Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
DETECÇÃO DE VÍRUS RESPIRATÓRIOS EM ANIMAIS SILVESTRES EX SITU
Bolsista: DOUGLAS MONTEIRO FERREIRA
Orientador(a): Alessandra Ferreira Dales Nava
Resumo: A pandemia de SARS-CoV-2 reforçou a necessidade de monitoramento sistemático da fauna silvestre, especialmente em regiões biodiversas como a Amazônia. Este estudo teve como objetivo investigar a diversidade de coronavírus pandêmicos em animais silvestres, com foco em representantes das ordens Primates, Marsupialia, Xenarthra, Rodentia e Carnivora. Foram amostrados 173 animais provenientes do CETAS-AM/IBAMA, oriundos de entregas voluntárias ou ações de fiscalização. Foram coletadas amostras de swab (oral, nasal, retal) e sangue, quando possível. A extração de RNA foi realizada com o equipamento Maxwell RSC 48, utilizando Trizol(Marca Registrada) LS para metagenômica. Para SARS-CoV-2 e Influenza A, empregou-se qPCR no sistema QuantStudio(Marca Registrada) 5 com o kit Molecular SARS-CoV-2 Bio-Manguinhos. O cDNA foi sintetizado com o kit SuperScript(Trade Mark) IV, e a detecção geral de coronavírus foi feita por PCR semi-nested com primers PAN-CoV, redesenhados por Holbrook et al. (2021), permitindo amplificação de diferentes gêneros (alfa, beta, gama e delta). As amostras foram processadas em pools de swabs (orotraqueal, nasal e retal) para otimização do processo, com testagem individual posterior em caso de positividade. Até o momento, 56 amostras de primatas foram testadas por qPCR para SARS-CoV-2 e Influenza A, todas com resultados negativos. A pesquisa destaca a dificuldade na testagem de silvestres, devido à ausência de controles endógenos específicos, e reforça a importância de padronização metodológica.
PERCEPÇÃO SOBRE DESINFORMAÇÃO E VACINAÇÃO: um estudo sobre saúde e ciência com estudantes de escolas públicas na Bahia
Bolsista: BRUNA RODRIGUES MACHADO
Orientador(a): Antonio Marcos Pereira Brotas
Resumo: Em um contexto marcado pela rápida disseminação de informações nas mídias sociais e pela crescente dificuldade em distinguir conteúdos verídicos de informações falsas, a desinformação representa um grave desafio à saúde pública, impactando diretamente a confiança nas vacinas e, consequentemente, na adesão às campanhas de imunização, especialmente entre adolescentes. A infodemia, superabundância de informações sobre saúde, verdadeiras ou não, intensificou-se durante a pandemia da Covid-19, dificultando o combate à hesitação vacinal e afetando a confiança da população em medidas preventivas, como a vacinação contra o HPV. (TOPF JM & WILLIAMS PN, 2021). Jovens e seus responsáveis, muitas vezes influenciados por conteúdos disseminados nas redes sociais, podem hesitar em relação à eficácia e segurança das vacinas, sobretudo em comunidades vulneráveis com acesso restrito a informações confiáveis. (GALHARDI, et al.; 2022).O presente estudo tem como objetivo aprofundar a compreensão da percepção dos jovens estudantes de escolas públicas de Salvador, Catu e Cachoeira, na Bahia, acerca da desinformação em saúde e ciência, com foco especial na vacinação. O estudo justifica-se pela urgência em compreender os fatores que influenciam a aceitação ou recusa das vacinas por adolescentes, sobretudo em territórios vulnerabilizados, nos quais a desinformação circula com mais força. A partir dessa compreensão, é possível subsidiar ações mais eficazes de comunicação, educação e formulação de políticas públicas sensíveis às especificidades dos jovens.A metodologia adotada inclui revisão bibliográfica, análise de questionários previamente aplicados a 112 estudantes do ensino médio dos três colégios estaduais baianos, e dos relatórios de grupos focais realizados com cerca de 30 estudantes no total. Os dados revelam que a maioria dos jovens participantes considera difícil identificar informações falsas. Embora confiem majoritariamente em cientistas e professores, o acesso às informações se dá, em grande parte, por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, o que os expõe a um volume maior de fake news.A análise revelou que apenas uma parcela reduzida dos estudantes tem contato frequente com conteúdos formais de divulgação científica, e que a confiança em fontes institucionais é alta, ainda que o acesso a elas seja limitado. Além disso, identificou-se a necessidade de desenvolver um novo questionário focado exclusivamente na temática da vacinação, uma vez que os instrumentos anteriores abordavam a desinformação de forma mais ampla. O novo formulário será validado inicialmente com um grupo reduzido de estudantes para ajustes antes da aplicação em maior escala.Dessa forma, o estudo destaca a importância de estratégias de enfrentamento à desinformação adaptadas ao contexto juvenil, escolar e territorial, considerando fatores como escolaridade, acesso à informação e confiança em fontes. Os resultados visam contribuir para o fortalecimento da cobertura vacinal, a promoção da saúde pública e a valorização do papel das instituições científicas e educacionais como fontes legítimas e acessíveis de informação.
AVALIAÇÃO DE HPAs EM AR
Bolsista: LETICIA SILVA BRAGA PEREIRA
Orientador(a): THELMA PAVESI
Resumo: Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são compostos orgânicos com dois ou mais anéis aromáticos condensados, considerados carcinogênicos e mutagênicos. No ambiente, os HPAs estão em misturas complexas, dispersos principalmente na atmosfera, originados de processos de combustão incompleta. São poluentes orgânicos persistentes (POPs), acumulam-se e geram riscos à saúde humana. A exposição aos HPAs ocorre por inalação, ingestão e absorção pela pele, causando irritações, náuseas e inflamações. Compostos com 2 a 3 anéis são altamente tóxicos, enquanto os com 4 a 6 anéis são mais mutagênicos e carcinogênicos, associados ao câncer, especialmente de pulmão. O objetivo deste trabalho foi validar o método analítico otimizado para 14 HPAs. A validação da metodologia analítica para determinar 14 HPAs em uma única análise seguiu as recomendações do documento DOQ-CGCRE-008/2020 do INMETRO, Orientação Sobre Validação de Métodos Analíticos. Os parâmetros avaliados foram a seletividade (efeito de matriz), linearidade, limites de detecção e quantificação, faixa linear, faixa de trabalho, repetibilidade, recuperação e precisão intermediária. O estudo efetuou todo tratamento estatístico dos dados obtidos nos ensaios preconizados pelo INMETRO. A metodologia otimizada e validada por esse trabalho se mostrou eficaz para todos os 14 HPAs, e se mostrou seletiva, linear e precisa para o objetivo, tendo cumprido os parâmetros estabelecidos pelo guia orientativo de validação de métodos analíticos do INMETRO (2020). Dessa maneira, o método poderá ser aplicado com maior confiabilidade e segurança, tanto em relação ao método, como também com relação aos resultados. O fato de ser uma metodologia validada, possibilita que seja oferecida pelo Laboratório como um serviço a pesquisadores internos e externos a Fiocruz, por meio da Plataforma (RPT 16A). Como perspectiva futura o estudo realizará a validação da metodologia de mais dois HPAs, completando os 16 mais importantes do ponto vista ambiental e biológico.
ESTUDO in vitro DO PAPEL DO LIPOFOSFOGLICANO NA INTERAÇÃO ENTRE MACRÓFAGOS E Leishmania amazonensis
Bolsista: JULIA ALVES DE SANTANA
Orientador(a): Valeria de Matos Borges
Resumo: A leishmaniose é uma doença tropical determinada socialmente, causada pelos protozoários do gênero Leishmania, que se apresenta como endêmica em mais de 90 países no mundo, incluindo o Brasil. A leishmaniose tegumentar é a forma mais prevalente no Brasil sendo causada, principalmente, pelas espécies Leishmania braziliensis e Leishmania (L.) amazonensis, sendo essa última a utilizada nesta pesquisa. Na superfície das formas promastigotas do parasito há uma série de moléculas consideradas fatores de virulência que são responsáveis por interagir com a célula hospedeira e facilitar a sua fagocitose, sendo então importantes alvos de estudo da resposta imune ao patógeno. Dentre as principais moléculas se destacam: lipofosfoglicano (LPG) e outros glicoconjugados contendo fosfoglicanos (PGs) em suas estruturas. Parasitos nocautes para o gene lpg2 não expressam esses glicoconjugados e são utilizados como estratégia de estudo para compreender o papel dessas moléculas no estabelecimento da infecção por Leishmania sp. Objetivos: Esse estudo visa investigar o papel do gene lpg2 no contexto da infecção de macrófagos murinos por L. amazonensis. Material e métodos: Macrófagos oriundos da medula óssea de camundongos C57BL/6 foram cultivados e infectados com parasitos selvagens (WT) ou deficientes para o lpg2 (lpg2) de L. amazonensis em fase estacionária. Foi realizada a avaliação da carga parasitária, viabilidade das promastigotas, ensaios de dosagem de óxido nítrico (NO), experimentos piloto de cinética da fagocitose e de avaliação da formação de vacúolos ácidos em macrófagos infectados por L. amazonensis (WT ou lpg2). Resultados preliminares: Foi observado que macrófagos infectados pelo isolado lpg2 de L. amazonensis apresentaram uma redução da carga parasitária e a viabilidade dessas promastigotas também estavam reduzidas em comparação às WT. Já a produção de NO não foi alterada em macrófagos infectados pelo isolado lpg2 ou WT. Ademais, promastigotas deficientes em lpg2 apresentaram padrão distinto de interação com macrófagos durante o processo de fagocitose e também exibiram maior número de vacúolos positivos emitindo fluorescência por campo, quando comparado aos parasitos WT. Conclusão: Os resultados preliminares reforçam o papel do LPG e outros PGs como fatores de virulência para os parasitos de L. amazonensis, sendo necessário mais estudos para compreender os mecanismos envolvidos na interação Leishmania-macrófago que ocasionam na redução da carga e viabilidade parasitária em macrófagos infectados com o isolado lpg2 de L. amazonensis.
Avaliação do papel de Indoleamina 2,3 dioxigenase (IDO1) na imunopatogênese da neuropatia hansênica.
Bolsista: VICTOR HUGO PIRES DE AZEREDO
Orientador(a): ROBERTA OLMO PINHEIRO
Resumo: A hanseníase, doença causada por Mycobacterium leprae, apresenta manifestações neurocutâneas polimórficas que se correlacionam fortemente com a resposta imune do hospedeiro frente ao bacilo. Danos nos nervos periféricos podem causar perda de sensibilidade, perda de movimento e deformidade dos membros. Nos últimos anos, a interação entre a ativação do sistema imunológico, o desenvolvimento de inflamação crônica e o início e progressão de muitas doenças neurológicas diferentes tem sido estudada extensivamente. Vários estudos apontam o envolvimento da formação de um complexo multiproteico intracelular, denominado inflamassoma. A geração deste complexo feito de NLRs (domínio de oligomerização de ligação de nucleotídeos com repetição rica em leucina), ASC (proteína semelhante a partícula associada à apoptose contendo um domínio de recrutamento de caspase) e a procaspase-1 é suficiente para ativar a cisteína protease caspase-1 e desencadear a liberação de interleucina (IL)-1Beta e - 18, duas poderosas citocinas pró-inflamatórias. A superexpressão ou superativação de inflamassoma foi encontrada em muitas doenças diferentes, tanto em nível periférico quanto central. Notavelmente, a desregulação de sua ativação pode contribuir para uma infinidade de doenças inflamatórias. Desta forma, este trabalho teve como objetivo mostrar a ativação do inflamassoma nas células de Schwann (CS) ST 8814 sob o estímulo de M. leprae e seus antígenos micobacterianos. Os resultados sugerem que M. leprae morto e viável podem induzir a ativação de inflamassoma em CS, assim como, a presença de seus antígenos. Os dados do nosso grupo mostraram que no ELISA sugerem uma regulação positiva da produção das citocinas inflamatórias IL-1Beta e IL18 mediante M. leprae e seus componentes. Uma análise por microscopia de fluorescência do nosso grupo mostrou a formação de puntos de ASC no citoplasma das CS estimuladas por M. leprae, mostrando a formação do complexo de inflamassomas em seu citoplasma. Desta forma, a ativação de inflamassomas em CS por M. leprae e seus antígenos micobacterianos, pode contribuir para o dano. Este estudo visa contribuir para o entendimento da patogênese da neuropatia hanseniana.
Combinações binárias entre medicamentos de uso oral, tópico, intralesional e sistêmico em dose única para o tratamento da leishmaniose cutânea causada por L. braziliensis e L. amazonensis.
Bolsista: DANIELE SANTOS BENTO
Orientador(a): Eliane de Morais Teixeira
Resumo: : Leishmanioses integram o grupo de doenças infecciosas negligenciadas, sendo o tratamento uma das principais estratégias para o seu controle. O arsenal terapêutico disponível é limitado e marcado por reconhecida toxicidade, aliado a uma insuficiência persistente no desenvolvimento de novos fármacos. Neste contexto, o reposicionamento de drogas e avaliação de novos esquemas posológicos de medicamentos existentes, incluindo as combinações, despontam como estratégias potencialmente úteis para ampliar as opções terapêuticas. Objetivo: avaliar a eficácia e a toxicidade de esquemas terapêuticos constituídos por combinações binárias do medicamento fexinidazol com: miltefosina, anfotericina B lipossomal, antimoniato de meglumina e paromomicina para o tratamento de leishmaniose cutânea causada por Leishmania (Viannia) braziliensis ou Leishmania (Leishmania) amazonensis, em modelo animal. Metodologia: modelo experimental animal de leishmaniose cutânea utilizando hamsters (Mesocricetus auratus) machos infectados por cepa de referência L. (V.) braziliensis (MHOM/BR/75/M2903) ou camundongos Balb/C (Mus musculus) fêmeas infectadas por L. (L.) amazonensis (IFLA/BR/1967/PH-8). As combinações binárias serão comparadas com os medicamentos em monoterapia, nomeadamente miltefosina na dose de 25mg/kg, via oral, por 20 dias consecutivos, anfotericina B lipossomal 10mg/kg, dose única, via intraperitoneal, antimoniado de meglumina por via intralesional em infiltração única, paromomicina tópica por 30 dias consecutivos e fexinidazol na dose de 100mg/kg, via oral, por 20 dias consecutivos. Para controle do experimento, serão constituídos grupos de animais tratados com a dose plena de antimoniato de meglumina via intramuscular (200mg/Kg/dia, durante 20 dias consecutivos) e animais mantidos sem tratamento. A eficácia clínica será avaliada comparando-se o maior diâmetro da úlcera entre os grupos de animais no 23º dia após início do tratamento e, a eficácia parasitológica, pela comparação da carga parasitária na lesão e no baço através da técnica de PCR em tempo real. A toxicidade será avaliada por meio da inspeção do comportamento dos animais e pela mensuração da massa corpórea. Este estudo pretende apontar possíveis esquemas terapêuticos de combinações, que possam ser elegíveis para futuros ensaios clínicos do tratamento da leishmaniose cutânea.
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