Bolsista: RODRIGO PARANHOS SANTOS
Orientador(a): Maria da Conceição Chagas de Almeida
Resumo: Parece um consenso que ao longo dos anos houve o aumento do desejo de ingresso no funcionalismo público (FRANCO, DRUCK e SELIGMANN. 2010)(SILVA, SOUZA e TEIXEIRA. 2017), resultando em uma intensificação de disputa entre trabalhadores estáveis e não estáveis (FRANCO, DRUCK e SELIGMANN. 2010) mesmo com uma fragilização do reconhecimento social e valorização simbólica (FRANCO, DRUCK e SELIGMANN. 2010), provavelmente ocorridas pelas garantias de desprecarização idealizadas sobre o serviço público ou pela estabilidade oferecida (SILVA, SOUZA e TEIXEIRA. 2017). Entretanto, não foi identificada na literatura, até o momento, análises quantitativas sobre distorção entre nível funcional e escolaridade e a associação com sintomas de depressão ou de ansiedade entre os servidores públicos.
A psicologia organizacional e do trabalho tenta aprofundar o conhecimento a respeito dos mais diversos âmbitos do binômio trabalhador- empregador, no sentido de perceber divergências e possibilidades de ações efetivas que minimizem possíveis desigualdades e injustiças (ZANELLI, BORGES ANDRADE E BASTOS. 2014). Neste sentido, pretende-se aprofundar a análise dos dados cruzando as distorções existentes com variáveis como sexo, raça/ cor, possuir filhos, números de filhos, situação conjugal e idade quantificando resultados e permitindo, de maneira embasada, garantir reflexões fundamentas para elaboração de políticas públicas levando em consideração a saúde mental dos servidores e suas especificidades.
Foi analisado o índice de distorção entre as variáveis nível funcional e escolaridade disponíveis no banco de dados da onda 1 do ELSA-Brasil, e, posteriormente investigando correlação deste percentual com sintomas de ansiedade e depressão. De um total de 15105 participantes voluntários de 6 instituições públicas brasileiras cujos dados foram coletados na onda 1 do ELSA Brasil, foram utilizados para este projeto 7.791 por possuírem critério de inclusão necessário para a análise: situação ativa e em condição passível de distorção entre a função exercida e a escolaridade.
Do total resultante, 44,28% não estão em situação de distorção entre seu nível funcional e os cargos ao qual exercem, 26,25% estão em distorção de nível médio para apoio e 29,47% estão em distorção de nível superior para médio ou médio para apoio. Chegou-se a um número de 4341 pessoas em situação de distorção, o equivalente a 55,72% da amostra analisada.
Posteriormente, gerou-se os resultados do cruzamento entre as variáveis nível funcional e escolaridade e duas sessões do CIS R (Clinical Interview Schedule Revised) referente a sintomas de ansiedade e sintomas de depressão. (SANTOS ET AL. 2013).
As distorção quando cruzados com a variável sexo e sintomas de depressão e sintomas de ansiedade resultaram em P=0.062 e P= 0.356 respectivamente para o sexo masculino e P=0.000 e P=0.008 para o sexo feminino. Tal resultado aponta para uma possível correlação entre o sexo feminino e os desfechos observados.
Referências:
1- FRANCO, Tânia; DRUCK, Graça; SELIGMANN-SILVA, Edith. As novas relações de trabalho, o desgaste mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo, v. 35, n. 122, p. 229-248, Dez. 2010.
2- Santos. M Santos et al. (2013). Adaptação transcultural e confiabilidade de medidas de características autorreferidas de vizinhança no ELSA-Brasil. (Supl 2): 122 a 130. Disponível em: DOI: 10.1590/S0034-8910.2013047003871. Acesso em 01 de novembro de 2021.
3- SILVA, Priscila Matos Crisostomo da; SOUZA, Kátia Reis de; TEIXEIRA, Liliane Reis. POLÍTICA DE DESPRECARIZAÇÃO DO TRABALHO EM SAÚDE EM UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE C&T: A EXPERIÊNCIA DE PROFESSORES E PESQUISADORES. Trab. educ. saúde, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 95-116, Apr. 2017.
4- ZANELLI, José Carlos; BORGES ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. 2. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2014.