Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Desenvolvimento e validação de um escore de predição clínica para risco de cronificação em chikungunya
Bolsista: Matheus Trabuco Gonzalez
Orientador(a): Guilherme de Sousa Ribeiro
Resumo: Introdução: A dengue, principal arbovirose global, apresenta ampla variabilidade clínica, influenciada por fatores como idade, sorotipo viral e tipo de infecção (primária ou secundária). Este estudo buscou caracterizar essas diferenças em pacientes atendidos em Salvador-BA entre 2009 e 2024, visando aprimorar o diagnóstico e o manejo clínico da doença. Objetivos: investigar a variabilidade clínico-laboratorial da dengue entre diferentes grupos etários, sorotipos virais e tipos de infecção. Métodos: Foi realizado um estudo de vigilância para doenças febris e exantemáticas agudas em uma Unidade de Atendimento no bairro de São Marcos, Salvador, entre 2009 e 2024. Dados sobre sinais e sintomas foram coletados através de entrevistas com questionários padronizados e resultados laboratoriais foram obtidos por revisão de prontuários. Amostras de sangue das fases aguda e convalescente da doença foram coletadas para diagnóstico laboratorial da dengue por RT-PCR e testes de ELISA para detecção do antígeno NS1 e anticorpos IgM contra o vírus da dengue (DENV). A confirmação de casos foi determinada por positividade por RT-PCR, NS1 ou soroconversão de IgM. ELISA para detecção de anticorpos IgG na amostra de fase aguda dos casos confirmados foi usado para identificar infecções primárias (amostras IgG negativo) e secundárias (amostras IgG positivo). PCR convencional foi realizado nas amostras de fase aguda para sorotipar o DENV. Resultados: Foram analisados dados de 12.777 pacientes com febre ou exantema, dos quais 978 (7,7%) tiveram dengue confirmada por RT-PCR, NS1 ou soroconversão de IgM. Crianças (0-9 anos) apresentaram menor frequência de sintomas clássicos como mialgia (43%), dor retro-orbital (32%) e artralgia (26%) em comparação a adultos com 20-49 anos (90%, 74%, 65%, respectivamente, P<0,01 para todas as comparações). Por outro lado, náuseas/vômitos foram mais frequentes em crianças (41%) do que em adultos (30%) (P<0,01). Infecções secundárias associaram-se a maior frequência de mialgia (80%), cefaleia (89%) e artralgia (55%), além de maior trombocitopenia (45%) e linfopenia (51%) em comparação a infecções primárias (59%, 77%, 38%, 26% e 36%, respectivamente, P<0,05 para todas as comparações). DENV-1 destacou-se por maior frequência de dor abdominal (30%) e desmaio (22%), enquanto DENV-2 e DENV-4 apresentaram menor frequência desses sintomas (dor abdominal: 1,2%, 7,3%; desmaio: 0,4%, 6,8%, respectivamente, P<0,01). DENV-3 associou-se a maior ocorrência de sangramentos (21%) quando comparado a DENV1,2 e 4 (6,7%, 5,5%, 5,3%, respectivamente, P=0,04). Na análise multivariada, a idade foi o principal determinante da variabilidade clínica, independentemente do sorotipo ou tipo de infecção. Conclusão: Os achados demonstraram que a variabilidade clínica da dengue é mais fortemente influenciada pela idade, com crianças apresentando sintomas típicos da dengue, como dor retro orbicular, menos frequentemente que os adultos. A maior frequência de trombocitopenia e linfopenia em infecções secundárias corroboram a noção de maior gravidade nessas infecções, ao passo que as diferenças em sintomas observadas entre sorotipos de DENV sugere padrões fisiopatológicos distintos de acordo com o sorotipo infectante. A identificação de padrões sintomáticos específicos para diferentes grupos pode aprimorar os algoritmos de triagem e auxiliar na vigilância epidemiológica, especialmente em cenários com acesso limitado a exames laboratoriais.
Otimização metodológica para determinação da atividade das enzimas acetilcolinesterase e butirilcolinesterase em trabalhadores expostos a agrotóxicos
Bolsista: PEDRO CARNEIRO MENEZES GUEDES
Orientador(a): ARIANE LEITES LARENTIS
Resumo: O uso dos agrotóxicos teve início no século XIX. Desde então, diversos produtos (químicos, físicos e biológicos) foram desenvolvidos e utilizados no combate de pragas agrícolas e urbanas. Em 2008, o Brasil alcançou a posição de maior consumidor mundial de agrotóxicos, em grande parte devido à indústria agrícola. O aumento no consumo de agrotóxico levou, consequentemente, ao aumento da exposição de trabalhadores e trabalhadoras. Os principais grupos expostos ocupacionalmente são os trabalhadores do setor agrícola e da saúde pública (da área de controle de vetores e pragas urbanas). O projeto principal relacionado a este estudo envolve a avaliação da exposição de trabalhadores agentes de combate às endemias (ACE). Estes profissionais têm um histórico de exposição ocupacional aos agrotóxicos, dentre eles alguns do tipo organofosforados e carbamatos. A avaliação da exposição aos agrotóxicos pode ser clínica, laboratorial e/ou epidemiológica. Na avaliação laboratorial (toxicológica) da exposição aos agrotóxicos são utilizados os biomarcadores que se relacionam com a intensidade da exposição e ao risco à saúde. A exposição prolongada a diversos agentes atinge o sistema nervoso humano, principalmente os inibidores de colinesterases, como os organofosforados e carbamatos. Para avaliação da exposição a estes agrotóxicos usa-se os biomarcadores de efeito acetilcolinesterase (AChE) e butirilcolinesterase (BChE). A AChE é uma enzima presente no sistema nervoso e nas hemácias, entre outros tecidos, e a BChE é uma enzima presente no plasma, produzida pelo tecido hepático. A diminuição da atividade destes biomarcadores enzimáticos pode indicar se ocorreu a exposição, e em qual grau. O objetivo deste estudo é a otimização da metodologia analítica proposta por Oliveira-Silva e colaboradores (2000), para determinação da atividade das enzimas AChE e BChE em ACE expostos a agrotóxicos organofosforados e carbamatos, buscando uma maior eficiência no processo de análise, através da redução no tempo total gasto na execução da metodologia, redução no consumo de reagentes e prolongamento do tempo de armazenamento das amostras, pois o atual método usado em nosso laboratório foi desenvolvido há aproximadamente 25 anos atrás. Nesse tempo, alguns fatores mudaram e permitem hoje realizar o mesmo experimento em diferentes condições, que podem reduzir diversos parâmetros. Os testes de otimização metodológica apresentados nesse relatório parcial envolveram avaliar se o ultracongelamento a -80 ºC (ultrafreezer) aumenta o tempo de estabilidade dos analitos (enzimas AChE e BChE), assim como, avaliar a possibilidade de armazenamento das amostras em freezer e geladeira por maior tempo, o que permitiria o acúmulo, caso necessário, de amostras por maiores períodos, viabilizando a análise em batelada, o que reduz consideravelmente o tempo total dos experimentos e consumo de reagentes. Os dados obtidos até o momento demonstram que a enzima BChE apresenta boa estabilidade enzimática sob diferentes condições de armazenamento, especialmente em períodos de até 7 dias. A ausência de variações percentuais significativas em sua atividade enzimática, mesmo em temperaturas mais elevadas como a de geladeira (4°C), evidencia a viabilidade de sua utilização em estratégias de biomonitoramento, sobretudo em contextos nos quais há limitações de infraestrutura laboratorial local. Essa característica reforça a aplicabilidade da BChE como biomarcador em programas de vigilância em saúde do trabalhador, facilitando a coleta de amostras em campo e seu posterior encaminhamento para análise, sem prejuízo à integridade dos resultados. Os resultados preliminares demonstram que a AChE não é estável para armazenamento sob ultracongelamento. A continuidade do estudo permitirá a superação dessas limitações, ampliando a compreensão sobre a estabilidade desta enzima.
Caracterização de potenciais sítios de ubiquitinação identificados nos fatores de tradução EIF4G3 e EIF4G4 de tripanossomatídeos
Bolsista: LAURA DE SOUZA RODRIGUES SIQUEIRA
Orientador(a): Danielle Maria Nascimento Moura
Resumo: Os tripanossomatídeos são agentes causadores de enfermidades tais como doença de Chagas, doença do sono e as variadas formas de leishmaniose. Apesar de afetarem uma parcela significativa da população, ainda não se tem um tratamento com boa efetividade contra esses parasitos, evidenciando-se a importância de estudos que auxiliem no desenvolvimento de novas farmacoterapias. Sendo assim, estudos sobre a biologia de tripanossomatídeos podem auxiliar no desenvolvimento dessas novas terapias, com especial com foco nos seus mecanismos de síntese de proteínas (tradução). De modo geral, a tradução é um processo vital para as células, a qual é dividida em 4 etapas, sendo a etapa de iniciação a que mais sofre regulações. A iniciação é mediada por uma série de fatores de iniciação eucarióticos (eIFs), dentre os quais se destaca o complexo eIF4F. Esse complexo é formado pelas subunidades eIF4A (4A), eIF4E (4E) e eIF4G (4G), sendo a última uma proteína estrutural que oferece sítios de ligação a 4A, 4E e para outras proteínas parceiras da tradução. EIF4G3 e EIF4G4 são homólogos descritos como participantes da tradução nos tripanossomatídeos e análises preliminares sugerem que eles são regulados por proteólise. Assim, o objetivo do presente trabalho é investigar possíveis sítios de ubiquitinação presentes em EIF4G3 e EIF4G4 e a potencial regulação dos níveis desses fatores por meio da via ubiquitina-proteassoma. Potenciais resíduos ubiquitinados de EIF4G3 e EIF4G4 de Trypanosoma brucei foram preditos em plataformas online e aqueles com scores mais altos foram selecionados para a validação experimental. Os genes de interesse clonados em vetores de expressão apropriados foram modificados por mutagênese sítio-dirigida e as mutações foram confirmadas por sequenciamento. Após isso, células procíclicas de T. brucei foram transfectadas com os DNAs mutantes. Ensaios de western blot confirmaram a expressão das proteínas mutantes e o fenótipo de crescimento das linhagens foi avaliado. Até o momento, foram geradas 6 linhagens contendo os DNAs dos mutantes, sendo que 3 delas já tem expressão confirmada por western blot e curvas de crescimento indicam que as proteinas mutantes não causam diferenças significativas na taxa de crescimento nem na morfologia em T.brucei. Espera-se que esses resultados possam confirmar a acurácia dos preditores online quando aplicados em sequências de tripanossomatídeos e auxiliar no entendimento sobre a regulação da iniciação da tradução de mRNAs nos tripanossomatídeos.
Anticorpos neutralizantes contra vírus SARS-COV-2 no sangue e leite humano de lactantes previamente infectadas
Bolsista: LETICIA VICTORIA AMARAL CONCEICAO
Orientador(a): DANIELE MARANO ROCHA DE ALBUQUERQUE
Resumo: A aluna Leticia Victoria Amaral Conceição tem desempenhado as atividades com bastante rigor e desempenho, por isso solicito a renovação da bolsa dessa aluna. Dentre as atividades que a aluna está desempenhando, se destacam: 1) Pesquisa Bibliográfica: A aluna tem estudo e revisado a literatura existente sobre o tema de pesquisa; 2) Colaboração com o andamento da pesquisa, sobretudo em relação a organização no laboratório do IFF das amostras do leite e envio para o laboratório de manguinhos 3) Participação de treinamentos para uso do formulação de questionários no Redcap 4) Participação nas reuniões dessa pesquisa e do grupo de pesquisa da orientadora 5) Tem trabalhado em equipe com outros pesquisadores e alunos, trocando ideias e experiências.
Caracterização de marcadores relacionados à Transição EpitelioMesenquima (EMT) e Transição Mesenquimal-Epitelial (MET) em modelo in vivo de metástase óssea derivada do câncer de mama
Bolsista: EVERTON CORREA SOARES
Orientador(a): TATIANA MARTINS TILLI
Resumo: O projeto tem como foco a caracterização de marcadores moleculares associados à EMT e MET em linhagens murinas derivadas de câncer de mama triplo-negativo, com diferentes potenciais metastáticos (não-metastática: 67NR; metastática pulmonar: 66CL4; e altamente metastática, incluindo osso: 4T1). A EMT e a MET são processos centrais na progressão tumoral e na formação de metástases, especialmente para locais como a medula óssea.A EMT é caracterizada pela perda de adesão célula-célula e aquisição de fenótipo migratório, com expressão reduzida de proteínas epiteliais como E-caderina e aumento de marcadores mesenquimais, como vimentina e N-caderina. A MET ocorre na colonização do novo sítio metastático e representa o retorno a um fenótipo epitelial. Também foram abordadas as MMPs (MMP-2 e MMP-9), enzimas envolvidas na degradação da matriz extracelular e facilitadoras da invasão tumoral.Objetivos principais:Avaliar morfologia celular por microscopia de fluorescência;Analisar expressão de marcadores epiteliais e mesenquimais por imunofluorescência e western blot;Avaliar a atividade das MMPs por zimografia.Resultados parciais:As células 4T1 apresentaram morfologia fusiforme, fenótipo mesenquimal evidente, presença de protusões e baixos níveis de citoqueratina.A linhagem 66CL4 demonstrou características morfológicas intermediárias e níveis também intermediários de citoqueratina.A linhagem não-metastática 67NR manteve fenótipo epitelial típico, com morfologia poligonal, alta expressão de citoqueratina e contato célula-célula evidente.Esses achados sugerem uma correlação entre a morfologia celular, expressão de marcadores epiteliais e o potencial metastático das linhagens tumorais.As próximas etapas incluirão a quantificação da expressão de E-caderina e EpCAM por western blot, além da atividade de MMP-2 e MMP-9 por zimografia. Esses experimentos buscam aprofundar a compreensão dos mecanismos moleculares associados ao processo metastático, com foco em possíveis alvos terapêuticos para o câncer de mama triplo-negativo.
Efeito in vitro do LPG de L. major sobre a reprogramação de macrófagos co-cultivados com linhagem tumoral de mama triplo negativa de origem humana
Bolsista: Giovanna Melo Bruzzi Corrêa
Orientador(a): Erica Alessandra Rocha Alves
Resumo: O câncer de mama é a principal causa de morte por neoplasias entre mulheres no Brasil. Apesar dos avanços terapêuticos, os tratamentos convencionais ainda apresentam eficácia limitada e estão associados a efeitos adversos significativos. Nesse cenário, cresce o interesse por abordagens inovadoras, especialmente aquelas que envolvem a modulação da resposta imune no microambiente tumoral. Estudos tem demonstrado que agonistas do TLR2 podem reprogramar macrófagos do fenótipo M2, associado à imunossupressão e progressão tumoral, para o fenótipo M1, caracterizado por atividade pró-inflamatória e antitumoral. Essa plasticidade funcional dos macrófagos tem sido apontada como uma via promissora para terapias contra o câncer. O lipofosfoglicano (LPG) de L. (L.) major é um glicoconjugado de superfície conhecido por interagir com TLRs, especialmente o TLR2, ativando vias inflamatórias em macrófagos. Diante desse potencial imunomodulador, o LPG surge como candidato à reprogramação de macrófagos em contextos oncológicos. Portanto, este projeto tem como objetivo avaliar se o LPG de L. (L.) major é capaz de induzir a reprogramação de macrófagos do fenótipo M2 para M1 em um modelo in vitro de câncer de mama triplo negativo. Também se busca investigar se as alterações fenotípicas e funcionais induzidas pelo LPG nos macrófagos promoverão à redução da proliferação e viabilidade das células tumorais. Para a condução do estudo, células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) foram isoladas de voluntárias saudáveis, com idades entre 18 e 60 anos. As PBMCs (4 × 10 células) foram distribuídas em placas de 96 poços para adesão dos monócitos. Após 2 horas, o meio foi trocado para remoção das células não aderentes, e os monócitos foram incubados por 96 horas para a diferenciação em macrófagos. Na sequência, visando induzir um perfil pró-tumoral, os macrófagos foram incubados por 72 horas com meio de condicionamento constituído por partes iguais de DMEM suplementado com 10% de SFB e sobrenadante de cultura de células MDA-MB-231 (linhagem triplo-negativa de câncer de mama). Após esta etapa, os macrófagos foram tratados com LPG (10 µg/mL) por 72 e 96 horas. A viabilidade celular foi avaliada por MTT e o número de células viáveis foi quantificado com azul de Tripan. O perfil fenotípico foi analisado por citometria de fluxo, e os sobrenadantes foram coletados para quantificação de citocinas, por citometria de fluxo, e de óxido nítrico (NO) e peróxido de hidrogênio (H2O2), por método colorimétrico. Também foi investigado o efeito dos sobrenadantes oriundos dos macrófagos incubados com meio de condicionamento contendo LPG sobre a proliferação e a viabilidade das células MDA-MB-231, além do efeito direto do LPG sobre a proliferação e a viabilidade células tumorais de mama. Os resultados obtidos mostraram que a concentração de 10 µg/mL de LPG não foi tóxica para os macrófagos, permitindo sua aplicação nas análises funcionais. Observou-se ainda que o meio de condicionamento induziu um fenótipo híbrido nos macrófagos, com coexpressão de marcadores M1 e M2, e que o tratamento com LPG não modificou esse perfil. Contudo, os sobrenadantes dos macrófagos expostos ao meio de condicionamento contendo LPG reduziram a proliferação das células MDA-MB-231. Adicionalmente, o LPG, de forma isolada, não afetou a viabilidade ou a proliferação das células tumorais, sugerindo que seu efeito depende da mediação dos macrófagos. Assim, embora o LPG não tenha promovido mudanças fenotípicas marcantes, é possível que tenha induzido alterações funcionais relevantes associadas à liberação de mediadores solúveis, como citocinas, NO e H2O2, com potencial efeito antitumoral. A quantificação desses mediadores será realizada na continuidade do estudo. Embora os mecanismos exatos ainda não estejam completamente claros, os dados obtidos até o momento sugerem que o LPG de L. (L.) major possui potencial para ser utilizado como uma estratégia imunoterapêutica no contexto do câncer de mama.
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