Bolsista: Rebeca de Faria Conceição Nunes
Orientador(a): OTACILIO DA CRUZ MOREIRA
Resumo: Atualmente, não há vacinas profiláticas ou terapêuticas eficazes para a doença de Chagas, o que representa um grande obstáculo para o controle da doença. O tratamento medicamentoso é realizado com Benznidazol, que se mostrou eficaz na fase aguda da infecção, com uma taxa de cura que varia de 60% a 85%. No entanto, a eficácia do Benznidazol na fase crônica da doença é controversa, sendo necessário um acompanhamento clínico rigoroso (Chavez-Fumagalli; Pereira, 2019). O acompanhamento terapêutico é frequentemente feito com a soroconversão em testes sorológicos convencionais, considerados o padrão ouro para avaliação da resposta ao tratamento. Contudo, esse processo pode levar anos ou até décadas para ser concluído, o que dificulta a avaliação imediata da eficácia do tratamento (Rassi et al., 2010). Nesse cenário, o desenvolvimento de marcadores moleculares para monitorar a resposta terapêutica é uma área de intensa pesquisa. Os microRNAs (miRNAs) emergem como ferramentas promissoras nesse contexto. Esses pequenos RNAs de fita simples e não codificantes desempenham um papel crucial na regulação da expressão de genes, afetando a função celular. Além disso, diversos patógenos, incluindo vírus, bactérias e protozoários, são capazes de manipular as redes de miRNAs nas células hospedeiras infectadas, influenciando diretamente a resposta imunológica e a progressão da infecção (Jorge et al., 2021). Um estudo anterior realizado por nosso grupo (Farani et al., 2023) investigou a expressão de miRNAs no tecido cardíaco de camundongos infectados cronicamente com T. cruzi, destacando um miRNA específico, o miRNA-146b-5p, como um potencial biomarcador de resposta terapêutica, devido ao seu papel crucial na regulação da resposta inflamatória. Este miRNA atua como modulador de vias imunológicas, interferindo na sinalização de fatores inflamatórios que são centrais na patogênese da doença de Chagas. Em experimentos confirmatórios, observamos que o miRNA-146b-5p apresentou níveis de expressão significativamente elevados no grupo infectado (3,92±0,97) em comparação com o grupo não infectado (1,48±0,69), e uma redução expressiva (0,56±0,19) após o tratamento com Benznidazol, indicando uma possível correlação com a resposta terapêutica. Diante desses resultados preliminares, formulamos a hipótese de que o miRNA-146b-5p poderia ser um marcador eficaz para monitorar a resposta ao tratamento com Benznidazol em pacientes crônicos com doença de Chagas. Para testar essa hipótese, propomos um estudo com pacientes crônicos oriundos do Brasil, avaliando os níveis de miRNA-146b-5p no sangue antes e até um ano após o tratamento com Benznidazol. A coleta das amostras será realizada nos diferentes momentos para análise da variação dos níveis desse miRNA, permitindo observar possíveis mudanças ao longo do tratamento e no acompanhamento posterior. A confirmação de que este miRNA pode atuar como biomarcador de resposta terapêutica teria implicações significativas no avanço do tratamento da doença de Chagas, possibilitando não apenas a otimização dos tratamentos existentes, mas também a avaliação de novas terapias ou esquemas terapêuticos.