Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 3

Bolsista: SAMARA ALVES DA ROCHA NASCIMENTO
Orientador(a): Lilian Maria Lapa Montenegro
Resumo: A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que continua sendo um grave problema de saúde pública mundial. Causada pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo álcool-ácido resistente com parede celular rica em lipídios, a bactéria apresenta resistência intrínseca a muitos antibióticos. Embora o tratamento convencional seja eficaz, sua longa duração e os efeitos adversos dos medicamentos contribuem para o abandono terapêutico, favorecendo o surgimento de cepas resistentes. Diante disso, torna-se essencial o desenvolvimento de novas drogas com menor toxicidade e capazes de reduzir o tempo de tratamento. Entre os candidatos promissores estão moléculas sintéticas, como triazóis e esfingosinas. Triazóis apresentam propriedades anti-inflamatórias, fungicidas e antitumorais, enquanto esfingosinas participam de processos essenciais como apoptose, inflamação e regulação imune. Com base nesse potencial, o presente projeto visa avaliar in vitro a citotoxicidade e a atividade antimicobacteriana de novas moléculas sintéticas frente à cepa avirulenta M. tuberculosis H37Ra. As moléculas testadas, fornecidas pelos laboratórios da USAL e UFRPE, serão analisadas quanto à citotoxicidade nas linhagens celulares J774A.1, A549 e HepG2, por meio do ensaio de MTT. A cepa H37Ra foi cultivada em meio sólido, apresentando crescimento visível entre 2 a 4 semanas. Após a padronização do inóculo, os compostos foram submetidos ao ensaio de microdiluição para determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM). Dentre os compostos testados, os derivados AFJ-2, T-173 e T-177 apresentaram CIM de 8µg/mL, demonstrando bom potencial antimicobacteriano. Os resultados obtidos apontam esses compostos como candidatos promissores para o desenvolvimento de novas terapias contra a tuberculose, justificando a continuidade dos estudos.

Bolsista: JULIA LIMA PECANHA
Orientador(a): RAFAELA VIEIRA BRUNO
Resumo: Os mosquitos Aedes aegypti são os principais vetores vírus causadores de doenças como Dengue, Zika e Chikungunya, e fatores como mudanças climáticas, desmatamento, crescimento urbano desordenado e condições sanitárias inadequadas favorecem a proliferação dos mosquitos. Aspectos importantes da capacidade vetorial de Aedes aegypti são regulados por um mecanismo endógeno chamado de relógio circadiano. Genes como Clock (Clk), cycle (cyc), period (per), timeless (tim), vrille (vri), PAR domain protein 1 (Pdp 1) e clockwork orange (cwo), são fatores de transcrição que interagem entre si e regulam outros genes importantes na biologia do vetor, dentre eles, os genes probitina 1 (phb1) e proibitina 2 (phb2). As proteínas PHB1 e PHB2 são conservadas e expressas em células de mamíferos e mosquitos. Estudos indicam que vírus como o DENV e o CHIKV utilizam a PHB1 para invadir as células, o que pode influenciar a capacidade de infecção dos mosquitos. Pesquisas preliminares do nosso grupo indicaram que phb2 tem uma expressão cíclica nas células de mosquitos infectados, sugerindo que a expressão das proteínas proibitinas pode ser regulada de acordo com o ritmo circadiano. Quando o gene phb1 foi silenciado em mosquitos infectados com DENV1, não houve redução das partículas virais no intestino, o que sugere que a alteração da expressão do gene phb1 não afetou diretamente a função da PHB2. Essas proteínas podem ter um papel importante na infecção por arbovírus, caso sua expressão siga padrões circadianos. A caracterização tanto dos genes quanto das proteínas envolvidas pode ajudar a entender melhor a dinâmica da infecção em Aedes aegypti e, possivelmente, contribuir para novas abordagens no controle das doenças transmitidas por esses mosquitos.

Bolsista: MATHEUS GEOVANE GOMES DE SOUSA
Orientador(a): Igor Vasconcelos Rocha
Resumo: Introdução: A vigilância da peste, uma zoonose transmitida por roedores e causada pela bactéria Yersinia pestis, é crucial devido à sua relevância internacional e ao potencial de causar surtos epidêmicos. No Brasil, a Coleção de Y. pestis (Fiocruz/CYP) é uma fonte valiosa de cepas isoladas entre 1966 e 1997, oferecendo uma oportunidade única para estudar a biodiversidade genética do patógeno. Objetivo: Compreender a estrutura filogenética e caracterizar os fatores de virulência, patogenicidade e marcadores moleculares de resistência aos antimicrobianos das cepas brasileiras de Y. pestis, da Coleção Biológica Fiocruz/CYP, além de isolar e identificar os principais contaminantes presentes nessas culturas, visando a recuperação eficaz das culturas a longo prazo. Metodologia: A metodologia empregada empregou técnicas moleculares para caracterizar 35 cepas brasileiras de Y. pestis da coleção Fiocruz/CYP. A extração de DNA foi realizada com o kit DNeasy Blood & Tissue (Qiagen), seguida de PCR para detecção dos principais genes de virulência (irp2, caf1, lcrV, pla). O sequenciamento de nova geração foi feito em plataforma MiSeq (Illumina), com posterior análise bioinformática incluindo montagem de genomas (Unicycler), anotação (Prokka), análise de pangenoma (Roary) e identificação de genes de resistência (CARD, MEGARES) e virulência (VFDB). Contaminantes foram identificados através de sequenciamento do gene 16S rRNA. Resultados: Os resultados sugerem uma variabilidade genética entre as cepas brasileiras de Y. pestis, com a presença variável de genes de virulência e patogenicidade. A análise genômica revelou tamanho médio de 4,54 Mb (47% GC) e permitiu agrupar as cepas em sete clados filogenéticos distintos. Foram identificados genes de resistência a antimicrobianos (crp, rosA/B, qacG) e múltiplos fatores de virulência, incluindo componentes do sistema de secreção tipo III. A análise de elementos móveis detectou três replicons plasmídicos entre os isolados e duas famílias de bacteriófagos (Siphoviridae e Myroviridae). Os principais contaminantes identificados foram Roseomonas mucosa, Pantoea agglomerans e Pseudomonas fluorescens (13,6%). Conclusão: Este estudo revelou a diversidade genômica das cepas brasileiras de Y. pestis, destacando perfis distintos de virulência e resistência. A identificação de múltiplos contaminantes enfatiza os desafios na manutenção de culturas microbianas históricas. Os resultados fornecem subsídios importantes para a vigilância epidemiológica da peste no Brasil e destacam o valor da coleção Fiocruz/CYP como recurso para pesquisas em saúde pública.

Bolsista: SABRINA GOMES RODRIGUES
Orientador(a): CLAUDIA REGINA BRANDAO GOMES
Resumo: A tuberculose (TB) é uma doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis (MTB), e representa um grave problema de saúde pública, apesar da existência de um esquema terapêutico que, na maioria dos casos, leva a cura. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o surgimento da pandemia de COVID-19 em 2020 impactou negativamente no diagnóstico e tratamento da tuberculose no mundo todo. Nota-se uma queda drástica nos avanços conquistados nos anos anteriores, percebendo-se uma diminuição na identificação de novos casos, com uma queda de 18% entre 2019 e 2020. 1Em 2023, aproximadamente 1,25 milhões de óbitos foram atribuídos à tuberculose, enquanto em 2022 esse número alcançou cerca de 1,3 milhões. Observou-se um aumento na taxa de incidência da doença, medida em novos casos por 100 mil habitantes por ano, que cresceu 4,6% entre 2020 e 2023, revertendo a tendência de queda observada nas últimas duas décadas. Além disso, houve um aumento no número de indivíduos apresentando resistência à rifampicina, principal fármaco de primeira linha, atingindo 400 mil casos em 2023. 1No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em 2022 foram registrados 5.845 óbitos devido à tuberculose, resultando em uma taxa de mortalidade de 2,72 óbitos por 100 mil habitantes. No mesmo ano, foram notificados 81.604 novos casos da doença, com uma incidência de 38,0 casos por 100 mil habitantes. Em 2023, foram identificados 80.012 novos casos, sugerindo uma redução, com uma incidência de casos de 37,0 por 100 mil habitantes.²Diante deste panorama, torna-se urgente o desenvolvimento de novas substâncias potencialmente ativas, capazes de apresentar maior eficácia e baixa resistência. Dentre as moléculas propostas para a síntese de novas substâncias com potencial atividade antituberculose pode-se destacar os derivados quinolínicos.Vários derivados quinolínicos tem sido reportado com atividade antituberculose, podendo-se destacar a bedaquilina, um derivado diarilquinolínico, que foi aprovado em 2012 pelo FDA, e em 2019 pela ANVISA. A bedaquilina é eficaz no tratamento de pacientes com infecção pulmonar por MTB multirresistente e extensivamente resistente a múltiplos fármacos.Neste contexto, o nosso grupo vem trabalhando com a síntese de várias substâncias desta classe, sendo o objetivo deste trabalho a síntese e o aumento de escala de building-blocks que possibilitem a obtenção de uma biblioteca de substâncias contendo o núcleo quinolínico, com múltiplos padrões de substituição nas posições C-6, C-7 e/ou C-8 e funcionalizados na posição C-4 com as porções etanolamina, etilenodiamina e hidrazina.

Bolsista: Ana Beatriz Rodrigues Tostões Pinto
Orientador(a): LETICIA PESSOA MASSON
Resumo: Com a precarização das condições de trabalho e saúde de motoristas e entregadores em função da plataformização do trabalho, identificam-se movimentos coletivos em busca de transformações dessa realidade (Strecker et al, 2021). Contudo, estes são marcados por muitas dificuldades, como divergências quanto às reivindicações, especialmente em relação ao reconhecimento do vínculo empregatício. Constata-se que, apesar dessas categorias terem alcançado ganhos políticos importantes, como a proposição do governo federal de uma mesa de negociação, sua mobilização enfrenta desafios. Dentre eles, a fragilização da luta sindical e a racionalidade neoliberal que estimula a competitividade, a fragmentação dos trabalhadores e rejeita a noção de solidariedade (Vasconcelos e Pereira, 2020). Neste contexto, aposta-se que práticas de formação em Saúde do Trabalhador podem auxiliar no processo de mobilização política dos trabalhadores. Este subprojeto se insere na etapa atual do projeto de pesquisa, de realização de Encontros sobre o Trabalho (Durrive, 2010) para a formação de motoristas e entregadores por plataformas. O projeto versa sobre a relação trabalho e processos saúde-doença, tendo como principal objetivo fortalecer a capacidade de compreender-transformar as condições em que o trabalho é desenvolvido, com vistas à promoção da saúde destes trabalhadores. A abordagem metodológica se dá a partir do diálogo e da confrontação de saberes acadêmicos com os saberes produzidos na experiência dos trabalhadores (Neves et al., 2018). Os temas abordados na formação são: Remuneração e valor do trabalho e Saúde e segurança no trabalho. Este subprojeto visa identificar o alcance e os limites dessa ação de formação em relação aos seus objetivos. Espera-se que, mesmo que não se alcancem transformações concretas das condições de trabalho no curto prazo, a formação fortaleça a reflexão e a ação coletiva dos trabalhadores (Neves et al., 2018).

Bolsista: NATALIA MARTINS LIBORIO
Orientador(a): NATASHA BERENDONK HANDAM
Resumo: As favelas que compõem o Território do Complexo do Lins, RJ, como ocorre também em diversas outras comunidades, se constituíram como ambientes onde não há saneamento básico adequado ou é insuficiente. Frente a crise hídrica para abastecimento público no estado do Rio de Janeiro, onde moradores, principalmente de regiões socioeconomicamente mais pobres, são afetados pela interrupção do fornecimento de água para consumo e higienização, há grande urgência de criar formas inovadoras de conceber e implementar o saneamento em áreas de favelas, por meio de tecnologias sociais em saúde. A falta de água para abastecimento das populações vem demonstrando o quanto é importante a busca de ações de conservação das nascentes como um instrumento fundamental para a manutenção e qualidade de vida para as gerações atuais e futuras. O objetivo do trabalho foi avaliar a qualidade sanitária de amostras de água antes e após a implementação das tecnologias sociais em saúde no Território do Complexo do Lins, RJ. Foram realizadas análises da qualidade sanitária das águas antes da implementação da tecnologia social de biolfiltro, sendo calculados os Índices de Qualidade da Água (IQA), considerando os parâmetros: pH, Temperatura, Oxigênio Dissolvido (OD), Sólidos Totais Dissolvidos (STD), Turbidez, Nitrogênio, Fósforo, DBO, e os parâmetros bacteriológicos (coliformes totais e Escherichia coli). Com base nos resultados, a maioria dos pontos de amostragem apresentaram valores médios de Índice de Qualidade da Água (IQA) acima de 50, indicando que a qualidade da água é apropriada para tratamento convencional visando ao abastecimento público. Em contrapartida, outros foram classificados como Ruim (abaixo de 50 IQA), e Muito Ruim (abaixo de 25 IQA), caracterizando a água dessas localidades como impróprias e necessitam de tratamentos mais avançados. Nestes pontos de coleta de água foi verificado também cheiro forte de contaminação por esgoto e resíduos sólidos no curso d´água. De acordo com a qualidade da água, e levando em consideração a facilidade de acesso e por não possuir despejo de esgoto na nascente foi escolhido um local para a implementação do Biofiltro. E se espera que após o funcionamento da tecnologia social de biofiltro, com os cuidados recomendados para o bom funcionamento, que a qualidade da água melhore e seja utilizada para as atividades domésticas e provavelmente poderá ser destinada ao consumo humano.