Bolsista: Livia Marina Santos Monteiro
Orientador(a): Tatiana Kugelmeier
Resumo: Os primatas não humanos (PNH) são modelos valiosos para a pesquisa biomédica, acelerando o desenvolvimento de tratamentos e a prevenção de doenças. A partir da pandemia da COVID-19, a demanda por PNH cresceu exponencialmente e instalou-se uma crise global pela falta desses biomodelos. A tuberculose (TB) é uma zoonose de grande preocupação mundial, com altos índices de morbidade e mortalidade em PNH, ocasionando um efeito devastador, em especial, nas populações mantidas sob cuidados humanos. Desde 2011, o Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB) enfrenta surtos de TB nas suas colônias de PNH e vem enveredando esforços para o estudo da fisiopatogenia, epidemiologia, diagnóstico, controle e prevenção da doença. No entanto, a detecção precoce da doença e a identificação de animais infectados na forma latente (LTBI) ainda é um grande desafio. O teste de produção de interferon-gama por células mononucleares do sangue periférico (IGRA) apresenta grande potencial na detecção da infecção em seus três estágios (latente, subclínica e ativa), além de elevada especificidade quando comparado ao teste cutâneo com tuberculina (TCT). Os IGRAs comerciais são importados, o que dificulta sua aquisição, e não há testes específicos para PNH disponíveis. Assim, uma nova proteína quimérica - PstS1(285-374):CFP10) - foi projetada e patenteada pelo LAMICEL/ IOC/ Fiocruz e, em testes realizados em humanos sadios e contatos recentes de pacientes com TB, aumentou ligeiramente a detecção da infecção, em comparação aos antígenos tradicionais. Essa nova proteína também foi capaz de identificar, em um curto período, um caso incidente em humanos que evoluiu da TB latente para pulmonar ativa. Considerando os resultados obtidos em humanos, esse estudo visa padronizar e validar o teste IGRA com a nova quimera em PNH com o intuito de aumentar as chances de detecção precoce da infecção e contribuir para o controle e a prevenção da TB. O estudo será dividido em duas etapas. Na primeira, os animais serão triados pelos testes TCT e molecular (Xpert® MTB/ RIF Ultra). Os positivos para um ou ambos os testes serão submetidos à cultura bacteriana e aos testes de IGRA com a nossa quimera proteica, que está sendo desenvolvido para estimular a produção de INF-Y no sangue total de primatas. Todos os animais serão avaliados clinicamente e, por meio de exame radiológico, em casos de alteração na ausculta pulmonar ou histórico de perda de peso. De posse dos resultados obtidos na primeira etapa deste estudo, será selecionado aleatoriamente um dos recintos da colônia para testagem quanto ao IGRA em estudo cego. Os animais serão observados diariamente, durante seis meses, quanto aos aspectos clínicos e comportamentais. Mensalmente, os animais serão submetidos ao IGRA e PCR, exame clínico e de imagem, se necessário. Caso venham à óbito ou sejam submetidos à eutanásia seguindo os critérios estabelecidos no protocolo de criação, serão encaminhados para exame anatomopatológico e as amostras enviadas para testes moleculares e cultura bacteriana. Essa etapa servirá para validação do IGRA, realizada em macacos rhesus e, posteriormente, nas demais espécies. Esse projeto está alinhado ao plano estratégico da organização mundial da saúde e as linhas prioritárias de pesquisa da Fiocruz para enfrentamento da tuberculose, com perspectiva de ser integrado ao grupo regional de pesquisa observacional em tuberculose, RePORT-Brazil. Assim, pretende-se alcançar os seguintes resultados: a padronização e validação do IGRA nacional para TB em PNH; a obtenção de subsídios para o diagnóstico e o controle da doença população analisada; obtenção de subsídios para investigação da TB latente em PNH; adoção de medidas corretas de prevenção e controle da doença nesta e outras criações de PNH, cativeiro ou vida livre, contribuindo para os programas de vigilância de endemias e epizootias em toda a população animal.