Bolsista: HORTENCIA MARIA RIBEIRO DE CARVALHO
Orientador(a): Juliana Vaz de Melo Mambrini
Resumo: INTRODUÇÃO: A população mundial está envelhecendo de forma acelerada. Além do aumento na proporção de idosos, observa-se ganho na longevidade, que não vem se traduzindo em anos de vida saudáveis, com importante proporção desses anos sendo vividos com doenças e/ou incapacidades.
No nível individual, dentre as mudanças fisiológicas observadas no envelhecimento, destaca-se o declínio nos sistemas neurológicos e muscular, influenciando na força, equilíbrio, flexibilidade, agilidade e coordenação motora da pessoa idosa. Com base em orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas declarou 2021-2030 como a Década para um Envelhecimento Saudável. Segundo a OMS, o envelhecimento saudável é resultante da combinação entre a capacidade intrínseca, que contempla as capacidades mentais e físicas, e o ambiente, considerando ambientes físicos, sociais e políticos e suas interações, sendo, portanto, diretamente relacionado a desigualdades socioeconômicas.
A literatura aponta para a influência das vivências ao longo do curso de vida nos desfechos de saúde em idosos, conectando a saúde do idoso a exposições sociais ou físicas que ocorrem no decorrer da vida. Entre essas, os fatores socioeconômicos se destacam, especialmente no Brasil, país marcado pelas desigualdades sociais.
OBJETIVO: Avaliar a desigualdade social em saúde no envelhecimento saudável dos idosos brasileiros.
MÉTODOS: Trata-se de estudo transversal, baseado nos dados da segunda onda do ELSI-Brasil, realizado entre 2019 e 2021, conduzido com amostra nacional representativa da população com 50 anos ou mais não institucionalizada. Foram incluídos neste estudo todos os participantes com 60 anos ou mais.
O desfecho do estudo é o envelhecimento saudável, avaliado com base em 5 indicadores, conforme orientação da OMS: memória tardia, força de preensão palmar e dificuldade para realização de três atividades da vida diária (vestir-se, administrar os próprios medicamentos e administrar o próprio dinheiro).
A caracterização socioeconômica do participante foi baseada na escolaridade, na renda domiciliar per capita e na raça/cor autorreferida. Para descrição da amostra foram consideradas as variáveis sexo, idade, arranjo domiciliar e número de doenças crônicas.
A descrição da amostra foi baseada em distribuições de frequências. A mensuração do envelhecimento saudável foi realizada utilizando o modelo para Respostas Graduadas da Teoria de Resposta ao Item (TRI). A associação não ajustada entre o desfecho e as covariáveis foi feita com base no teste Qui-Quadrado de Pearson, com correção de Rao-Scott. As análises foram realizadas no Stata 16.0, considerando-se os pesos amostrais, o efeito do delineamento do estudo e nível de 5% de significância.
RESULTADOS PARCIAIS: A amostra foi composta por 6.929 indivíduos com 60 anos ou mais. Pouco mais da metade da amostra foi composta por mulheres (54,4%), 55,1% tinham entre 60 e 69 anos e quase metade eram brancos. Cerca de 40% tinham menos de 4 anos de estudo, aproximadamente 75% não moravam só e 47% não reportaram o diagnóstico de nenhuma das doenças crônicas consideradas. Com relação aos indicadores de capacidade intrínseca, destaca-se que 47,2% dos participantes estão no pior tercil do teste de memória e 82,5% possuem força de preensão manual adequada. Mais de 90% deles não apresentaram dificuldades nas atividades da vida diária. O uso do modelo da TRI se mostrou apropriado para a mensuração do Envelhecimento Saudável. Entre aqueles de maior escore, foi maior a participação de idosos de 60 a 69 anos, brancos, de maior escolaridade, maior tercil de renda e que não relataram possuir diagnóstico para as doenças crônicas consideradas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os achados iniciais do estudo apontam para a existência de desigualdades sociais no envelhecimento saudável, evidências que podem auxiliar a proposição de políticas públicas que garantam cuidado longitudinal integral para os idosos brasileiros.