Bolsista: Matheus Trabuco Gonzalez
Orientador(a): Guilherme de Sousa Ribeiro
Resumo: Introdução: A dengue, principal arbovirose global, apresenta ampla variabilidade clínica, influenciada por fatores como idade, sorotipo viral e tipo de infecção (primária ou secundária). Este estudo buscou caracterizar essas diferenças em pacientes atendidos em Salvador-BA entre 2009 e 2024, visando aprimorar o diagnóstico e o manejo clínico da doença. Objetivos: investigar a variabilidade clínico-laboratorial da dengue entre diferentes grupos etários, sorotipos virais e tipos de infecção. Métodos: Foi realizado um estudo de vigilância para doenças febris e exantemáticas agudas em uma Unidade de Atendimento no bairro de São Marcos, Salvador, entre 2009 e 2024. Dados sobre sinais e sintomas foram coletados através de entrevistas com questionários padronizados e resultados laboratoriais foram obtidos por revisão de prontuários. Amostras de sangue das fases aguda e convalescente da doença foram coletadas para diagnóstico laboratorial da dengue por RT-PCR e testes de ELISA para detecção do antígeno NS1 e anticorpos IgM contra o vírus da dengue (DENV). A confirmação de casos foi determinada por positividade por RT-PCR, NS1 ou soroconversão de IgM. ELISA para detecção de anticorpos IgG na amostra de fase aguda dos casos confirmados foi usado para identificar infecções primárias (amostras IgG negativo) e secundárias (amostras IgG positivo). PCR convencional foi realizado nas amostras de fase aguda para sorotipar o DENV. Resultados: Foram analisados dados de 12.777 pacientes com febre ou exantema, dos quais 978 (7,7%) tiveram dengue confirmada por RT-PCR, NS1 ou soroconversão de IgM. Crianças (0-9 anos) apresentaram menor frequência de sintomas clássicos como mialgia (43%), dor retro-orbital (32%) e artralgia (26%) em comparação a adultos com 20-49 anos (90%, 74%, 65%, respectivamente, P<0,01 para todas as comparações). Por outro lado, náuseas/vômitos foram mais frequentes em crianças (41%) do que em adultos (30%) (P<0,01). Infecções secundárias associaram-se a maior frequência de mialgia (80%), cefaleia (89%) e artralgia (55%), além de maior trombocitopenia (45%) e linfopenia (51%) em comparação a infecções primárias (59%, 77%, 38%, 26% e 36%, respectivamente, P<0,05 para todas as comparações). DENV-1 destacou-se por maior frequência de dor abdominal (30%) e desmaio (22%), enquanto DENV-2 e DENV-4 apresentaram menor frequência desses sintomas (dor abdominal: 1,2%, 7,3%; desmaio: 0,4%, 6,8%, respectivamente, P<0,01). DENV-3 associou-se a maior ocorrência de sangramentos (21%) quando comparado a DENV1,2 e 4 (6,7%, 5,5%, 5,3%, respectivamente, P=0,04). Na análise multivariada, a idade foi o principal determinante da variabilidade clínica, independentemente do sorotipo ou tipo de infecção. Conclusão: Os achados demonstraram que a variabilidade clínica da dengue é mais fortemente influenciada pela idade, com crianças apresentando sintomas típicos da dengue, como dor retro orbicular, menos frequentemente que os adultos. A maior frequência de trombocitopenia e linfopenia em infecções secundárias corroboram a noção de maior gravidade nessas infecções, ao passo que as diferenças em sintomas observadas entre sorotipos de DENV sugere padrões fisiopatológicos distintos de acordo com o sorotipo infectante. A identificação de padrões sintomáticos específicos para diferentes grupos pode aprimorar os algoritmos de triagem e auxiliar na vigilância epidemiológica, especialmente em cenários com acesso limitado a exames laboratoriais.