Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
IDENTIFICAÇÃO, QUANTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DA DIVERSIDADE DE VÍRUS EM ÁREA CONTAMINADA POR LIXIVIADO DE RESÍDUOS E SEUS EFEITOS À SAÚDE PÚBLICA
Bolsista: ANNE TORRES DE FARO MOTTA
Orientador(a): CAMILLE FERREIRA MANNARINO
Resumo: No Brasil, cerca de 30% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) são dispostos em locais impróprios, como lixões. Esses locais não possuem recursos de contenção do efluente gerado, denominado lixiviado. A composição dos RSU favorece a presença de microrganismos, em especial aqueles indicadores de contaminação fecal, como o grupo dos coliformes totais, representado por bactérias Escherichia coli, e vírus entéricos, principalmente o mastadenovírus humano (HAdV). Alguns estudos já identificaram a composição bacteriológica do lixiviado de lixões, mas a caracterização viral desse efluente segue não descrita. Este projeto se propõe a detectar e quantificar vírus presentes em águas superficiais e subterrâneas em área contaminada por disposição inadequada de resíduos sólidos, buscando avaliar seus possíveis impactos à saúde pública. O estudo permitirá nortear medidas de prevenção e controle para a população residente no entorno da área. A área estudada compreende um lixão encerrado e um condomínio adjacente topograficamente influenciado pelo fluxo de água subterrânea que parte do lixão. Coletas foram realizadas em ambos os pontos entre maio de 2021 e março de 2023. Análises moleculares para detecção e quantificação viral foram empregadas, além de ensaios de sequenciamento de nova geração (NGS). O Taqman qPCR para HAdV identificou o material genético viral em dois pontos de coleta do lixão. O viroma das matrizes coletadas revelou 578 OTUs (Unidade Taxonômica Operacional), distribuídas em 45 famílias virais. Houve prevalência da família Myoviridae. No lixão, foram caracterizadas 22 famílias virais, e os vírus Gemykibivirus sewopo1 e Parvovirus NIH-CQV, que têm tropismo pelo ser humano, foram encontrados. No condomínio, foram observadas 43 famílias virais, e houve a presença de vírus que infectam animais, como o circovírus canino (CV canino). O estudo reforçou a necessidade de padronização de metodologias que permitam a detecção e quantificação de vírus, tendo em vista a complexidade físico-química do lixiviado. O NGS elucidou a composição da comunidade viral em ambiente de disposição imprópria de resíduos, apontando para a contaminação microbiológica do entorno do lixão e ressaltando o potencial zoonótico apresentado pelo condomínio estudado. Como perspectivas, o projeto visa a definir uma metodologia padrão para quantificação de vírus em lixiviado, de forma a investigar novos alvos identificados com o monitoramento do condomínio avaliado. Além disso, é importante correlacionar dados físico-químicos com a detecção viral, assim como compreender a potencial infecciosidade de partículas detectadas na área de estudo, de forma a obter-se um panorama geral sobre o impacto ambiental, em especial de caráter microbiológico, gerado por disposição inadequada de RSU.
Avaliação experimental da infecção/replicação viral do vírus Dengue em Aedes aegypti após exposição à Lectina Ligante de Manose (MBL)
Bolsista: MARIA HELENA ARAUJO DOS SANTOS
Orientador(a): CONSTANCIA FLAVIA JUNQUEIRA AYRES LOPES
Resumo: A dengue, causada pelo vírus DENV e transmitida principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, é uma das principais preocupações de saúde pública em regiões tropicais. A Lectina Ligante de Manose (MBL) tem sido estudada por seu potencial papel na modulação da infecção viral, uma vez que pode se ligar aos glicanos presentes na superfície do DENV e ativar a via das lectinas do sistema complemento. Este estudo teve como objetivo avaliar a influência da MBL na replicação do DENV em células C6/36 de Aedes albopictus. A metodologia incluiu a manutenção das células C6/36, seguidas pela infecção com o vírus DENV sorotipo 2 (cepa 3808), com posterior adição de MBL em diferentes concentrações. Inicialmente, foi realizada a propagação e titulação do estoque viral em células C6/36 utilizando o método de TCID, resultando em um título final de 6,9 × 10 PFU/mL, valor que será utilizado nas etapas subsequentes de infecção das células com e sem adição de MBL. Até o momento, os procedimentos iniciais foram executados com sucesso, estabelecendo as condições experimentais para os ensaios futuros de avaliação da ação antiviral da MBL.
Octávio Domingues (1897-1972) e a Zootecnia Tropical: bois, mistura racial e nação
Bolsista: ANA LUIZA RAMOS PASSINI
Orientador(a): Robert Wegner
Resumo: A pesquisa busca compreender como as ciências biológicas e da sociologia no Brasil, no decorrer do século XX, contribuíram nos debates e pesquisas sobre a mistura racial. Ao longo desse período, a genética e eugenia adquiriram certa centralidade nas pesquisas em saúde e promoveram debates éticos sobre diversidade humana e identidade racial. É nesse cenário mais amplo que se insere meu subprojeto de iniciação científica, que busca explorar a trajetória de Octávio Domingues como prisma para pensar os vínculos entre ciência, política e imaginário nacional nas décadas de 1930 a 1950. Como estudante do sétimo período do curso de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), com interesse especial no período democrático de 1946 a 1964 e nas políticas de construção de imaginários e de nação, reconheço na trajetória de Domingues uma oportunidade singular para entender como a ciência e a eugenia foram incorporadas aos projetos modernizadores do Estado brasileiro.Domingues foi uma figura complexa: eugenista, zootecnista, geneticista mendeliano e divulgador científico, com forte atuação no Ministério da Agricultura e nas principais escolas de agricultura do país. Ao defender a miscigenação a partir das teorias da hereditariedade, ele tencionou os discursos eugênicos dominantes da época, ao mesmo tempo em que sustentava uma proposta de melhoria humana baseada na genética. Seu pensamento revela como a eugenia no Brasil não se restringiu a uma visão racial purista, mas buscou se legitimar por meio da ciência e de uma retórica que vinculava saúde, educação e democracia. Para Domingues, a eugenia não era incompatível com a democracia; ao contrário, ele afirmava que apenas sociedades democráticas poderiam implementá-la de forma eficaz, desde que baseada na responsabilidade individual sobre a reprodução, ideia que ele chama de seleção social. Para Octávio Domingues, a formação da população brasileira ocorreu em dois estágios principais. O primeiro, denominado seleção natural, corresponde ao período inicial de povoamento, caracterizado pela mistura forçada entre homens brancos e mulheres não brancas no contexto da escravidão. Esse processo, necessário, mas marcado pela ausência de controle consciente, teria gerado uma grande variabilidade biológica e adaptativa, porém sem ganhos qualitativos. A miscigenação resultante era vista como necessária para a aclimatação ao ambiente tropical, formando o que Domingues chama de nova espécie do colonizador português.
HTL... O quê? - Desenvolvimento de Podcast para divulgação científica e educação em saúde sobre os Vírus T-Linfotrópico Humano (HTLV) e Doenças Associadas
Bolsista: THAYNA REGINA AGUIAR DOS SANTOS
Orientador(a): CLARICE NEUENSCHWANDER LINS DE MORAIS
Resumo: Introdução: O Vírus T-Linfotrópico Humano (HTLV) é um retrovírus que infecta, preferencialmente, as células T humanas e possui alta prevalência no Brasil. Tendo pouca visibilidade por muito tempo, o HTLV ficou longe dos focos das pesquisas e investimentos na área da saúde, interferindo negativamente tanto na disseminação de informações, quanto também na assistência às pessoas que vivem com HTLV. Objetivo: Desse modo, esse estudo buscou desenvolver um podcast como forma de divulgação científica sobre o HTLV e doenças associadas. Metodologia: Foram roteirizados e produzidos, até o atual momento, 2 episódios do podcast. Ambos foram hospedados no Spotify e Deezer, além de terem sido feitos recortes em formato de vídeo para o Instagram do podcast. A gravação ocorreu no estúdio de audiovisual do Centro Universitário Maurício de Nassau, Recife - PE. Resultado e discussão: O primeiro episódio teve duração de 33min40s e contou com a participação de uma pessoa que vive com o vírus, abordando o momento do diagnóstico e seu engajamento na luta para levar mais informações sobre o vírus. Apresentando resultados significativos na plataforma Spotify, com 10h de consumo e 37 reproduções. Já o segundo, com 16min e 27 reproduções, trouxe informações sobre os aspectos gerais do vírus, sua descoberta, epidemiologia e formas de prevenção. Conclusão: Assim, percebe-se que, estratégias educativas não-convencionais podem ser aliadas no processo de ensino-aprendizagem. Logo, permite que não só a população tenha acesso a informações sobre o vírus, mas também os profissionais da saúde.
Efeito gedunina sobre a polarização de macrófagos humanos diferenciados
Bolsista: JULIA ALVES DINIZ DO NASCIMENTO
Orientador(a): THADEU ESTEVAM MOREIRA MARAMALDO COSTA
Resumo: A inflamação é uma resposta fisiológica protetora na qual células do sistema imune e mediadores inflamatórios atuam de forma de orquestrada com a finalidade de eliminar os danos causados por patógenos invasores ou por estresses ambientais que causam danos tecidual. A inflamação é seguida por uma fase de resolução que tem por finalidade remover as células danificadas e inflamatórias permitindo o reparo tecidual. Neste processo, ocorre a reprogramação funcional de células e são produzidos mediadores anti-inflamatórios como a IL-10 e lipoxinas; assim como mediadores pró-resolutivos especializados (SPMs) como as resolvinas, além de um aumento na expressão de proteínas de resposta a estresse como a heme-oxigenase (HO)-1 e a proteína de choque térmico (HSP)70. A persistência da inflamação por longos períodos é deletéria e destrutiva e podem levar ao desenvolvimento de doenças crônicas como artrite reumatoide, asma, câncer e Alzheimer. O uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), agonistas de receptores de glicocorticoides ou terapias anticitocinas auxiliam no controle da resposta inflamatória .Neste contexto, os macrófagos, células da imunidade inata que apresentam alta plasticidade são essenciais na inflamação, na homeostase e remodelamento tecidual. Os macrófagos podem apresentar diferentes estágios de ativação entre a forma clássica (pró-inflamatório, também denominado M1), quando estimulados por interferon (IFN)-Gamma e lipopossacarídeos (LPS)) e a forma alternativa (anti-inflamatório/pró-resolutivo, também denominado M2) quando pelas citocinas IL-4 e IL-13), que podem se intercambiar dependendo do estímulo ambiental. Assim, a indução da polarização do macrófago de um fenótipo M1 para M2 permite a transição de um estado inflamatório a um pró-resolutivo, reduzindo a possibilidade de uma inflamação crônica.A proteína de choque térmico 90 (HSP90) é uma chaperona molecular responsável pela estabilidade de proteínas celulares. A inibição desta chaperona é capaz de reduzir a reposta inflamatória induzida por macrófagos M1. Além disso, de forma geral o tratamento com inibidores de HSP90 leva ao aumento da expressão da proteína de choque térmico HSP70 modula negativamente o processo inflamatório. No entanto, a participação da HSP90 na polarização de macrófagos para o perfil M2 ainda não está bem estabelecida na literatura. A gedunina é um conhecido inibidor de HSP90 de origem natural que possui diversas atividades biológicas descritas. A atividade anti-inflamatória deste limonóide tem sido objeto de estudo do nosso grupo de pesquisa que já demonstrou que ela é capaz de reduzir a resposta inflamatória induzida por LPS em macrófagos, além de aumentar a produção da citocina anti-inflamatória IL-10, e a expressão de HO-1 e HSP70 nestas células, indicando um potencial papel na polarização para o perfil M2. Assim, a caracterização da participação da HSP90 na polarização de macrófagos para os perfis M1 e M2 e da gedunina como um indutor da resposta pró-resolutiva pode permitir a utilização deste limonóide como ferramenta para compreensão da resolução da inflamação e auxiliar no desenvolvimento de fármacos em potencial para o tratamento de doenças crônico-degenerativas associadas ao processo inflamatório.
As ciências biomédicas no Brasil (1850-1900): instituições e atores. José Mariano da Conceição Velloso (1742-1811) e a botânica brasileira.
Bolsista: Julio Cesar Oliveira Matheus
Orientador(a): Maria Rachel de Gomensoro Fróes da Fonseca
Resumo: O relatório apresenta o desenvolvimento do subprojeto intitulado As ciências biomédicas no Brasil (1850-1900): instituições e atores. José Mariano da Conceição Velloso (1742-1811) e a botânica brasileira, que está vinculado ao projeto História da institucionalização das Ciências Biomédicas no Brasil e na América Latina, e tem como objetivo analisar a institucionalização das ciências biomédicas no Brasil e na América Latina, no século XIX, tendo como base a análise do processo de criação e consolidação das instituições e trajetórias neste campo de conhecimento. Através do recolhimento de dados e a análise nas obras produzidas por diversos pesquisadores, o subprojeto teve como resultados uma sequência de biografias/verbetes, que foram produzidos após o cruzamento de fontes que possibilitaram a construção e produção de respostas que apresentaram demandas que antes eram difíceis de serem respondidas. Entre os verbetes de biografias pesquisados e organizados ao longo desse período estão: José Mariano da Conceição Velloso (1742-1811), José Mauricio Nunes Garcia Junior (1808-1884), José Cardoso de Moura Brasil (1846-1928). Estes verbetes serão futuramente inseridos na plataforma do Dicionário. Neste relatório são apresentados resultados mais detalhados da pesquisa para a biografia do botânico José Mariano da Conceição Velloso (1742-1811).
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