Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Avaliação do potencial antioxidante do extrato hidroalcoolico da semente de Euterpe oleracea Mart. (Açaí)
Bolsista: GIOVANA MARINHO ARBUSTI
Orientador(a): FLAVIA DE OLIVEIRA CARDOSO
Resumo: O açaí é um dos alimentos funcionais mais populares da Amazônia e amplamente utilizado no mundo. Há muitos benefícios em seu uso no crescente mercado de nutracêuticos. Os extratos de açaí possuem uma gama de componentes polifenólicos que estão ligados principalmente às atividades antioxidante, anti-inflamatória, antiproliferativa e cardioprotetora. A doença de Chagas é uma infecção parasitária causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi que afeta o sistema cardíaco, digestivo e neurológico. A infecção induz uma resposta inflamatória, que, embora desejada, sua persistência e magnitude podem levar a danos nos tecidos e ao desenvolvimento das sintomatologias da doença. Nesse contexto, o combate à inflamação e ao estresse oxidativo desencadeado por ela, é uma das frentes para seu tratamento. A principal terapia para a doença de Chagas é o benznidazol, porém, o longo tempo de tratamento e a alta toxicidade são fatores limitantes, além do mesmo possuir baixa eficácia para a fase crônica da doença e não apresentar ação anti-inflamatória/anti-oxidante. Desta forma, novas estratégias terapêuticas que visem à diminuição do tempo de tratamento, evitem o progresso da doença, ou que possam ser utilizadas em associação a terapia estabelecida e atuem no combate à inflamação/estresse oxidativo são de grande importância. Diversos estudos demonstram o uso de anti-inflamatórios em associação com o benznidazol como nova terapia para tratamento da doença de Chagas. Estudos evidenciam que os polifenóis de plantas atuam como inibidores de NF-kB, um mediador central da inflamação e regulador dos genes responsáveis pelas respostas imunes inata e adaptativa, representando um alvo para o tratamento de doenças inflamatórias. O açaí, fruto popularmente utilizado principalmente pelo estado do Maranhão e Pará, tem sido estudado e revelou possuir ação antioxidante e anti-inflamatória. Estudos com o extrato polifenólico do açaí demonstraram que o tratamento diminui os níveis de mRNA do fator nuclear kappa B (NF-kB), demonstrando seu potencial anti-inflamatório. Em outro estudo, o tratamento com a fração acetato de etila das sementes de Euterpe oleracea (Açaí) diminuiu o edema de pata induzido por carragenina, assim como a produção de citocinas pró inflamatórias como IL-1Beta, IL-6 e IL-12 por macrófagos estimulados por LPS, demonstrando seu potencial anti-inflamatório, além de não exercer ação citotóxica sobre a célula hospedeira. Com base nestes estudos, o presente trabalho visa investigar o potencial antioxidante do extrato hidroalcoolico da semente de Euterpe oleracea Mart in vitro. O estudo contempla a análise química dos extratos por espectrometria de massas e cromatografia líquida, teste de citotoxicidade, testes de quantificação de flavonóides e testes de atividade antioxidante (DPPH, FRAP, ABTS). Os resultados preliminares obtidos demonstraram que o extrato hidroalcoolico das sementes de E. oleracea apresenta predominância de compostos polares como: dímero de procianidina B1 e catequina. O extrato também demonstrou ser rico em flavonóides (15,44±0,16 µM de equivalente de quercetina por grama de amostra) e apresentou promissora ação antioxidante.
Novas drogas para tratamento da doença de Chagas: Avaliação do potencial anti-inflamatório, antioxidante e tripanocida da fração acetato de etila da semente de Euterpe oleracea Mart. (Açaí)
Bolsista: RAPHAEL DE LUCENA BANAGGIA
Orientador(a): FLAVIA DE OLIVEIRA CARDOSO
Resumo: Euterpe oleracea Mart. é uma palmeira tropical nativa da região amazônica. Seu fruto, comumente conhecido como açaí, ganhou amplo reconhecimento por seu potencial terapêutico, impulsionando a expansão de estudos farmacológicos para validar seus usos tradicionais. Aproveitar sementes de açaí em pesquisas não apenas mitiga impactos ambientais, mas também permite a identificação de compostos bioativos com potenciais aplicações farmacológicas, incluindo o desenvolvimento de medicamentos. Assim, o presente trabalho tem como objetivo investigar as atividades antioxidante e anti-inflamatória da fração acetato de etila de sementes de açaí in vitro. Os resultados deste estudo mostraram que a fração acetato de etila apresentou a predominância de compostos polares como como catequinas e procianidinas, de acordo com LC-MS/MS. A fração demonstrou ser rica em flavonoides e também apresentou atividade antioxidante significativa (FRAP: 4516,00±58,07 Eq Trolox/g composto; DPPH: IC50 3,93±0,26 µg/. mL; ABTS+: IC50 34,65±0,35 µg/mL). Além disso, o tratamento com a fração acetato de etila também apresentou ação anti-inflamatória sobre macrófagos peritoneais estimulados por LPS, diminuindo a produção de NO e IL-12, especialmente na concentração de 500 microg/mL e não apresentou efeito citotóxico sobre macrófagos peritoneais (IC50 >500 microg/mL1). Esses resultados demonstram que os bioprodutos derivados de sementes de E. oleracea são promissores e podem ser utilizados futuramente como agentes seguros e eficazes para o desenvolvimento de novas terapias antioxidantes e anti-inflamatórias contra uma variedade de patologias inflamatórias, incluindo a doença de Chagas.
Reações adversas relacionadas ao tratamento da infecção latente por Mycobacterium tuberculosis
Bolsista: LAIS TOMAZ DOS SANTOS
Orientador(a): VALERIA CAVALCANTI ROLLA
Resumo: A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a tuberculose a principal causa de morte por agente infeccioso e classifica o Brasil como um dos 30 países prioritários para seu controle. O tratamento da infecção latente por tuberculose (ILTB) é essencial para prevenir a ativação da doença e a propagação do bacilo. Nossa pesquisa visa contribuir para um melhor entendimento das reações adversas associadas ao tratamento da ILTB, com o objetivo de aprimorar as estratégias de controle e tratamento da tuberculose no Brasil. O objetivo do nosso estudo é descrever as reações adversas ao tratamento encurtado da ILTB (3HP) em contactantes de pacientes com tuberculose pulmonar. A pesquisa é um estudo de coorte retrospectivo, realizado no LAPCLIN/TB, que envolve a coleta de dados de pacientes entre outubro de 2023 e abril de 2025. A coleta de dados incluiu informações demográficas, comorbidades e reações adversas, que foram classificadas por intensidade e relação com o tratamento. A análise foi feita quanto à ocorrência e tipo de reações adversas, utilizando um banco de dados estruturado. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do INI. Nos primeiros meses do estudo, foram recrutados 159 participantes, dos quais 48 iniciaram o tratamento com 3HP. Incluimos nas analises preliminares 25 participantes até o momento. Vinte e cinco participantes foram incluídos nas análises sendo 18 do sexo feminino e na grande maioria se autodeclararam negros (43%). A idade média dos participantes foi de 45 anos. As reações adversas encontradas foram agrupadas em síndromes e as mais prevalentes foram síndromes osteomusculares e gastrointestinais. As intensidades das reaçoes relatadas foram graus 1 e 2, ou seja consideradas leves. Apenas dois pacientes interromperam o tratamento devido as reaçoes adversas. Os dados preliminares indicam uma diversidade de condições de saúde entre os participantes. As perspectivas futuras incluem a inclusão de novos participantes e a análise comparativa com outros esquemas de tratamento, além da apresentação dos resultados em congressos científicos.
Isolamento de vírus respiratórios em amostras clínicas de SG e SRAG provenientes da rede de vigilância laboratorial de Influenza do Ministério da Saúde.
Bolsista: BEATRIZ BONSAVER DIAS FERREIRA
Orientador(a): BRAULIA COSTA CAETANO
Resumo: As infecções por vírus respiratórios (VR) como SARS-CoV-2, Influenza, Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e Adenovírus são problemas de saúde pública com importante impacto social e econômico, não apenas pelo fato de as infecções estarem associadas a temporadas anuais de doenças respiratórias, mas também pelo risco da emergência de epidemias e pandemias. Um dos pilares das estratégias de prevenção e controle das infecções respiratórias virais é o monitoramento epidemiológico contínuo e robusto dos VR circulantes na população. Isso envolve tanto a detecção de vírus associados a quadros respiratórios, por meio da testagem em massa de espécimes clínicos, quanto a análise genética, antigênica e fenotípica dos VR presentes em amostras positivas. Isso permite acompanhar a dinâmica evolutiva dos vírus sazonais em diferentes regiões, ajustando-se as estratégias de controle ao cenário epidemiológico local. Também permite detectar precocemente emergência de linhagens que ofereçam maior risco a população, como por exemplo, variantes virais mais transmissíveis e patogênicas, ou que escapem da resposta vacinal, ou que sejam resistentes a antivirais em uso. Enquanto a detecção e sequenciamento viral podem ser realizados a partir das amostras clínicas dos pacientes, os estudos antigênicos e funcionais são realizados por meio de técnicas in vitro que dependem previamente de cultivo celular e isolamento e propagação de amostras virais a partir de espécimes clínicos positivos. A antigenicidade viral é avaliada em ensaios sorológicos - como por exemplo, inibição de hemaglutinação (HI), microneutralização (MNT), ensaio de redução de placas ou focos (PRNT) - nos quais os isolados virais são desafiados com amostras de soro produzidas contra os próprios isolados ou pela vacinação. Nos estudos funcionais de avaliação de sensibilidade/resistência a antivirais, a replicação viral é medida, por meio de diferentes técnicas, na presença ou ausência de compostos antivirais de interesse. O presente subprojeto de IC propõe o isolamento de amostras de vírus Influenza para estudos antigênicos e funcionais.
Avaliação do miRNA-146b-5p como biomarcador de resposta terapêutica em pacientes com a doença de Chagas crônica tratados com benznidazol
Bolsista: Rebeca de Faria Conceição Nunes
Orientador(a): OTACILIO DA CRUZ MOREIRA
Resumo: Atualmente, não há vacinas profiláticas ou terapêuticas eficazes para a doença de Chagas, o que representa um grande obstáculo para o controle da doença. O tratamento medicamentoso é realizado com Benznidazol, que se mostrou eficaz na fase aguda da infecção, com uma taxa de cura que varia de 60% a 85%. No entanto, a eficácia do Benznidazol na fase crônica da doença é controversa, sendo necessário um acompanhamento clínico rigoroso (Chavez-Fumagalli; Pereira, 2019). O acompanhamento terapêutico é frequentemente feito com a soroconversão em testes sorológicos convencionais, considerados o padrão ouro para avaliação da resposta ao tratamento. Contudo, esse processo pode levar anos ou até décadas para ser concluído, o que dificulta a avaliação imediata da eficácia do tratamento (Rassi et al., 2010). Nesse cenário, o desenvolvimento de marcadores moleculares para monitorar a resposta terapêutica é uma área de intensa pesquisa. Os microRNAs (miRNAs) emergem como ferramentas promissoras nesse contexto. Esses pequenos RNAs de fita simples e não codificantes desempenham um papel crucial na regulação da expressão de genes, afetando a função celular. Além disso, diversos patógenos, incluindo vírus, bactérias e protozoários, são capazes de manipular as redes de miRNAs nas células hospedeiras infectadas, influenciando diretamente a resposta imunológica e a progressão da infecção (Jorge et al., 2021). Um estudo anterior realizado por nosso grupo (Farani et al., 2023) investigou a expressão de miRNAs no tecido cardíaco de camundongos infectados cronicamente com T. cruzi, destacando um miRNA específico, o miRNA-146b-5p, como um potencial biomarcador de resposta terapêutica, devido ao seu papel crucial na regulação da resposta inflamatória. Este miRNA atua como modulador de vias imunológicas, interferindo na sinalização de fatores inflamatórios que são centrais na patogênese da doença de Chagas. Em experimentos confirmatórios, observamos que o miRNA-146b-5p apresentou níveis de expressão significativamente elevados no grupo infectado (3,92±0,97) em comparação com o grupo não infectado (1,48±0,69), e uma redução expressiva (0,56±0,19) após o tratamento com Benznidazol, indicando uma possível correlação com a resposta terapêutica. Diante desses resultados preliminares, formulamos a hipótese de que o miRNA-146b-5p poderia ser um marcador eficaz para monitorar a resposta ao tratamento com Benznidazol em pacientes crônicos com doença de Chagas. Para testar essa hipótese, propomos um estudo com pacientes crônicos oriundos do Brasil, avaliando os níveis de miRNA-146b-5p no sangue antes e até um ano após o tratamento com Benznidazol. A coleta das amostras será realizada nos diferentes momentos para análise da variação dos níveis desse miRNA, permitindo observar possíveis mudanças ao longo do tratamento e no acompanhamento posterior. A confirmação de que este miRNA pode atuar como biomarcador de resposta terapêutica teria implicações significativas no avanço do tratamento da doença de Chagas, possibilitando não apenas a otimização dos tratamentos existentes, mas também a avaliação de novas terapias ou esquemas terapêuticos.
Desenvolvimento de uma metodologia point-of-care para a detecção molecular de Trypanosoma cruzi em surtos orais da doença de Chagas na região Norte do Brasil
Bolsista: Vinícius Ferreira de Barros Correa
Orientador(a): OTACILIO DA CRUZ MOREIRA
Resumo: A doença de Chagas (DC) oral é causada através da ingestão de alimentos contaminados com triatomíneos infectados ou suas fezes, tais como açaí, bacaba, cana-de-açúcar entre outros. Atualmente, esta forma de transmissão é responsável por cerca de 70% dos novos casos de DC no Brasil, sendo a maioria na região Norte. Uma das principais medidas para o seu controle é a realização do efetivo controle de qualidade dos alimentos associados aos surtos. O uso da PCR para a detecção de DNA de T. cruzi em amostras de sangue humano, triatomíneos e açaí já foi descrito na literatura como bastante promissor neste cenário epidemiológico. Entretanto, as metodologias desenvolvidas necessitam de uma infraestrutura mais complexa para ser executada, e os ensaios possuem custo elevado. Diante disso, pretendemos validar uma metodologia point-of-care inovadora, de custo baixo, compatível com a implementação na atenção primária do SUS para o diagnóstico molecular de surtos orais da DC no Brasil. Atualmente, os métodos utilizados para realizar a vigilância e controle dos surtos orais da doença de Chagas são baseados, principalmente, em exames parasitológicos, na tentativa de isolamento do parasito em meios de cultura, ou inoculação do alimento em animais de experimentação. Levando em consideração que muitos laboratórios e pontos de atendimento aos pacientes existentes na região Norte do Brasil possuem uma estrutura muito limitada e carência de recursos, este projeto visa desenvolver uma metodologia point-of-care mais simples e econômica para a detecção de DNA de T. cruzi em amostras de alimentos e sangue de pacientes envolvidos em surtos orais na região Norte do Brasil. Alinhado com a agenda prioritária para o SUS, esta metodologia fortalecerá os pontos de atenção primária, como postos de saúde e hospitais regionais, uma vez que ela se baseia no uso de equipamentos simples, portáteis e econômicos, não sendo necessária uma infraestrutura complexa para sua execução. Diante disso, o objetivo geral deste estudo desenvolver e validar uma metodologia point-of-care de fácil execução e baixo custo, baseada na extração de DNA livre-de-pipetas do tipo dipstick e na PCR portátil utilizando o termocilador Pocket PCR, para a detecção molecular de DNA de T. cruzi em amostras de açaí e sangue humano, envolvidas em surtos orais da doença de Chagas na região Norte do Brasil. Até o momento, foi possível avançar com a padronização da extração de DNA e do uso do equipamento portátil de PCR.
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