Bolsista: MAYNARA MARINS HATSCHEK
Orientador(a): JULIANA HELENA DA SILVA BARROS
Resumo: Os tripanosomatídeos são protozoários flagelados com grande diversidade morfológica e ciclos de vida complexos, que infectam uma ampla variedade de vertebrados e invertebrados. Estudos filogenéticos moleculares permitiram a classificação do gênero Trypanosoma em diversos clados, com espécies capazes de infectar peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Canídeos silvestres como Cerdocyon thous, Chrysocyon brachyurus e Lycalopex vetulus, presentes no bioma Cerrado, possuem características ecológicas que os tornam importantes hospedeiros desses parasitas, favorecendo sua disseminação, inclusive para ambientes urbanos. Este projeto analisa amostras de sangue e pele desses animais utilizando diagnóstico molecular, com o objetivo de compreender sua relevância no ciclo de transmissão dos tripanosomatídeos e identificar a diversidade de parasitas que os infectam. Foram analisadas amostras de pele e de sangue de canídeos coletadas entre 2013 e 2014 em fazendas de gado de Cumari, Goiás, com apoio do Programa de Conservação dos Mamíferos do Cerrado (PCMC). A extração de DNA foi realizada com kits específicos (Promega(Marca Registrada) para pele e Qiagen(Marca Registrada) para sangue), seguida de quantificação no Qubit e armazenamento a -4°C. As amostras passaram por Nested-PCR utilizando primers para o gene 18S rDNA, com controles positivos e negativos para garantir a confiabilidade dos resultados. Os produtos positivos foram purificados e enviados para sequenciamento Sanger na Fiocruz. As sequências obtidas foram analisadas com os programas SeqMan, BLAST e MEGA v. 11. Por fim, uma rede de interação ecológica entre parasitos e hospedeiros foi visualizada usando o pacote pyCirclize, com base em uma matriz de dados de infecção. A quantificação das 48 amostras de sangue total revelou concentrações de DNA entre 3,5 e 313 ng/µL. No diagnóstico molecular, 12/48 amostras de sangue e 3/63 amostras de pele testaram positivo para DNA de tripanosomatídeos. As espécies infectadas foram Cerdocyon thous, Lycalopex vetulus e Chrysocyon brachyurus. O sequenciamento nucleotidico de Sanger identificou três espécies de tripanosomatídeos: T. caninum, T. cruzi e T. rangeli. Destaca-se o registro inédito de T. caninum em sangue de mamíferos silvestres (em C. thous e C. brachyurus), até então descrito apenas em cães domésticos. Já o T. cruzi foi encontrado em C. thous e L. vetulus, confirmando a participação dessas espécies no ciclo de transmissão. O T. rangeli foi detectado em três amostras, reforçando seu papel como parasito multihospedeiro. A análise da rede ecológica mostrou que C. thous apresentou maior riqueza de infecção por tripanosomatídeos, evidenciando seu papel de bioacumulador, enquanto L. vetulus e C. brachyurus mostraram menor diversidade parasitária, possivelmente por hábitos noturnos e dieta mais seletiva. A área de estudo, um agroecossistema em Goiás, favorece o contato entre animais silvestres, domésticos e humanos. O levantamento sorológico apontou possíveis casos de coinfecção e reatividade cruzada entre T. cruzi, T. caninum e Leishmania spp. Algumas amostras positivas no PCR foram negativas no ELISA, sugerindo infecções recentes ou limitações do teste. Em conjunto, os dados reforçam a importância dos canídeos silvestres como sentinelas na vigilância epidemiológica de tripanosomatídeos.