Bolsista: LORENA SILVA GOUVEA ZAO
Orientador(a): ALEJANDRO MARCEL HASSLOCHER MORENO
Resumo: Justificativa e Relevância: A doença de Chagas (DC) ainda representa nos dias de hoje um grave problema de saúde pública na América Latina. A fase crônica da DC apresenta três formas clínicas bem definidas: a forma indeterminada (FI); a forma cardíaca (FC); e a forma digestiva (FD). Estudos evidenciam que pacientes com DC podem apresentar prejuízos psicológicos, tanto cognitivos, quanto relacionados à percepção de bem-estar apresentando associação com depressão, tristeza, insatisfação com a qualidade de vida, maior estresse e menor capacidade de resiliência. Os prejuízos psicológicos podem ser avaliados por meio de testes psicológicos, entre eles a Escala de Afetos Positivos e Negativos (PANAS). Objetivos: Verificar níveis de bem-estar em termos de afetos positivos e negativos em pacientes diagnosticados com DC e comparar os níveis de bem-estar nas diferentes formas clínicas da DC. Metodologia: Estudo observacional seccional, aprovado pelo CEP do INI (6.682.712), no qual foram incluídos pacientes com DC crônica de ambos os sexos, com idade acima de 18 anos, independente de classe social ou cor, e que atendiam às seguintes condições: diagnóstico sorológico positivo para a infecção pelo T. cruzi, confirmado através de duas técnicas sorológicas; e brasileiros natos. Foram excluídos pacientes que apresentaram alterações cognitivas que impossibilitavam realizar os testes psicológicos. Foram feitas as seguintes avaliações: Sociodemográfica; Clínico-Epidemiológica; Eletrocardiográfica; Ecocardiográfica; e Psicológica. Os dados foram descritos por meio de média (desvio padrão) para as variáveis contínuas e percentual (frequência) para as variáveis categóricas. Foi realizado um teste t de Student para comparar os pacientes com e sem cardiopatia, e um teste U de Mann-Whitney com o mesmo objetivo, porém comparando pacientes com e sem megaesôfago/megacólon Resultados: Foram avaliados 213 pacientes com média de idade de 66,5 anos (DP = 9,33). Desses, 61% eram mulheres, 46% se consideram pardos, 43% brancos e 11,3% negros, e 77,4% tinham até nove anos de instrução formal. Em relação às formas clínicas da doença, 99 (46,5%) tinham a FI, 91 (42,7%) a FC e 23 (10,8%) a FD. Além das perguntas sociodemográficas, os pacientes também responderam a PANAS. Foi observada diferença significativa quanto aos afetos positivos (AP) entre pacientes com e sem comprometimento cardíaco (t(197) = -2,45; p = 0,02; d = -0,35), tendo os pacientes com a FC apresentado médias menores de AP (M = 3,28; DP = 0,79), do que os pacientes com a FI ou FD (M = 3,54; DP = 0,75). No entanto, pacientes com a FD não apresentaram diferenças quanto aos afetos positivos e afetos negativos (AN) em comparação com a FI e FC (AP: U = 1857; p = 0,96, rrb = -0,01; AN: U = 1525; p = 0,14; rrb = 0,20).Conclusão: Os achados sugerem que pacientes com cardiopatia chagásica apresentam níveis menores de afetos positivos do que aqueles sem essa condição, ressaltando a necessidade de intervenções psicológicas direcionadas. O tamanho de efeito, ainda que pequeno, indica que a condição clínica pode desempenhar um papel significativo na saúde mental dos pacientes. Embora a diferença nos níveis de AN e AP entre pacientes com e sem comprometimento digestivo não tenha sido significativa, pacientes com megaesôfago/megacólon obtiveram medianas maiores, indicando uma maior vulnerabilidade emocional nesse grupo. Esses resultados enfatizam a importância de oferecer apoio psicológico para indivíduos com a DC, com ênfase naqueles que apresentam alterações clínicas, em especial as manifestações cardíacas.