Bolsista: MARIA CLARA NASCIMENTO BAIAO
Orientador(a): Luciana Trilles
Resumo: As micoses endêmicas, incluindo histoplasmose, coccidioidomicose, blastomicose, paracoccidioidomicose, criptococose e talaromicose, são etiologias bem estabelecidas de infecções fúngicas focais e sistêmicas, restritas a áreas geográficas com endemicidade definida. No entanto, ao longo das últimas décadas, tem havido cada vez mais relatos de infecções por fungos endêmicos em áreas anteriormente consideradas não endêmicas. Existem algumas razões potenciais para essa mudança, como aumento do uso de medicamentos imunossupressores, testes de diagnóstico melhorados, maior reconhecimento de doenças e fatores globais, como migração, aumento de viagens e mudanças climáticas. Independentemente das causas, tornou-se evidente que nossa compreensão anterior de regiões endêmicas para essas doenças fúngicas precisa evoluir. Adicionado ao fato que a península antártica é a região mais afetada pelo aquecimento global, o que pode expor novos microrganismos com potencial patogênico, o continente antártico possui um grande número de espécies de animais migratórios que todos os anos podem carrear microrganismos da Antártica para os outros continentes e vice-versa, além da atividade antrópica que aumenta a cada ano no continente. Pelo exposto acima, o projeto objetiva investigar a presença de agentes de micoses sistêmicas e oportunistas em amostras de madeira do ambiente da Península Antártica e contribuir para a elaboração de um mapa de risco a fim de minimizar os possíveis impactos sobre a saúde humana e animal na Antártica e na América do Sul. Para isso, foi realizado até o momento o processamento de duas amostras de madeira das Ilhas Rei George e Deception, as colônias foram contadas e foi realizado o isolamento de 52 isolados fúngicos. Os isolados foram purificados e armazenados para as análises necessárias. A caracterização morfológica dos isolados ainda foi realizada. Até o momento, o DNA foi extraído DNA de todos os isolados e foi realizado o PCR da região ITS para identificação de gênero de 6 cepas. A análise comparativa das sequências com os bancos de dados públicos permitiu identificar os isolados ao nível de gênero, onde foram identificados como pertencentes ao gênero Phialemonium sp., Sarocladium sp., Penicillium sp., Exophiala sp. Para a identificação das espécies, será necessária a realização do sequenciamento de outras regiões do genoma específicas para cada gênero. Quase metade dos isolados (22) demostraram capacidade de crescimento a 35°C, sendo considerado fungos termotolerantes. Observamos que a amostra da ilha Deception apresentou uma média de crescimento de unidades formadoras de colônia (UFC) superior a amostra da Baía de Whalers. A região da Baía de Whalers na ilha Deception é um local com solo distrófico, ou seja, baixa viabilidade de nutrientes, porém abriga ruínas de uma antiga estação baleira e recebe visitação de grande número turistas ao longo do verão. Já a região de Martins Head, apesar de não ser uma área de turismo, tem uma intensa atividade animal ao longo do verão, com solo ornitogênico e mais rico em nutrientes. Portanto, a maior atividade antrópica da Ilha Deception pode estar influenciando a prevalência de microrganismos termotolerantes na área e sua adaptação às condições ambientais antárticas, mas um maior número de amostras precisa ser avaliado.