Bolsista: MARIA EDUARDA GONCALVES DE SOUZA
Orientador(a): MARIANA ROCHA DAVID
Resumo: A transmissão de arbovírus como dengue, Zika e chikungunya representa um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo, sendo amplamente dependente da presença dos mosquitos vetores Aedes aegypti e Aedes albopictus. A ausência de vacinas amplamente disponíveis para estas doenças torna urgente o desenvolvimento de estratégias alternativas de controle vetorial. Nesse contexto, a manipulação da microbiota intestinal dos vetores, especialmente por meio da paratransgênese modificação genética de simbiontes bacterianos para expressar moléculas com potencial bloqueador de patógenos surge como uma abordagem promissora. No entanto, ainda são necessárias investigações mais aprofundadas sobre a diversidade microbiana associada a populações naturais desses mosquitos, assim como a caracterização funcional e genética de seus simbiontes. Assim, este subprojeto tem como objetivo isolar, preservar e identificar bactérias cultiváveis da microbiota intestinal de Ae. aegypti e Ae. albopictus coletados em áreas urbanas do estado do Rio de Janeiro. As coletas foram realizadas em 16 localidades urbanas dos municípios do Rio de Janeiro e Niterói entre junho de 2022 e junho de 2023, com inclusão também de mosquitos criados em laboratório. No total, foram processadas 665 fêmeas de Ae. aegypti, 65 de Ae. albopictus e 42 indivíduos de colônias laboratoriais. Os intestinos médios das fêmeas foram dissecados e submetidos ao isolamento bacteriano em diferentes meios de cultura seletivos e não seletivos, totalizando 141 isolados bacterianos criopreservados. Até o momento, 71 destes foram identificados taxonomicamente por sequenciamento de uma região hipervariável do 16S rDNA, revelando representantes de quatro filos (Proteobacteria, Firmicutes, Actinobacteria e Bacteroidetes) e 17 famílias bacterianas. Dentre os gêneros identificados destacam-se Pseudomonas (14,3% dos isolados identificados), Leuconostoc (8,6%), Enterococcus (7,1%), Staphylococcus, Carnimonas, Rosenbergiella, Asaia, Gluconobacter, Acinetobacter, entre outros. Alguns isolados puderam ser identificados apenas ao nível de família, como é o caso de representantes de Enterobacteriaceae e Bacillaceae, cujos marcadores genéticos 16S rRNA apresentam baixa resolução para discriminação de gêneros próximos. Bactérias do gênero Asaia, em particular, foram identificadas tanto em Ae. aegypti quanto em Ae. albopictus, sendo considerada uma candidata promissora para aplicações em paratransgênese, dada sua capacidade de colonizar múltiplos tecidos do mosquito, ser cultivável, geneticamente manipulável e transmissível de forma horizontal e vertical. Bactérias simbióticas como Asaia e membros das Enterobacteriaceae, por exemplo, são de especial interesse por sua localização em tecidos como o epitélio intestinal, zona crítica para ativação imune do inseto e potencial interferência na infecção por patógenos. A continuidade do projeto prevê a realização de sequenciamento genômico de dois a três isolados bacterianos, com o objetivo de caracterizar sua genômica funcional e avaliar sua adequação para manipulação genética. Esses avanços permitirão explorar mais profundamente a ecologia dos simbiontes e viabilizar sua utilização em programas de controle biotecnológico de vetores.