Bolsista: ANNE TORRES DE FARO MOTTA
Orientador(a): CAMILLE FERREIRA MANNARINO
Resumo: No Brasil, cerca de 30% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) são dispostos em locais impróprios, como lixões. Esses locais não possuem recursos de contenção do efluente gerado, denominado lixiviado. A composição dos RSU favorece a presença de microrganismos, em especial aqueles indicadores de contaminação fecal, como o grupo dos coliformes totais, representado por bactérias Escherichia coli, e vírus entéricos, principalmente o mastadenovírus humano (HAdV). Alguns estudos já identificaram a composição bacteriológica do lixiviado de lixões, mas a caracterização viral desse efluente segue não descrita. Este projeto se propõe a detectar e quantificar vírus presentes em águas superficiais e subterrâneas em área contaminada por disposição inadequada de resíduos sólidos, buscando avaliar seus possíveis impactos à saúde pública. O estudo permitirá nortear medidas de prevenção e controle para a população residente no entorno da área. A área estudada compreende um lixão encerrado e um condomínio adjacente topograficamente influenciado pelo fluxo de água subterrânea que parte do lixão. Coletas foram realizadas em ambos os pontos entre maio de 2021 e março de 2023. Análises moleculares para detecção e quantificação viral foram empregadas, além de ensaios de sequenciamento de nova geração (NGS). O Taqman qPCR para HAdV identificou o material genético viral em dois pontos de coleta do lixão. O viroma das matrizes coletadas revelou 578 OTUs (Unidade Taxonômica Operacional), distribuídas em 45 famílias virais. Houve prevalência da família Myoviridae. No lixão, foram caracterizadas 22 famílias virais, e os vírus Gemykibivirus sewopo1 e Parvovirus NIH-CQV, que têm tropismo pelo ser humano, foram encontrados. No condomínio, foram observadas 43 famílias virais, e houve a presença de vírus que infectam animais, como o circovírus canino (CV canino). O estudo reforçou a necessidade de padronização de metodologias que permitam a detecção e quantificação de vírus, tendo em vista a complexidade físico-química do lixiviado. O NGS elucidou a composição da comunidade viral em ambiente de disposição imprópria de resíduos, apontando para a contaminação microbiológica do entorno do lixão e ressaltando o potencial zoonótico apresentado pelo condomínio estudado. Como perspectivas, o projeto visa a definir uma metodologia padrão para quantificação de vírus em lixiviado, de forma a investigar novos alvos identificados com o monitoramento do condomínio avaliado. Além disso, é importante correlacionar dados físico-químicos com a detecção viral, assim como compreender a potencial infecciosidade de partículas detectadas na área de estudo, de forma a obter-se um panorama geral sobre o impacto ambiental, em especial de caráter microbiológico, gerado por disposição inadequada de RSU.