estatística revelou que a detecção dos antígenos SEA e SWAP permitiu diferenciar amostras positivas e negativas para S. mansoni. Além disso, o SWAP foi capaz de identificar 100% dos soros positivos (44 amostras). Pretende-se, futuramente, proceder à purificação das quimeras para posterior análise por meio do ensaio ELISA.
Avaliação do efeito do galato de metila livre ou nanoestruturado na polarização de macrófagos M1/M2.
Bolsista: CAROLINA RODRIGUES DA SILVA
Orientador(a): Elaine Cruz Rosas
Resumo: Os macrófagos são células-chave da imunidade inata, atuando na fagocitose, na modulação da resposta imune e na apresentação de antígenos. Sua ativação e fenótipo funcional são influenciados pelo estímulo e pelas condições do microambiente. A depender dos estímulos, os macrófagos podem se polarizar do perfil M0 para o perfil M1 (pró-inflamatório) ou M2 (anti-inflamatório). Os M1 expressam iNOS e produzem citocinas como IL-6 e IL-1Beta, enquanto os M2 expressam arginase e produzem IL-10 e IL-13. Na artrite reumatoide (AR), a predominância de macrófagos M1 contribui para a cronificação do processo inflamatório, enquanto o perfil M2 pode favorecer a resolução do processo inflamatório. Assim, a modulação da polarização dos macrófagos surge como uma estratégia promissora para o tratamento da AR e outras patologias. O galato de metila (GM), um composto fenólico de origem vegetal, possui propriedades anti-inflamatórias descritas na literatura. Este estudo teve como objetivo investigar o efeito do GM na polarização de macrófagos derivados da medula óssea (BMDMs) de camundongos C57BL/6. Após diferenciação, as BMDMs foram polarizadas para o perfil M1 (IFN-Gamma + LPS) e submetidas a pré- ou pós-tratamento com GM (1, 10 e 100 µM) ou dexametasona. O GM não alterou a viabilidade celular reduziu significativamente a produção de NO e a expressão de iNOS nos macrófagos M1, além de diminuir os níveis de IL-6, TNF-Alpha, CCL-2 e CCL-5. A expressão de COX-2 também foi inibida pelo GM. No entanto, o tratamento não alterou a expressão de marcadores associados ao perfil M2, como a arginase. Em conjunto, os dados indicam que o GM atenua a resposta inflamatória em macrófagos M1, sem induzir repolarização para M2, o que destaca seu potencial como agente anti-inflamatório, embora estudos adicionais sejam necessários para esclarecer seu papel na modulação fenotípica dos macrófagos.
Estudo via simulação de Dinâmica Molecular entre scFvs de linkers curto e longo e o CD22, avaliando mutações no domínio VL do scFv em relação ao ganho de afinidade.
Bolsista: LUCAS DA CUNHA CIOMPI
Orientador(a): Marcos Roberto Lourenzoni
Resumo: Este trabalho teve como objetivo investigar, por meio de abordagens in silico, o impacto da mutação Y55R na CDRH2 do domínio VH de scFvs derivados do anticorpo monoclonal m971, voltados à construção de receptores quiméricos de antígeno (CARs) direcionados ao CD22. A partir de dados anteriores e da literatura, como o estudo de Ereño-Orbea et al. (2021), foram desenvolvidos e analisados modelos moleculares com linkers curto e longo, considerando diferentes cenários de interação com os domínios D6-D7 do CD22, inclusive em ambiente de membrana. As simulações de dinâmica molecular (DM), acompanhadas da decomposição da energia livre de ligação por resíduo e do cálculo de DeltaG-ligação via MM/PBSA, permitiram estimar a afinidade entre os pares moleculares e investigar a contribuição individual de resíduos próximos à interface.Os resultados indicaram que o modelo com linker curto apresenta maior estabilidade conformacional e energética, refletida em valores mais negativos de DeltaG-ligação e menor constante de dissociação (Kd), sugerindo uma interação mais favorável com o CD22. Embora a mutação Y55R não tenha demonstrado impacto direto na energia de ligação, os dados apontaram seu papel relevante na estabilização da interface, conforme evidenciado por interações indiretas com resíduos do próprio scFv. Entre os principais resíduos envolvidos na interação, destacam-se ARG52, ARG56, LYS58 e TYR60, que apresentaram contribuições energéticas significativas para a formação do complexo. Por outro lado, resíduos como ASP62 demonstraram contribuição desfavorável.
REPERCUSSÕES DA PANDEMIA DE COVID-19 NA EXPERIÊNCIA GESTACIONAL E NA HESITAÇÃO VACINAL
Bolsista: ANDRESSA DA SILVA MELO
Orientador(a): CORINA HELENA FIGUEIRA MENDES
Resumo: As vacinas estiveram no centro das discussões durante a pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo, diversos movimentos antagonistas à imunização criaram insegurança na população, questionando a credibilidade dos benefícios que a vacina traria. O sucesso de uma vacina depende não apenas de sua eficácia, mas também de sua aceitação. No entanto, a hesitação vacinal tornou-se uma ameaça importante para a saúde global. Alguns fatores por trás da hesitação vacinal incluem o medo ou desconfiança da vacina, subestimação de seu valor e falta de acesso a informações confiáveis. A disseminação de fake News sobre as opções preventivas ou de tratamentos acompanhou a pandemia de Covid-19, sendo amplamente compartilhadas através de redes sociais da internet. O documento oficial que veicula, pela primeira vez, a definição de hesitação vacinal é um relatório do SAGE-HV da OMS publicado em 2014. A conceituação marca o início de discussões orientadas, sobretudo na área da saúde, a compreender as características e apontar alternativas às manifestações de hesitação vacinal, que passou a entendida como o atraso em aceitar ou a recusa das vacinas recomendadas, apesar de sua disponibilidade nos serviços de saúde (SATO, 2018, p. 02). No Brasil, em abril de 2020, o Ministério da Saúde incluiu as gestantes em qualquer idade gestacional e mulheres no período puerperal, que sofreram perdas fetais ou abortamento, até quinze dias, como pertencentes ao grupo de risco para Covid-19. A vacinação materna tem o potencial de proteger a mãe, o feto ou ambos contra doenças infecciosas; entretanto, estudos sugerem que a cobertura atual da vacinação materna é baixa globalmente, principalmente devido à hesitação vacinal entre mulheres grávidas. O OBJETIVO da pesquisa em tela é compreender as tomadas de decisões de pessoas gestantes sobre vacinas e imunização a partir da pandemia de Covid-19. Utilizou-se uma abordagem metodológica exploratória, descritiva, quanti e qualitativa. As participantes foram pessoas adultas brasileiras que gestaram no período de março de 2020 a novembro de 2023. O recrutamento ocorreu no período de 21/10/2023 a 24/11/2023 através de um questionário online utilizando-se a plataforma Google Forms. O instrumento utilizado para a coleta dos dados será um questionário temático semiestruturado, com perguntas fechadas e abertas, que foi disponibilizado por meio de mídias virtuais. Os dados foram exportados para tabelas Excel e foram estratificados em três grupos: gestantes na pandemia (gestantes de março 2020 a dezembro 2022), gestantes pós pandemia (gestantes de janeiro a novembro de 2023), gestantes em ambos os períodos. Depois, foram organizados e tratados a partir de análise estatística descritiva com auxílio do programa estatístico para as Ciências Sociais (SPSS - 23.0). Os dados qualitativos foram tratados pelo software IRAMuTeQ, e foram executadas análises textuais. Foram inseridos no estudo 1230 participantes. Os resultados foram organizados de forma sistemática, onde caracterizou-se socio demograficamente a população do estudo. A análise quantitativa organizou os resultados a partir do método 5C de hesitação vacinal - contexto, complacência, conveniência, comunicação e confiança. A análise qualitativa processada pelo software IRAMuTeQ se deu através da classificação Hierárquica Descendente finalizada em 5 classes: Classe 1- Medidas de proteção frente ao medo da COVID-19; Classe 2- Sentimentos, dúvidas e riscos em relação a vacinação contra COVID-19; Classe 3- Repercussões da pandemia na experiência gestacional, de parto e nascimento; Classe 4- Implicações da pandemia da COVID-19 no pré-natal; Classe 5- Isolamento social e saúde mental. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira / Fiocruz sob o nº parecer 3.522.231 CAAE:18608619.9.0000.5275.
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