Bolsista: LUANA JESSICA DA SILVA PONTES
Orientador(a): Karine Araújo Damasceno
Resumo: O câncer de mama triplo-negativo (CMTN) representa de 10 a 15% dos casos de câncer de mama e caracteriza-se pela ausência de expressão dos receptores hormonais de estrogênio e progesterona, bem como do receptor HER2. Essa condição molecular desfavorável restringe o uso de terapias-alvo, tornando a quimioterapia a principal estratégia terapêutica. No entanto, essa abordagem tem eficácia limitada, e o prognóstico geralmente é reservado. Diante disso, há crescente interesse no desenvolvimento de novas terapias, especialmente imunoterapias, que demandam modelos experimentais mais representativos do microambiente tumoral humano. O microambiente tumoral (TME), composto por células do sistema imune, matriz extracelular e mediadores solúveis, exerce influência direta sobre a progressão tumoral, metástase e resposta às terapias, sendo, portanto, um alvo estratégico para investigação. O presente trabalho teve como objetivo desenvolver e caracterizar um modelo murino xenográfico humanizado com células-tronco hematopoiéticas (CTH) CD34+ para estudo do CMTN, utilizando a linhagem celular MDA-MB-231-Luc. Camundongos NSG (NOD scid gamma), altamente imunodeficientes, foram submetidos à inoculação intravenosa de células-tronco CD34+ derivadas de sangue de cordão umbilical. Após quatro semanas, a humanização foi avaliada por citometria de fluxo com identificação de células hCD45+, sendo considerados humanizados os animais com > ou =25% de positividade. Em paralelo, 20 camundongos NSG não humanizados foram inoculados ortotopicamente com células tumorais e avaliados nos dias 14 e 28 após a inoculação. Foram realizadas mensurações tumorais seriadas, avaliação da bioluminescência in vivo, análise histopatológica com coloração de hematoxilina e eosina (HE), e imuno-histoquímica para o marcador de proliferação celular Ki-67. Os resultados demonstraram crescimento tumoral progressivo e significativamente maior no grupo de 28 dias, com aumento de volume e peso tumoral (p = 0,008 e p < 0,0001, respectivamente). A intensidade de bioluminescência também foi superior nesse grupo (p = 0,0185), indicando maior crescimento e atividade metabólica tumoral. A análise histopatológica evidenciou necrose em 100% dos animais do grupo de 28 dias, ulceração em 20% e metástase pulmonar em 80%, confirmando a natureza agressiva do CMTN. A análise imuno-histoquímica para Ki-67 revelou uma média de 65,8% de células tumorais positivas, refletindo alta atividade proliferativa no modelo. A quantificação foi realizada com o software ImageJ, em campos representativos, a partir da contagem de 1000 células por animal. Além disso, a quantificação de células CD34+ nas amostras de cordão umbilical indicou viabilidade do protocolo de obtenção e preservação das CTH. Dos 10 camundongos submetidos à humanização, 5 atingiram os critérios estabelecidos, demonstrando a eficiência parcial do processo de reconstituição imunológica. Com base nos resultados obtidos até o momento, o modelo murino xenográfico mostrou-se eficaz na replicação de características fundamentais do CMTN, como crescimento acelerado, invasividade e potencial metastático. A fase inicial de humanização também demonstrou resultados promissores para o uso do modelo em estudos translacionais. A continuidade da pesquisa, com a análise do infiltrado inflamatório e caracterização do TME nos grupos humanizados, permitirá avaliar de forma mais precisa a interação entre o tumor e o sistema imunológico humano reconstituído, contribuindo para o desenvolvimento de terapias imunomoduladoras mais eficazes no contexto da medicina personalizada.