Bolsista: JOANA DO NASCIMENTO FERREIRA
Orientador(a): GILBERTO SALLES GAZETA
Resumo: O avanço contínuo da população humana sobre áreas de mata, incluindo reservas florestais, tem modificado os cenários epidemiológicos da Febre Maculosa (FM) em regiões anteriormente consideradas indenes. Assim, quanto maior a intervenção antrópica nas proximidades ou até mesmo no interior de áreas protegidas, mais intenso será o processo de degradação ambiental, favorecendo o estabelecimento de novas interações parasitárias. Nesse contexto, uma preocupação frequente é o risco de transbordamento zoonótico, fenômeno recentemente evidenciado com a pandemia do COVID-19, ressaltando a importância de estudos aprofundados sobre bioagentes presentes em ectoparasitos de animais silvestres. Essas pesquisas são essenciais para compreender não apenas as interações entre parasitos e hospedeiros, mas também os bioagentes envolvidos nos ciclos enzoóticos, os quais podem ser transportados por ectoparasitos que infestam animais sinantrópicos, facilitando a circulação desses agentes entre ambientes naturais e urbanos. Diante desse panorama, o presente estudo tem como objetivo avaliar aspectos bioepidemiológicos da ectoparasitofauna de roedores e marsupiais, em áreas de maior e menor altitude do Parque Nacional de Itatiaia (PNI), relacionando-os à circulação de rickettsias. Entre outubro de 2021 a junho de 2022, pequenos mamíferos foram capturados no interior da mata do PNI. Os ectoparasitos coletados estão sendo triados e identificados. A detecção e caracterização de Rickettsia será realizada pela extração e amplificação de DNA genômico por reação em cadeia da polimerase (PCR) e análise por eletroforese. Os fragmentos amplificados serão purificados e sequenciados, as sequências obtidas serão editadas e comparadas em percentual de identidade com aquelas disponíveis no GenBank. Posteriormente, serão geradas árvores filogenéticas para análise evolutiva dos agentes detectados. Até o momento foram triados e parcialmente identificados um total de 987 ectoparasitos, distribuídos em 755 ácaros (76,49%), 150 carrapatos (15,20%), 73 pulgas (7,40%) e 9 piolhos (0,91%). Entre os ácaros, a maior frequência relativa foi da família Laelapidae (93,77%), corroborando os achados anteriores em estudos com pequenos mamíferos. Também foram identificados três ácaros das famílias Macronyssidae (0,40%) e dez da Dermanyssidae (1,32%), as quais incluem espécies importantes, cuja participação nos ciclos enzoóticos e epidêmicos das rickettsioses tem sido assinaladas. Entre os carrapatos, o gênero Ixodes foi o mais frequente com 129 (86%) espécimes coletados, seguido de Haemaphysalis com 12 (8%) e Amblyomma com 04 (2,67%); cinco (3,33%) espécimes ainda não foram identificados. Esses achados são relevantes, uma vez que os carrapatos da família Ixodidae são os transmissores de patógenos para animais vertebrados e os principais veiculadores de rickettsias patogênicas do grupo febre maculosa para humanos. Ixodes longiscutatus (Boero, 1944) foi observado em roedores do PNI, apontando para um possível aumento no padrão de distribuição deste carrapato no país. Entre os Siphonaptera, Hechtiella lakoi, com 33 espécimes coletados (45,20%), foi a espécie mais frequente, sendo observada somente em Trinomys gratiosus. Trabalhos anteriores evidenciaram a ocorrência de H. lakoi em roedores Nectomys squamipes e principalmente em T. gratiosus, apontando para a hipótese de que essa pulga tenha predileção parasitária por esta espécie de roedor, o que pode ter importância para o ciclo enzoótico de microrganismos. Ainda em Siphonaptera, destacamos o encontro de espécimes de Ctenocephalides, potencialmente vetor de Rickesttsia felis, sabidamente patogênica. A ordem Phthiraptera foi aquela com menor número de exemplares encontrados, mas com ao menos um espécime hematófago (Anoplura) detectado, o que aponta para a possibilidade de ciclo enzoótico.