Bolsista: GUSTAVO AUGUSTO FONSECA NOGUEIRA
Orientador(a): Vanessa Peruhype Magalhães Pascoal
Resumo: AVALIAÇÃO DO PERFIL FENOTÍPICO (ATIVAÇÃO E CITOTOXICIDADE) DE CÉLULAS MAIT NA COINFECÇÃO LV/HIV A leishmaniose visceral (LV) é uma doença tropical negligenciada, e, em Minas Gerais, um dos três estados brasileiros mais acometidos pela infecção, a taxa de letalidade foi de 10,34% em 2024. Embora grande parte das pessoas infectadas em áreas endêmicas seja assintomática, pacientes que desenvolvem sintomatologia clínica, apresentam febre prolongada, hepatoesplenomegalia e pancitopenia e, uma vez não tratada, a doença é fatal. Como agravante, tem sido observado aumento da coinfecção com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), decorrente da sobreposição epidemiológica. Diante disso, a cronicidade da coinfecção LV/HIV é intensificada pela replicação aumentada dos patógenos, bem como por uma resposta imunológica predominantemente do tipo TH2 (com citocinas IL-10 e TGF-Beta), e perda de marcadores de memória em células T CD4 e CD8. É essencial que haja equilíbrio das respostas pró-inflamatória, reguladora e dos eixos TH17/TH22 para o controle das doenças. Outras células do sistema imunológico têm sido estudadas em doenças infecciosas e parasitárias. Nesse sentido, crescem os estudos que relatam o papel de linfócitos T não convencionais (células Tgd, NKTs e MAIT) na imunomodulação em diferentes infecções, em geral, dotados de uma rápida resposta à ativação antigênica e memória efetora. Essas características despertaram, em nosso grupo, o interesse em estudar essas células, especialmente, as células MAIT. Assim, este trabalho busca compreender o perfil fenotípico das células MAIT (TCRVAlpha7.2+CD161+) e nMAIT (TCRVAlpha7.2+CD161-) na LV e coinfecção LV/HIV, e analisar, no contexto ex vivo, os perfis de ativação/coestimulação e citotoxicidade a partir de marcadores específicos. Para isso, o estudo foi composto por pacientes com LV clássica; coinfectados LV/HIV; grupo HIV controlado; LV/HIV em profilaxia com Anfotericina B Lipossomal (LHP); e indivíduos não infectados (NI) para ambas as infecções. As amostras de sangue periférico foram incubadas com o mix de anticorpos, seguidas de lise dos eritrócitos e ressuspensão dos pellets. A leitura foi feita no citômetro de fluxo LSR Fortessa(Trade Mark) Cell Analyzer, enquanto, as análises, no software FlowJo(Trade Mark) . A partir da análise dos dados, foi observado que os grupos LV e LV/HIV obtiveram frequência reduzida de células MAIT e nMAIT circulantes em comparação com os grupos NI e LHP, fenômeno que pode sugerir migração para tecidos infectados e perda de capacidade proliferativa. Menor frequência de células MAIT CD8+ e nMAIT CD4+ foi observada nos grupos LV e LV/HIV. Por outro lado, LV/HIV e LHP registraram maiores frequências de nMAIT CD8+. E o grupo LV, comparado a NI, registrou maior frequência de MAIT CD4-CD8-, células com perfil mais pró-apoptótico e menos funcional. Em relação à ativação/coestimulação, comparado a NI, foi possível observar maior expressão de CD28 por MAIT CD4+ em LV e LV/HIV, de CD69 e CD38 por MAIT CD8+ em LV, e de CD38 por MAIT CD4-CD8- em LV e LV/HIV. O grupo LHP, em contrapartida, registrou diminuição na expressão de CD69 e CD38 por MAIT CD4+ e CD8+, e de CD69 e CD28 por MAIT CD4-CD8-, em relação a LV e coinfectados. Já para atividade citotóxica, foi possível conferir aumento de NKG2D e CD107A para a maioria das subpopulações MAIT e nMAIT do grupo LHP, comparado a LV e LV/HIV. Esses achados sugerem possível efeito modulador da Anfotericina B, uma vez que no grupo LHP observou-se aumento de citotoxicidade, associado à redução da ativação celular em relação aos grupos LV e LV/HIV, que apresentam quadro de cronicidade e, mesmo com alta ativação celular, há perda de função efetora. Portanto, no contexto da coinfecção, conferimos que houve impacto exercido sobre o perfil fenotípico de células MAIT e nMAIT, sugerindo a participação dessas células no controle/evolução da doença.