Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 2

Bolsista: DANIELA GOMES DA SILVA
Orientador(a): MARIA AUGUSTA DARIO
Resumo: A família Trypanosomatidae é constituída por diferentes espécies de protozoários parasitas, sendo composta por 23 gêneros. Apesar da enorme riqueza do táxon, apenas aqueles que incluem parasitas definidos como de interesse econômico ou sanitário receberam, durante muito tempo, investimentos financeiros e investigativos, como os gêneros Trypanosoma e Leishmania. Hoje, a descrição de novas espécies e unidades taxonômicas de Trypanosoma spp. em animais silvestres e novas questões sobre T. cruzi demonstram que existem muitas questões a serem respondidas sobre sua diversidade, ecologia e relações filogenéticas. Além disso, conhecer o papel dos hospedeiros mamíferos dentro da transmissão de tripanosomatídeos é de suma importância para o entendimento de sua ecologia. No estado do Espírito Santo (ES), sabe-se que os morcegos podem apresentar um papel fundamental dentro desse ciclo de transmissão. Diante disso, o objetivo desse projeto é determinar e caracterizar a presença de espécies e genótipos de tripanosomatídeos em infecções simples e mistas em morcegos da Mata Atlântica do estado. Será feito o levantamento das amostras de coágulos sanguíneos de diferentes espécies de morcegos em três áreas da zona rural do município de Guarapari, onde houve um caso de doença de Chagas aguda por via oral. Os coágulos serão submetidos a extração de DNA, seguida de uma etapa de isolamento por precipitação. As amostras de DNA estão sendo submetidas a reação em cadeia da polimerase (PCR) para o marcador 18S rDNA para a família Trypanosomatidae e serão construídas bibliotecas de DNA para realização do sequenciamento de nova geração (NGS) pelo método de sequenciamento-alvo. Os reads obtidos serão submetidos a identificação das unidades taxonômicas operacionais (OTUs) e a análise filogenética para identificação das espécies e genótipos de tripanosomatídeos. Será construída uma rede de interação entre as espécies de tripanosomatídeos e de morcegos para representar as possíveis correlações entre esses.

Bolsista: DAMARIS SARITA DE MARCOS NEVES
Orientador(a): ERIKA MICHALSKY MONTEIRO
Resumo: As leishmanioses são classificadas pelo Ministério da Saúde como doenças infecciosas e não contagiosas, com perfis epidemiológicos distintos. A leishmaniose tegumentar (LT) se caracteriza pela presença de úlceras na pele e mucosas; enquanto a leishmaniose visceral (LV) acomete órgãos internos e possui alta letalidade, sendo esta a forma mais grave. Os agentes etiológicos da LT e da LV são protozoários do gênero Leishmania, transmitidos pela picada de fêmeas de flebotomíneos infectadas. Em Baldim, nos últimos 5 anos foram notificados 14 casos de LT e 1 caso de LV. O presente trabalho teve por objetivo estudar os aspectos entomológicos envolvidos na transmissão das leishmanioses; a detecção de infecção natural de flebotomíneos por Leishmania e a correlação do número de flebotomíneos capturados com os dados climáticos (temperatura, umidade e precipitação) do município. Para o estudo entomológico, foram realizadas capturas em 10 bairros, utilizando-se armadilhas luminosas do tipo HP entre ago/2020 e jul/2021 no peri e intradomicílio de 10 residências. Os flebotomíneos capturados foram levados ao laboratório do Instituto René Rachou, Fiocruz Minas, onde foram montados, identificados taxonomicamente e analisados molecularmente, para estudos de infecção natural por Leishmania. Os dados climáticos (temperatura, umidade e precipitação) referentes ao período de estudo foram obtidos no Inmet e correlacionados com o número de flebotomíneos capturados. Ao todo, foram capturadas 12 espécies de flebotomíneos, sendo 563 machos e 355 fêmeas, totalizando 918 indivíduos. A espécie predominante foi Lutzomyia longipalpis (31,44%), vetor de LV, seguida das espécies Nyssomyia whitmani (11,97%) e Nyssomyia intermedia (10,26%), vetores de LT. A maioria dos flebotomíneos foi capturada no peridomicílio (71%). Com relação ao estudo de infecção natural, não houve resultado positivo para o gênero Leishmania. Foi possível observar que o início das chuvas e o aumento da umidade ocasionou um aumento no número de flebotomíneos capturados e que a temperatura influenciou positivamente na densidade populacional. Portanto, a proximidade de Baldim com municípios endêmicos e áreas destinadas ao turismo, como a Serra do Cipó, que associada às condições ambientais favoráveis, grande número de casos de LV canina, notificações de casos humanos de LT e LV e presença de vetores de leishmanioses, representam importantes fatores tanto para a manutenção das leishmanioses quanto para a expansão da doença no município.

Bolsista: SABRINA GOMES RODRIGUES
Orientador(a): CLAUDIA REGINA BRANDAO GOMES
Resumo: A tuberculose (TB) é uma doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis, e representa um grave problema de saúde pública, apesar da existência de um esquema terapêutico que, na maioria dos casos, leva a cura. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um terço da população mundial é portadora assintomática do M. tuberculosis, e a estimativa é que em 2019, cerca de 10 milhões de novos casos de TB ocorreram em todo o mundo e, aproximadamente 1,2 milhões de pessoas morreram da doença. No mesmo ano, a estimativa é que meio milhão de pessoas desenvolveram tuberculose resistente a rifampicina, dentre elas, 78% tinham tuberculose multirresistente. No Brasil, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, em 2019 foram notificados 66.819 novos casos de TB (incidência de 31,6/100 mil habitantes). Neste ano, foram notificados cerca de 4,5 mil óbitos pela doença, com um coeficiente de mortalidade de 2,2 óbitos por 100 mil habitantes. Diante deste panorama, torna-se urgente o desenvolvimento de novas substâncias potencialmente ativas, capazes de apresentar maior eficácia e baixa resistência. Dentre as moléculas propostas para a síntese de novas substâncias com potencial atividade antituberculose pode-se destacar os derivados quinolínicos. Vários derivados quinolínicos tem sido reportado na literatura com atividade antituberculose, podendo-se destacar a bedaquilina, um derivado diarilquinolínico, que foi aprovado em 2012 pelo FDA, e em 2019 pela ANVISA. A bedaquilina é eficaz no tratamento de pacientes com infecção pulmonar por Mycobacterium tuberculosis multirresistente e extensivamente resistente a múltiplos fármacos. Neste contexto, o nosso grupo vem trabalhando com a síntese de várias substâncias desta classe, sendo o objetivo deste trabalho a síntese e o aumento de escala de building-blocks que possibilitem a obtenção de uma biblioteca de substâncias derivadas do núcleo 7-cloroquinolina, com múltiplos padrões de substituição na posição C-6, e funcionalizados na posição C-4 com as porções etilenodiamina, hidrazina e etanolamina.

Bolsista: DAVI VASCONCELOS ELOY DA ROCHA SILVA
Orientador(a): MITERMAYER GALVAO DOS REIS
Resumo: As enterobactérias são bacilos gram-negativos que representam um importante grupo de bactérias que faz parte da microbiota intestinal normal do homem. A família Enterobacteriaceae está entre os patógenos mais comuns em desenvolver diversas infecções nocivas à saúde do ser humano. O manejo do tratamento destas infecções têm sido cada vez mais difícil por conta da crescente resistência aos antibióticos amplamente utilizados na prática clínica. A resistência à antimicrobianos é difundida por inúmeros fatores, tanto antropológicos, quanto intrínsecos das próprias bactérias. Acredita-se que o uso indiscriminado de antibióticos seja o que mais favoreça ao desenvolvimento da resistência por parte desses patógenos, porém, outros critérios a serem levados em consideração são: a qualidade do sistema de saúde local, a qualidade da água disponível para consumo, além do nível de higiene e infraestrutura local. Existem inúmeras adversidades relacionadas com a infecção por bactérias resistentes a múltiplos antibióticos, como um maior número de mortes, pior prognóstico, complicações de saúde e um maior custo em internações não só em escala nacional, mas globalmente. O objetivo deste projeto é determinar a prevalência das enterobactérias resistentes a múltiplos antibióticos no ambiente e na comunidade em Saramandaia, Salvador – BA. O presente estudo faz parte de um projeto maior intitulado “A influência da ecologia local nas doenças transmitidas pela água”, aprovado pelo CEP-FIOCRUZ sob número de CAAE: 42424915.9.0000.0040 e cadastro no SisGen: A60440F. O estudo será realizado em Salvador-Bahia (38° 30' 39''S / 12° 58' 16''W) na bacia hidrográfica do Rio Camarajipe, utilizando os pontos de coleta do livro "Caminho das águas em Salvador: Bacias hidrográficas, bairros e fontes" onde foram incluídos como critérios para definição dos pontos de coleta a proximidade com as habitações e local de recreação, presença de saída de esgoto clandestino e possível contato direto pela população. Após esses critérios, foram incluídos 5 pontos no Rio Camarajipe para a coleta e 2 na comunidade de Saramandaia. A coleta de água e a medição dos fatores abióticos será realizada no mesmo momento nos pontos selecionados da bacia hidrográfica uma vez na estação seca e uma vez na estação chuvosa. Para análise microbiológica da água, o kit Coliscan EasyGel e o Microbial Source Traking (MST) serão realizados para determinação da quantificação da contaminação fecal e sua origem. Para triagem das enterobactérias, a água coletada será plaqueada em meio ágar MacConkey e Chromagar em triplicata. Os isolados com características morfológicas sugestivas de Escherichia coli, Klebsiella penumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter cloacae serão enviados para identificação de gênero e espécie pelo MALDITOF e Vitek. Para análise dos genes associados à resistência aos antibióticos serão realizadas reações de PCR convencional utilizando primers específicos para genes associados a resistência aos betalactâmicos e cefalosporinas já descritos na literatura. Para avaliação do impacto na comunidade, serão coletadas amostras de fezes dos residentes de Saramandaia para avaliação da presença de enterobactérias por meio da semeadura de um swab de cada amostra de fezes em meio ágar MacConkey. A identificação e análise de genes associados à resistência antimicrobiana acontecerão de maneira semelhante aos isolados ambientais. Com o presente estudo, espera-se identificar a prevalência das enterobactérias resistentes a múltiplos antibióticos na comunidade de Saramandaia e ao longo da bacia do rio Camarajipe, para assim, poder enriquecer e estimular a discussão sobre medidas de políticas públicas que podem ser adotadas para minimizar a prevalência dessas bactérias em Saramandaia e no rio Camarajipe.

Bolsista: KAREN DA SILVA SAMPAIO
Orientador(a): OTAVIO DE MELO ESPINDOLA
Resumo: Em dezembro de 2019, casos de síndrome respiratória aguda grave (SARS) surgiram em Wuhan, China, sendo posteriormente associados a um novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Desde então, manifestações neurológicas têm sido descritas além dos sintomas típicos da doença por coronavírus 2019 (COVID-19), incluindo febre, tosse, diarreia e fadiga. No entanto, antes da implementação de estratégias de vacinação em massa, a COVID-19 foi associada a um amplo espectro de alterações neurológicas do sistema nervoso central (SNC), incluindo quadros de cefaleia persistente associada a hipertensão intracraniana idiopática, meningoencefalites, encefalomielites, encefalomielite disseminada aguda (ADEM), e encefalopatia. Possíveis mecanismos implicados no desenvolvimento destas manifestações neurológicas incluem morte neuronal associada à infecção direta, síndrome de hiperinflamação associada à superexpressão de citocinas, autoimunidade, ou ainda processos secundários a distúrbios sistêmicos, incluindo sepse, hiperpirexia, hipóxia, hipercoagulabilidade, e outros. Tem sido demonstrado que pacientes com condições neurológicas distintas associadas a COVID-19, incluindo distúrbios inflamatórios agudos, apresentam diferentes padrões inflamatórios do LCR e com alterações nos níveis de biomarcadores de morte neuronal, tais como a proteína Tau e a cadeia leve de neurofilamento (NfL). Pacientes com cefaleia refratária não mostram alterações inflamatórias no LCR. Por outro lado, pacientes com encefalopatia e doenças neurológicas inflamatórias associadas ao SARS-CoV-2 apresentam perfis distintos de citocinas no LCR e no soro. A encefalopatia foi associada a altos níveis séricos de IL-6, um forte preditor de morbidade/mortalidade em COVID-19. A IL-2, uma citocina derivada de linfócitos conhecida por estimular a proliferação de células T e B, também foi aumentada no LCR desses pacientes. Isso corrobora com a síntese intratecal de IgG e de bandas oligoclonais idênticas de IgG no LCR e no soro. Portanto, esses dados sugerem que o desenvolvimento de encefalopatia em COVID-19 é multifatorial e pode ser conduzido por inflamação sistêmica e processos imunomediados. Por outro lado, doenças neurológicas inflamatórias foram associadas com níveis altos de IL-6, CXCL8 e CXCL10 no LCR, que são comumente secretados por astrócitos e micróglia ativados. Além disso, o LCR desses indivíduos foi caracterizado por pleocitose mononuclear, aumento modesto de proteínas totais, e altos níveis de NfL, revelando um processo inflamatório ativo. Contudo, os mecanismos de neuropatogênese na COVID-19 ainda não são claros. Portanto pretendemos avaliar a expressão de citocinas e fatores neuroinflamatórios em amostras de LCR e soro de pacientes com COVID-19 e síndromes e sintomas de alterações do SNC, de modo a melhor compreender a patogênese destes processos. Para tal será realizada a dosagem de citocinas e fatores inflamatórios por Luminex em amostras de LCR e soro de grupos de pacientes com COVID-19 e as seguintes manifestações neurológicas: (1) cefaleia refratária (n=12); (2) encefalopatia (n=22); (3) doenças neurológicas inflamatórias (IND) (n=14), incluindo meningoencefalite, mielite, encefalomielite disseminada aguda, encefalite, meningite e neuromielite óptica. Por isso, resultados sobre marcadores de inflamação possibilitarão identificar citocinas que influenciam na migração de células imunes para SNC, e os mecanismos disparados pela infecção e que resultam no desencadeamento de manifestações neurológicas na COVID-19. Além disso, será possível compreender melhor os processos envolvidos na neuroinfecção por coronavírus humanos.

Bolsista: MELYSSA GABRIELY SILVA
Orientador(a): Lindomar José Pena
Resumo: O vírus chikungunya (CHIKV) foi identificado pela primeira vez em 1952, na Tanzânia, e, desde então, causa surtos esporádicos em vários países ao redor do mundo. Nos últimos anos, diversos surtos relacionados à arboviroses têm ocorrido em todo mundo se tornando motivo de preocupação para órgãos governamentais e pesquisadores. Essa preocupação crescente impulsionou pesquisas direcionadas ao desenvolvimento de antivirais e imunizantes contra o vírus. Porém, não há tratamentos aprovados contra esse patógeno. Considerando a necessidade do desenvolvimento e validação de fármacos eficazes e seguros para o uso na prática clínica, a presente proposta visa avaliar in vitro moléculas com potencial de inibição específica contra o CHIKV.