Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Revista: Edição 3 | Ano: 2025 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS À SAÚDE HUMANA ASSOCIADO AO USO DE DROGAS DE ABUSO NO BRASIL
Bolsista: JAQUELINE VITORIA DO AMARAL MELO
Orientador(a): LILIANE REIS TEIXEIRA
Resumo: O consumo de drogas de abuso representa um relevante problema de saúde pública no Brasil, sendo o tabaco um dos principais fatores de risco evitáveis. Este trabalho tem como objetivo otimizar e implementar metodologias analíticas para detecção de biomarcadores de exposição, com foco na quantificação de cotinina urinária principal metabólito da nicotina por técnicas cromatográficas. As atividades desenvolvidas nos primeiros meses da iniciação científica envolveram capacitação em biossegurança, práticas laboratoriais básicas, manipulação de equipamentos como o cromatógrafo líquido de alta eficiência (HPLC) e treinamento em pesquisa bibliográfica. A participação em eventos científicos também possibilitou maior compreensão da relação entre toxicologia, saúde coletiva e exposição ocupacional. Os resultados parciais demonstram a importância da toxicologia analítica no monitoramento da exposição ao tabaco, contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas e vigilância epidemiológica mais efetivas. O prosseguimento do estudo visa a aplicação prática das metodologias aprendidas, com validação de técnicas e futura quantificação de cotinina em amostras biológicas.
Estabelecimento de um modelo de Hamster Sírio (Mesocricetus auratus) para a infecção experimental por cepas brasileiras e vacinal do vírus da Febre Amarela
Bolsista: GISELLA SOUZA THEODORO
Orientador(a): PEDRO PAULO DE ABREU MANSO
Resumo: Embora a vacina contra a Febre Amarela (FA) possua grande eficiência e segurança, sua disponibilidade não tem sido suficiente para evitar que surtos esporádicos ocorram. Pacientes que desenvolvem a forma grave ou maligna da doença não possuem tratamento específico. Nesse sentido, o desenvolvimento de alternativas que contemplem o tratamento de pessoas com febre amarela é de grande relevância. Contudo, para isso, faz-se necessário o uso de modelos animais que se infectem com o vírus e reproduzam os aspectos fisiopatológicos da doença. Os modelos baseados em primatas, como macaco Rhesus, reproduzem a patologia humana e são utilizados para este fim, porém, o alto custo, os aspectos éticos, e os complexos trâmites regulatórios envolvidos no processo dificultam a realização de estudos neste modelo. Como camundongos imunologicamente competentes não desenvolvem clinicamente a FA, este projeto se insere na necessária busca de modelos roedores alternativos. Em um estudo em desenvolvimento pelo nosso grupo de pesquisa, observamos que uma cepa brasileira selvagem do YFV, isolada de um macaco bugio, naturalmente infectado em 2018 no Rio Grande do Sul, ocasionou uma infecção não fatal em hamster sírio sem a necessidade de adaptação da cepa neste modelo. Embora modelos com cepas adaptadas (Jimenez p.10 e Asibi p.7) já fossem descritos, nosso estudo demonstrou a capacidade de cepas selvagens brasileiras infectarem hamsters sírios sem adaptação prévia. A cepa PR4408 foi capaz de causar alterações no fígado, baço e pâncreas desses animais, apresentando uma patologia semelhante a observada em humanos, embora os animais se recuperem após 9 dias de infecção. No presente estudo buscamos avaliar as alterações histopatológicas causadas pela infecção experimental da cepa PR4408 do YFV em hamsters sírios (Mesocricetus auratus) após passagens seriadas. Os resultados encontrados neste trabalho evidenciaram que a cepa PR4408 é capaz de causar alterações histopatológicas e clínicas em hamsters, e que em passagens seriadas esta cepa se torna mais virulenta, causando o óbito dos animais.
Caracterização do microambiente tumoral em modelo de câncer de mama triplo negativo induzido em camundongo NSG humanizado
Bolsista: LUANA JESSICA DA SILVA PONTES
Orientador(a): Karine Araújo Damasceno
Resumo: O câncer de mama triplo-negativo (CMTN) representa de 10 a 15% dos casos de câncer de mama e caracteriza-se pela ausência de expressão dos receptores hormonais de estrogênio e progesterona, bem como do receptor HER2. Essa condição molecular desfavorável restringe o uso de terapias-alvo, tornando a quimioterapia a principal estratégia terapêutica. No entanto, essa abordagem tem eficácia limitada, e o prognóstico geralmente é reservado. Diante disso, há crescente interesse no desenvolvimento de novas terapias, especialmente imunoterapias, que demandam modelos experimentais mais representativos do microambiente tumoral humano. O microambiente tumoral (TME), composto por células do sistema imune, matriz extracelular e mediadores solúveis, exerce influência direta sobre a progressão tumoral, metástase e resposta às terapias, sendo, portanto, um alvo estratégico para investigação. O presente trabalho teve como objetivo desenvolver e caracterizar um modelo murino xenográfico humanizado com células-tronco hematopoiéticas (CTH) CD34+ para estudo do CMTN, utilizando a linhagem celular MDA-MB-231-Luc. Camundongos NSG (NOD scid gamma), altamente imunodeficientes, foram submetidos à inoculação intravenosa de células-tronco CD34+ derivadas de sangue de cordão umbilical. Após quatro semanas, a humanização foi avaliada por citometria de fluxo com identificação de células hCD45+, sendo considerados humanizados os animais com > ou =25% de positividade. Em paralelo, 20 camundongos NSG não humanizados foram inoculados ortotopicamente com células tumorais e avaliados nos dias 14 e 28 após a inoculação. Foram realizadas mensurações tumorais seriadas, avaliação da bioluminescência in vivo, análise histopatológica com coloração de hematoxilina e eosina (HE), e imuno-histoquímica para o marcador de proliferação celular Ki-67. Os resultados demonstraram crescimento tumoral progressivo e significativamente maior no grupo de 28 dias, com aumento de volume e peso tumoral (p = 0,008 e p < 0,0001, respectivamente). A intensidade de bioluminescência também foi superior nesse grupo (p = 0,0185), indicando maior crescimento e atividade metabólica tumoral. A análise histopatológica evidenciou necrose em 100% dos animais do grupo de 28 dias, ulceração em 20% e metástase pulmonar em 80%, confirmando a natureza agressiva do CMTN. A análise imuno-histoquímica para Ki-67 revelou uma média de 65,8% de células tumorais positivas, refletindo alta atividade proliferativa no modelo. A quantificação foi realizada com o software ImageJ, em campos representativos, a partir da contagem de 1000 células por animal. Além disso, a quantificação de células CD34+ nas amostras de cordão umbilical indicou viabilidade do protocolo de obtenção e preservação das CTH. Dos 10 camundongos submetidos à humanização, 5 atingiram os critérios estabelecidos, demonstrando a eficiência parcial do processo de reconstituição imunológica. Com base nos resultados obtidos até o momento, o modelo murino xenográfico mostrou-se eficaz na replicação de características fundamentais do CMTN, como crescimento acelerado, invasividade e potencial metastático. A fase inicial de humanização também demonstrou resultados promissores para o uso do modelo em estudos translacionais. A continuidade da pesquisa, com a análise do infiltrado inflamatório e caracterização do TME nos grupos humanizados, permitirá avaliar de forma mais precisa a interação entre o tumor e o sistema imunológico humano reconstituído, contribuindo para o desenvolvimento de terapias imunomoduladoras mais eficazes no contexto da medicina personalizada.
Intelectuais mediadora/es e a circulação de livros de ciência popular para crianças no Brasil (1870-1930)
Bolsista: PILAR DE AREZZO BLANCO PEREIRA
Orientador(a): KAORI KODAMA FLEXOR
Resumo: A pesquisa em tela tem em vista investigar a história dos/as agentes da mediação das ciências compreendidos/as como intelectuais mediadores/as (GOMES & HANSEN, 2016), em suas diferentes iniciativas de disseminação e difusão científica entre as décadas de 1870 às primeiras décadas do século XX, tomadas como projetos de ampliação dos públicos das ciências, em particular, o público infantil. Procuramos aprofundar através dessa pesquisa a compreensão de como a partir da atuação principalmente na imprensa essa/es intelectuais mediadora/es, em nosso caso específico, vulgarizadores das ciências como eram apresentados, ajudaram a construir imagens e discursos sobre a Ciência no singular, disseminada e apropriada na e pela cultura geral, consolidando ideários como o cientificismo e interpelando práticas e a expertise científicas e educacionais. Neste sentido, aportes da história cultural e da história do livro e das edições serão fundamentais para a análise desta pesquisa. Neste sentido, o presente subprojeto procurará investigar aspectos da mediação cultural das ciências, de educadores e de intelectuais da segunda metade do século XIX às primeiras décadas do XX, e que escreveram sobre ciência visando o público infantil. A bolsista deverá ao longo de 12 meses realizar o levantamento de um corpus documental importante referente aos livros sobre ciências voltados para o público infantil e investigar os circuitos das edições, em casos como o da História de um bocadinho de pão, de Jean Macé sobre a fisiologia e nutrição, publicado pela Garnier, As grandes invenções antigas e modernas de Louis Figuier (1884), publicado por Eduardo Perrié pela Tipografia Luso-Brasileira, o livro Chiquinho, escrito por Augustine Fouillé e traduzido por Victoria Colonna para a editora Garnier em 1874, entre outros. Tais livros recriam conteúdos diversos das ciências com linguagem adaptada para o/a leitor/a em idade escolar com a intenção de formar novos cidadãos para o mundo cada vez mais formado pelas ciências. Assim, áreas como a higiene, a astronomia, a fisiologia, a sociologia, formaram um conjunto de temáticas que eram abordadas em formatos novos, sem cansar o leitor, como se dizia. A segmentação do público é um fenômeno relevante das últimas décadas do século XIX que ocorre em diversos países, ganhando destaque a formação do público leitor infantil. Leitorado novo, ele começa a ser alvo do mercado editorial concomitantemente às propostas educacionais que incluem a modernização dos métodos de ensino, em particular o científico, como no método da lição de coisas. No caso brasileiro, o tema ainda é pouco conhecido, embora com algumas pesquisas recentes, como a de Patricia Raffaini, que investigou os livros para a infância e juventude entre 1860 e 1920 (Raffaini, 2023). A pesquisa é subprojeto do projeto História da mediação cultural das ciências no Brasil: atores, práticas culturais e circulação do conhecimento científico, séculos XIX e XX financiada pelo PROEP-CNPq-Fiocruz. A hipótese do trabalho ora apresentado é que os diversos agentes envolvidos com a divulgação das ciências para o público infantil podem ser entendidos como intelectuais mediadores.
Implementação de um modelo in vitro de barreira placentária para o estudo do papel de neutrófilos e armadilhas neutrofílicas extracelulares (NETs) na toxoplasmose congênita
Bolsista: Thamirys Elaine Mariscal de Souza
Orientador(a): RAFAEL MARIANTE MEYER
Resumo: O Toxoplasma gondii é o agente etiológico da toxoplasmose, doença de grande prevalência em humanos. Mulheres que entram em contato com o parasito durante a gestação podem transmitir o T. gondii ao concepto em desenvolvimento, desencadeando o quadro de toxoplasmose congênita, a forma mais grave da doença. As consequências da infecção no início da gestação são devastadoras, e podem levar a altos índices de mortalidade em fetos, neonatos e crianças acometidas. Embora a placenta disponha de mecanismos para impedir a transmissão materno-fetal de patógenos, diversos microrganismos conseguem atravessá-la, ocasionando em complicações na gestação. Os mecanismos pelos quais estes micróbios infectam a placenta e atravessam a barreira placentária durante a transmissão congênita, porém, ainda não foram totalmente esclarecidos. O sucesso da gestação depende da regulação do sistema imune materno-fetal, e resposta imunes maternas exacerbadas precisam ser controladas para garantir uma gravidez bem-sucedida. Neste contexto, os neutrófilos têm um papel importante, porém ainda pouco estudado. Sabe-se, por exemplo, que a produção excessiva de armadilhas neutrofílicas extracelulares (NETs) está relacionada à inflamação em doenças da gestação, como pré-eclâmpsia e síndrome do anticorpo antifosfolipídio. O papel das NETs na transmissão vertical de patógenos, porém, permanece desconhecido. Tendo em vista que o T. gondii induz a liberação de NETs e que estas amplificam a resposta de neutrófilos e a resposta imune adaptativa, o presente trabalho propõe a implementação de um modelo in vitro de barreira placentária como estratégia alternativa para elucidar o papel de neutrófilos e das NETs na infecção pelo T. gondii e na quebra da barreira placentária visando o entendimento do papel das NETs na fisiopatologia da toxoplasmose congênita.
Validação de vias moduladas e genes diferencialmente expressos em células de sangue periférico humano infectadas por Leishmania infantum
Bolsista: Debora de Souza Acacio
Orientador(a): Patricia Sampaio Tavares Veras
Resumo: No Brasil, a leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose causada pela Leishmania infantum. Essa doença é mantida nos centros urbanos por um ciclo de infecção que envolve seres humanos, o vetor flebotomíneo e vertebrados não humanos, dentre eles, o cão, que é considerado o principal reservatório urbano da L. infantum. Nas áreas endêmicas, a população canina infectada pode apresentar diversas formas clínicas, desde assintomáticos até cães sintomáticos graves. Esta progressão depende de diversos fatores, entre eles, a virulência do parasito, fatores genéticos associados ao hospedeiro e o tipo de resposta imune desencadeada após a infecção. O papel da resposta imune no contexto da progressão e contenção da LVC ainda não é completamente compreendido. A medula óssea (MO) é um dos tecidos de predileção da L. infantum e as células mielóides estão entre as principais células hospedeiras do parasita. Foi mostrado que nesse tecido de cães com LV ocorre hipoplasia da séria vermelha, aumento da mielopoiese e infecção de macrófagos estromais pelos parasitos. Apesar desses estudos ajudarem na compreensão da participação das células mielóides na patogênese da LVC, pouco se sabe sobre o impacto das alterações imunocelulares na MO de cães infectados com L. infantum sobre os desfechos clínicos da doença. Recentemente, nossa equipe realizou um estudo de larga escala para avaliar o transcriptoma de células da MO de cães naturalmente infectados por L. infantum. Assim, cães susceptíveis e resistentes foram selecionados a partir de uma coorte de 4 anos, realizada pela equipe do Laboratório de Interação Parasito-Hospedeiro e Epidemiologia (LaIPHE), no município de Camaçari, região endêmica para LV humana e canina. Foi feito o sequenciamento de RNA (RNA Seq) de células da MO desses animais, assim como de animais não infectados com L. infantum. Em seguida ao sequenciamento, os dados brutos gerados foram mapeados e analisados por bioinformática, onde foram identificados genes diferentemente expressos (DEGs) por células da MO de cães susceptíveis ou resistentes, quando comparados aos genes expressos por células mieloides dos cães saudáveis. Na análise de bioinformática, identificamos um conjunto de DEGs (EGR2, FOS, ADCY9 e TINAGL1) com poder de reconhecer cães com a forma grave da LV e potencial para serem biomarcadores de gravidade. Adicionalmente, análises de enriquecimento de anotação de ontologia gênica foram realizadas utilizando os DEGs, levando à identificação de vias reguladas relacionadas à migração celular e ao reparo de quebra dupla de DNA nas amostras de cães com LV grave. Assim, o objetivo original do presente trabalho é validar DEGS identificados por RNASeq total em células da MO de cães resistentes e cães susceptíveis. A expressão do conjuntos de 4 DEGS (EGR2, FOS, ADCY9 e TINAGL1), assim como dos DEGS envolvidos nas vias reguladas, será validada por RT-PCR, imunoensaios e imunofluorescência na amostra de MO. O presente projeto foi adaptado para a utilização de células de sangue periférico humano infectadas in vitro, no lugar de células de cães naturalmente infectados. Como a doença canina e humana se assemelham e temos, atualmente, limitações na obtenção de amostras de cães susceptíveis e resistentes, considerando que a realização de uma coorte canina, envolve a tramitação e aprovação do protocolo Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), podendo representar entraves temporais ao andamento do projeto. Assim, nosso objetivo foi adaptado para a investigação utilizando células de sangue periférico humano, para avaliar a expressão modulada dos quatro genes (EGR2, FOS, ADCY9 e TINAGL1) e das vias de reparo de quebra dupla de DNA. A validação desses genes diferencialmente expressos abre a possibilidade de compreender melhor a patogênese da LV e os mecanismos imunológicos que são desencadeados em cães e humanos em resposta a infecção por L. infantum.
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