Bolsista: JULIA DUTRA VAZ
Orientador(a): Arthur Daniel Rocha Alves
Resumo: O Parvovírus B19 (B19V) tem um genoma DNA fita simples, com 5596 nucleotídeos, e está associado à uma ampla gama de manifestações clínicas, como: eritema infeccioso, hidropsia fetal, anemia severa ou crise aplástica transitória. Embora tenha um genoma altamente conservado, em mais de 80% entre os isolados, o B19V apresenta três genótipos (1, 2 e 3) que pode ser acessado, via sequenciamento em amostras clínicas, levando a um rastreamento epidemiológico mais preciso. A variabilidade genética de B19V encontrada em um estudo piloto demonstrou a ocorrência de quasispecies na população de estudo avaliada. Em gestantes, mesmo imunocompetentes, a infecção pelo B19V pode resultar em hidropsia e óbito fetal, consequentes de anemia grave. Desta forma, o objetivo do estudo é determinar a variabilidade genética de achados de B19V em gestantes com intuito de correlacionar aos diferentes desfechos dessa infecção. Assim, foram amplificadas as sequências do DNA viral (genoma completo) e aplicada a metodologia de sequenciamento de nova geração (NGS) conforme a plataforma Ion (TermoFisher). Para tanto, foram testadas por métodos sorológicos e moleculares 66 amostras de soro de gestantes atendidas no Instituto Nacional de Infectologia (INI-Fiocruz) entre dezembro/2015 e agosto/2019, com sinais e sintomas sugestivos, porém negativos, de infecção por arboviroses (Dengue, Zika e Chikungunya) e amostras de soro (n=151) de gestantes com suspeita de infecção congênita, coletadas em 2024 (IFF). A infecção por B19V foi avaliada através da detecção de anticorpos anti-B19V IgM e IgG, por ELISA; e através da detecção e quantificação da carga viral por semi-nested PCR e qPCR. Foi realizado o sequenciamento nucleotídico para caracterizar os genótipos virais. A infecção por B19V foi detectada em 27 gestantes com suspeita de arboviroses, sendo 14 com infecção aguda e 13 com infecção persistente, indicando uma incidência de 21,2% e uma prevalência de 74,2%. Já entre as gestantes com suspeita de infecção congênita, 11 apresentavam infecção por B19V, sendo 8 com infecção aguda e 3 persistentes, indicando uma uma incidência de 5,2% e prevalência de 60,9%. Todas as amostras sequenciadas pertenciam ao genótipo 1a. Entre as gestantes com suspeita de arboviroses, foi observada uma chance de aborto 4 vezes maior naquelas infectadas com B19V, comparadas as não-infectadas (OR=4,66 95%CI 1,05-20,66; p=0.004). Já com relação ao NGS, este foi realizado, porém a análise dos resultados ainda está sendo feita pela equipe de bioinformática do projeto. Com a ausência de medidas profiláticas e de tratamento específico, os resultados deste trabalho destacam a importância de realizar o diagnóstico diferencial num contexto de tríplice epidemia viral por arboviroses e de incluir o diagnóstico no exame pré-natal de gestantes que apresentem sinais clínicos e achados sugestivos, como forma de permitir manejo adequado e implementação de estratégias terapêuticas, evitando a evolução para um desfecho negativo.