Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição ZERO

Revista: Edição ZERO | Ano: 2022 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Inventário dos espécimes tipos (Arachnida, Insecta) da Coleção de Artrópodes Vetores Ápteros de Importância em Saúde das Comunidades (CAVAISC) da Fundação Oswaldo Cruz para elaboração de Catálogo do Acervo
Bolsista: LUCIELY LINS PALLOT RANQUINE
Orientador(a): Cavaisc
Resumo: As Coleções Biológicas por apresentar de espécimes-testemunho, é uma fonte importante de informação histórica da biodiversidade. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), tem como característica marcante a dedicação à construção das Coleções Científicas, atualmente pertencente a Fundação Oswaldo Cruz. Em 1909, a Coleção Ixodides foi elaborada em decorrência dos estudos morfológicos dos carrapatos no Brasil e da descrição de várias novas espécies pelo pesquisador Henrique Aragão. O pesquisador que era protozoologista, ao estudar os potenciais vetores envolvidos no ciclo da febre amarela possibilitou a estruturação e a formação da coleção de carrapatos que com registros de diferentes espécies coletadas desde 1894 até o início da década de trinta do século passado. A Coleção foi de fato institucionalmente estabelecida por Aragão, quando foi apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a primeira tese sobre carrapatos no Brasil, com autoria de Carlos Rohn e orientação de Henrique Aragão. Era a primeira contribuição do IOC na formação de pesquisadores em Acarologia. Aragão faleceu em 1956 e a partir de então, as atividades e pesquisas nesse assunto declinaram e a Coleção ficou estagnada. Dessa forma, a Coleção Ixodides tornou-se uma das Coleções Históricas integrantes do acervo da Coleção Entomológica do IOC. Em 1992, houve a retomada da linha de pesquisa do estudo de carrapatos com a inserção de novos pesquisadores especialistas a convite do Dr. José Jurberg, então chefe do Departamento de Entomologia do IOC, estabeleceu um convênio de cooperação técnica e científica entre a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e o IOC. O que permitiu a retomada da linha de pesquisa do estudo de carrapatos, a partir da cessão do pesquisador Nicolau Maués Serra-Freire, sendo então reiniciada a Coleção de Ixodides, na Coleção Entomológica-IOC, com dois acervos: Coleção Histórica Henrique Aragão (Coleção Fechada) e a Coleção Ixodológica (Coleção Aberta) com fins depositários. Com credenciamento do Laboratório de Referência Nacional em Vetores das Riquetsioses em 2006, pelo Ministério da Saúde laboratório, onde a Coleção estava associada foram incorporados ao acervo e outros artrópodes potenciais vetores ápteros com uma nova denominação: Coleção de Artrópodes Vetores Ápteros de Importância em Saúde das Comunidades (CAVAISC). A CAVAISC foi credenciada e reconhecida em 2008 pela FIOCRUZ. O acervo da CAVAISC apresenta exemplares de aracnídeos (carrapatos, ácaros, amblipígios, esquizomidas e aranhas) e insetos (pulgas e piolhos) com um quantitativo de relevância desses artrópodes de importância para saúde e biodiversidade e nunca foi elaborado um catálogo de espécies tipo presentes na Coleção. E ainda, considerando as recomendações do Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, que estabelece que toda a Instituição que contém espécimes tipo deve publicar lista dos tipos ali depositados. O presente projeto tem como objetivo fazer um levantamento do material tipo de Arachnida (Amblypygi, Schizomida, Araneae, Ixodida, Mesostigmata e Sarcoptiformes) e Insecta (Siphonaptera e Phthiraptera) depositados na CAVAISC, e posteriormente elaborar um catálogo da Coleção, propiciando um melhor conhecimento e divulgação do acervo da CAVAISC para comunidade científica.
AVALIAÇÃO COMPARATIVA DA RESPOSTA IMUNE INICIAL NA INFECÇÃO POR L. braziliensis E L. amazonensis UTILIZANDO O SISTEMA DE “PRIMING IN VITRO” COM CÉLULAS HUMANAS.
Bolsista: Luane Rocha Maciel
Orientador(a): Paula Mello De Luca
Resumo: As Leishmanioses são um grupo de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania, transmitidas ao hospedeiro vertebrado pela picada de fêmeas hematófagas de insetos da subfamília dos Flebotomíneos. A leishmaniose tegumentar americana (LTA) apresenta um espectro de manifestações clínicas, variando desde lesões cutâneas autolimitadas e com tendência a cura espontânea (forma cutânea localizada) até quadros de lesões graves, crônicas e desfigurantes, que caracterizam as leishmanioses cutânea difusa (LCD) e mucocutânea (LM). No Brasil as três principais espécies causadoras da LTA são: Leishmania braziliensis, Leishmania guyanensis e Leishmania amazonensis. A L. braziliensis é a espécie mais frequente e encontrada em todo o território brasileiro e está envolvida com o desenvolvimento LM, enquanto L. amazonensis é a principal espécie causadora da LCD. Os pacientes com LCD são frequentemente resistentes à quimioterapia e apresentam supressão da resposta imune celular específica, já tendo sido relatado que indivíduos infectados com parasitas do subgênero Viannia (como L. braziliensis) apresentam respostas de células T Leishmania específica mais intensas do que pacientes infectados por L. amazonensis. Além disso, pacientes infectados com L. amazonensis apresentam respostas mais fortes “in vitro” a antígenos brutos de promastigotas de L. braziliensis do que de L. amazonensis, antes e após a terapia. Em um trabalho recente do nosso grupo (Macedo et al 2012), demonstramos que antígenos de subgêneros diferentes de Leishmania induzem uma qualidade de resposta imune do tipo Th1 distinta em cultura de células de pacientes curados da forma cutânea localizada causada por L. braziliensis. As diferenças encontradas sugerem que a qualidade da resposta Th1 induzida pelo antígeno total de L. amazonensis pode estar envolvida com os mecanismos imunes responsáveis pela susceptibilidade a esta espécie do parasita, observada em humanos e modelos experimentais. Apesar de amplamente utilizado e contribuir de forma constante no entendimento da resposta imune desencadeada após a infecção por Leishmania, o modelo murino possui limitações quando seus resultados são transportados e aplicados na doença humana, especialmente na LTA, devido a sua baixa infectivadade para L. braziliensis e elevada susceptibilidade para L amazonensis. Sabendo que os eventos iniciais de interação do parasita com o hospedeiro possuem papel fundamental no desfecho da doença clínica e que os estudos no modelo murino possuem suas limitações, torna-se imprescindível a avaliação da resposta desencadeada após a interação inicial Leishmania/hospedeiro em humanos. Na Leishmaniose humana estes eventos iniciais não podem ser avaliados “in vivo”, devido a impossibilidade de se estimar o momento exato de início da infecção e à restrições éticas. O sistema de “priming in vitro” surge como uma alternativa para se avaliar a resposta imune celular específica inicial desencadeada na infecção humana, utilizando células de indivíduos normais sem história de infecção prévia pelo parasito. O presente projeto objetiva avaliar comparativamente a resposta celular induzida por diferentes cepas de promastigotas infectantes de L. braziliensis e L. amazonensis em culturas de células de um mesmo indivíduo sadio, auxiliando no entendimento da modulação na resposta do hospedeiro desempenhada por cada espécie ou cepa do parasito.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional: antecedentes, objetivos e resultados (1980- 2022)
Bolsista: Isabela Kiselar Teixeira
Orientador(a): INGRID FONSECA CASAZZA
Resumo: A região do Rio São Francisco, que tem sua nascente localizada em Minas Gerais e deságua na divisa entre Alagoas e Sergipe após banhar outros Estados, é atualmente palco de grave crise ecológica e de série de conflitos pelo uso da água que inclui acesso limitado das populações locais a este recurso. É um dos ecossistemas que mais sofreu intervenções a partir da segunda metade do século XX no país e foi foco de projetos modernizadores que conduziram um processo de reconfiguração que ocasionou impactos socioambientais e sanitários em busca do desenvolvimento regional. No Brasil a partir da década de 1940 foram implementados planos de desenvolvimento regional que visavam à ocupação e o aproveitamento dos recursos naturais para reposicionamento da economia nacional no contexto planetário dos programas de desenvolvimento (D’Araújo, 1992; Staples, 2006). Nesta região as águas do rio eram o principal recurso a ser explorado e a política de desenvolvimento teve início em 1945 com a criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Em 1948 para elaboração de um plano geral e construção de infraestrutura o governo criou a Comissão do Vale do São Francisco baseada no trabalho realizado nos EUA pela Tennessee Valley Authority que a partir de 1930 criou um modelo de desenvolvimento regional por meio do planejamento centralizado de grandes obras públicas para reprojetar sistemas sociais e naturais em áreas pobres que foi aplicado em outros países (Coelho, 2005; Brose, 2015). Nas últimas décadas do século XX, na mesma lógica desenvolvimentista, foram retomadas com fôlego renovado as antigas discussões sobre a proposta de transferência de água do São Francisco para bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional. Em 2007, após a concretização das ideias em um projeto que foi levado adiante, tiveram início as obras de transposição e em 2017 foram inauguradas as primeiras etapas deste empreendimento. Assim como a implantação de usinas hidrelétricas, a transposição do São Francisco exigiu grandes obras que provocaram impactos socioambientais. O recorte cronológico deste projeto têm início em 1980, década na qual começaram a ser apresentados e discutidos novos projetos baseados no desvio de águas do São Francisco. O marco final no ano de 2022 refere-se ao acompanhamento dos efeitos e dos impactos promovidos pelas obras do projeto de integração no momento em que foram concluídos os eixos Norte e Leste e as águas do velho Chico chegaram ao Estado do Rio Grande do Norte. O objetivo desta pesquisa é realizar uma análise histórica do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco considerando os antecedentes e debates acerca do projeto, seus propósitos, o processo de implantação e, sobretudo, os impactos socioambientais e implicações sanitárias. O trabalho compreenderá pesquisa bibliográfica e levantamento documental. A metodologia consiste na abordagem das fontes a partir de articulação entre questões da história ambiental e da história da saúde. A análise da história do projeto de transposição inserido em um contexto de projetos modernizadores implementados a partir da década de 1940 justifica-se pela grave crise ambiental que acomete a região na atualidade. Compreender como as transformações socioambientais ocasionadas por estes projetos provocaram efeitos duradouros que se somaram a antigos problemas potencializando as já precárias condições de vida da população contribui para o entendimento da crise hídrica atual e dos conflitos em torno dos usos da água na região e destaca a relevância desta pesquisa. A originalidade de um trabalho que tem como objeto de estudo o projeto de transposição das águas a partir de uma perspectiva histórica que pretende articular abordagens da História Ambiental e da Saúde também justifica sua realização. Por fim, além de trazer objeto e abordagem originais da história do Rio São Francisco, o presente subprojeto contribui para as discussões relativas à Grande Aceleração a partir de contextos locais.
PAPEL DA MICROBIOTA NA PATOGÊNESE E PREVENÇÃO DA GIARDÍASE HUMANA
Bolsista: BRUNO SANTOS ALVES VICENTE
Orientador(a): VICTOR DO VALLE PEREIRA MIDLEJ
Resumo: Ainda hoje, as doenças negligenciadas afetam quase um sexto da população mundial, refletindo um descaso de vários setores da sociedade, inclusive as próprias pessoas que são acometidas. Nesse cenário, surge a giardíase, doença comum no Brasil. Os efeitos clínicos da giardíase são mais significantes em crianças, podendo A maioria dos estudos não atentam para o ambiente onde esses parasitos colonizam, descartando a microbiota como uma variável importante para entender a patogênese da doença. Esse conjunto de bactérias esta diretamente ligada à saúde do ser humano e sabe-se que interfere no modo como alguns parasitos infectam seus hospedeiros. Nesse projeto visamos abordar a relação parasito-hospedeiro incluindo o fator microbiota, onde verificaremos o papel de uma microbiota saudável ou em disbiose, relacionada às doenças, na interação da giárdia com o hospedeiro. Serão empregadas técnicas de cultivo 3D das células hospedeiras, bem como o cultivo simultâneo entre os parasitos, bactérias e células intestinais para ensaios de interação. Os resultados serão analisados por técnicas microscópicas e moleculares a fim de construir dados significativos para estudos aplicados. A giardíase é bem comum em áreas pobres no Brasil, onde os indivíduos dependem unicamente do SUS.
O Conteúdo curricular e a temática agrotóxico e saúde nos cursos de graduação na Amazônia Legal
Bolsista: Thamyres Macedo do Nascimento
Orientador(a): MARCILIO SANDRO DE MEDEIROS
Resumo: O Conteúdo curricular e a temática agrotóxico e saúde no curso de graduação da ciência da saúde na Amazônia Legal. Thamyres Macedo do Nascimento 1 Marcílio Sandro de Medeiros2 1 Universidade do Estado do Amazonas, Manaus- AM, Brasil. 2 Instituto Leônidas & Maria Deane, Fundação Oswaldo Cruz, Manaus- AM, Brasil. Introdução: A nova velha faceta do vetor desenvolvimentista baseada na re-primarização da economia da Amazônia, está cristalizado na produção de alimentos e na pecuária extensiva, que substitui florestas em pastagem, baseada no uso extensivo de agrotóxico, responsáveis pela destruição da biodiversidade e contaminação de trabalhadores, trabalhadoras e consumidores. Nesse contexto, as instituições de Ensino superior têm um papel fundamental na construção de sentidos e na produção de massa crítica para enfrentamento dos problemas correlatos ao uso indiscriminado do agrotóxico no país. O Projeto Político Pedagógico (PPP), assim como aos elementos básicos norteadores do processo ensino-aprendizado, preconizam a instauração de uma forma de organização do trabalho pedagógico da universidade na sua globalidade, predestinada a superar os principais conflitos e problemas da nossa contemporaneidade. Objetivo: Identificar a abordagem da temática agrotóxico e saúde na matriz curricular de cursos de ensino superior na Amazônia Legal. Metodologia: A pesquisa é de abordagem qualitativa baseada em análise documental cuja interpretação baseou-se em Análise de Conteúdo de Bardin, e nas três dimensões da pedagogia Histórica Crítica proposta por Saviani, a saber: (i) histórica; (ii) social; e (iii) epistemológica. A área e a população de estudo foram, respectivamente, a Amazônia Legal e um curso da área de saúde de uma instituição do ensino superior, cuja identificação foi resguardada em virtude de questões éticas. A pesquisa é apoiada pelo CNPq, sendo registrada no CAE de N0 54180621.7.0000.5016 do Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: A análise da categoria histórica do PPP revelou que a justifica de criação do curso, primeiramente, teve como proposito promover [...] “maior fixação desses profissionais no interior, [...] pretendendo assim garantir um melhor retorno e fixação desses profissionais nos municípios de origem dos acadêmicos, [...] inclusão social e inclusão educacional na Amazônia Ocidental”. Em segundo, são descritas as “oportunidades excepcionais” da fronteira econômica da Amazonia, apresentada, sobretudo, como comodities, pois é detentora das mais “amplas reservas minerais e gás/petróleo; plantas medicinais, especiarias, oleaginosas, fruticultura tropical; e pescados. A análise da categoria epistemológica afirma que o PPP está orientado para uma [...] “compreensão do conceito ampliado de saúde [...] que dê conta dos [...] questionamentos, crises, tais como; transição epidemiológica e demográfica, autocuidado das pessoas, autonomia do usuário, rapidez da produção e obsolescência do conhecimento”, e sobretudo, que [...] “dê conta da atenção aos indígenas e outras minorias, e questões de natureza religiosa, além de práticas distintas em saúde”. A análise dos conteúdos das 48 ementas revelou ausência do termo e pouca visibilidade que outros assuntos correlatos aos agrotóxicos: (i) Uma ou mais vezes citadas: Sistema Único de Saúde; Amazônia ou Amazônica; Saúde Ambiental; Sistema de Informação em Saúde; Saúde Coletiva; Condições (de vida); Hábito (de vida) ; Neurológico; Hepatologia; (ii) nenhuma vez citado: Agrotóxicos, Intoxicação ou Toxicologia; Saúde do Trabalhador ou doenças ocupacionais; Sociologia rural ou Antropologia; e Vulnerabilidade. Conclusão: A matriz curricular deve prever fotos e acontecimentos correlatos a produção, consumo e uso de agrotóxico na Amazônia a fim de produzir conhecimentos, práticas e atitudes em saúde para enfrentá-las.
Análise e descrição de perfis de idosos vulneráveis na Atenção Básica de Saúde.
Bolsista: FELIPE CARNEIRO DE SOUZA
Orientador(a): CLEBER NASCIMENTO DO CARMO
Resumo: Este trabalho utilizou dados provenientes do projeto intitulado: “Vulnerabilidade e Fragilidade: proposta de indicadores epidemiológicos para o monitoramento em saúde do idoso na atenção básica de saúde”, desenvolvido no Rio de Janeiro/RJ. Foram elegíveis para este estudo todos os indivíduos de 60 anos ou mais, cadastrados no Programa de Saúde da Família da Clínica da Família Victor Valla e do Centro Municipal de Saúde Manguinhos (CMS Manguinhos), unidades que integram a iniciativa Teias-Escola Manguinhos da ENSP/FIOCRUZ e estão localizadas na área programática 3.1. A Clínica da Família Victor Valla e o CMS Manguinhos, juntos, são constituídos por quatorze equipes de saúde da família, com aproximadamente 3129 idosos cadastrados. Os idosos foram recrutados no período entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014 e acompanhados por um período de seis meses, a partir da data do recrutamento. No total, 640 idosos participaram do seguimento do estudo e tiveram seus dados analisados. Um instrumento de coleta de dados foi elaborado especificamente para o estudo. A primeira parte do instrumento é constituída por um questionário estruturado, contemplando variáveis sociodemográficas, de saúde e estilo de vida e os desfechos adversos de saúde, alvo do estudo. A segunda parte é constituída pelo instrumento VES 13. A análise descritiva dos dados foi realizada através de medidas de tendência central, de dispersão e de distribuições de frequência. A presença de diferenças significativas entre os grupos estudados foi verificada através de testes estatísticos paramétricos e não paramétricos. Numa etapa posterior, foi realizada uma série de análises de agrupamentos para identificar um perfil multivariado dos indivíduos vulneráveis. A análise de agrupamentos (cluster analysis) é uma técnica estatística que permite ao pesquisador separar ou classificar objetos observados em um grupo ou em número específico de subgrupos ou conglomerados (clusters) mutuamente exclusivos, de modo que os subgrupos formados tenham características de grande similaridade interna e grande dissimilaridade externa. O programa computacional livre R foi utilizado para a realização das análises estatísticas previstas no projeto de pesquisa. Uma análise de agrupamentos é importante neste caso, por causa do seu objetivo primário: reunir as observações em grupos, de acordo com as similaridades entre si, considerando as variáveis que estão sendo consideradas. Estes grupos são construídos devido a um determinado nível de proximidade entre eles, calculado por meio de medidas de distância ou semelhança (LOESCH e HOELTGEBAUM, 2012). Dos 640 idosos participantes do seguimento do estudo, 623 possuíam dados completos com relação ao questionário; e por conseguinte, foram utilizados para a análise descritiva e de agrupamentos. Foi utilizado o método da silhueta para verificar qual seria o número ótimo de agrupamentos para este conjunto de dados. Seguindo o resultado fornecido por este método, os idosos foram agrupados em 3 clusters. Ao observar os resultados da Tabela 1, nota-se um predomínio de mulheres (64,69%), idosos com idades entre 60-69 anos (54,09%) e mais da metade não tinha frequentado à escola ou possuía ensino fundamental incompleto. Maior parte dos idosos era casado (37,36%), independente em AVD (92,51%) e independente em AIVD (62,32%). Todas as variáveis mostraram diferenças significativas quanto à classificação de vulnerabilidade. De acordo com o apresentado na Tabela 2: o cluster 1 é composto de 197 idosos, sendo 28 homens e 169 mulheres. A média de idade deste grupo é de 75,37 anos. Com relação a escolaridade, quase metade dos indivíduos deste grupo (91 pessoas) estudou até o ensino fundamental I, e quanto ao estado civil, 113 eram viúvos. A maioria das pessoas deste cluster eram independentes em suas atividades básicas da vida diária (AVD), porém dependentes nas atividades instrumentais da vida diária (AIVD). O cluster 2 contém 234 idosos, todos do sexo feminino. A média de idade deste grupo é quase 8 anos menor que o do cluster 1 (67,97 anos). A maioria destas 234 pessoas possui o ensino fundamental I (120 idosas). Com relação ao estado civil, 97 idosas eram casadas e 68 eram viúvas. E neste grupo, quase a sua totalidade eram independentes nas AVD (229 das 234 idosas) e quase 90% eram independentes nas AIVD (204 das 234 idosas). Por sua vez, o cluster 3 contém 192 idosos, todos do sexo masculino. A média de idade deste agrupamento era de 68,70 anos. Tal como os outros dois clusters, a pluralidade do grupo tinha o ensino fundamental I; porém este grupo possui uma clara maioria de pessoas casadas (116 das 192 pessoas). Este grupo também, majoritariamente, possuía independência nas AVD (184 dos 192 idosos); e nas AIVD (112 dos 192 idosos). Por fim, comparando os dados descritivos sobre o escore do VES13 de cada um dos idosos pesquisados, reunidos em seus respectivos agrupamentos; o cluster 1 apresentou escore médio de 5,528 (o maior entre os três agrupamentos); o cluster 2, de 1,124 (o menor entre os 3 grupos); e o cluster 3, de 1,406. Pudemos notar que o grupo que apresentou um maior escore médio do instrumento VES13 foi justamente o agrupamento que reunia a maioria dos viúvos que participaram do seguimento da pesquisa (113 dos 201 viúvos), além de ter sido o grupo mais idoso, em média. Este grupo era composto majoritariamente, por mulheres e por pessoas independentes em AVD - apesar de ter apresentado a maior porcentagem de dependentes entre os 3 grupos (quase 24%, 50 dos 197 idosos); e dependentes em AIVD. Os dados desta pesquisa indicam que quanto mais idoso o indivíduo, mais provável será a situação de vulnerabilidade. Por isso é necessário que os mecanismos de saúde do idoso estejam em pleno funcionamento, pois um acompanhamento cada vez mais cuidadoso, com o passar do tempo, se faz necessário para garantir uma qualidade de vida digna ao idoso. O fato da maioria deste cluster com maior escore médio no VES13 ser composto de mulheres também levanta questões sobre a saúde da mulher, especificamente sobre a saúde da mulher idosa. Com isto posto, é necessário um maior investimento na saúde da mulher, de forma que tal atendimento acompanhe a pessoa de forma contínua. A análise de agrupamentos também nos mostrou um dado interessante: o único grupo no qual a maioria era composto de viúvos, foi o grupo com maior escore no VES13. O que aponta também para a importância do atendimento psicológico ao idoso; tão fundamental nessa faixa etária e sob estas circunstâncias; fato este, muitas vezes negligenciado pelo serviço de saúde pública.
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