Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 1

Revista: Edição 1 | Ano: 2023 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Avaliação da Nova Metodologia Laficave para Impregnação de Papéis com Malathion
Bolsista: JOAO SIMAO SILVA GONCALVES
Orientador(a): JOSE BENTO PEREIRA LIMA
Resumo: Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ Resumo do Subprojeto - Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) Avaliação da Nova Metodologia Laficave para Impregnação de Papéis com Malathion João Simão Silva Gonçalves O controle químico de insetos vetores é uma importante estratégia para interromper a transmissão de patógenos. No entanto, o uso intenso de pesticidas em diversas áreas humanas leva à seleção de populações de insetos resistentes a inseticidas, sendo uma ameaça global ao controle de doenças cujos patógenos são transmitidos por vetores. O uso racional destes compostos é uma das formas de mitigar a disseminação da resistência em populações naturais de insetos, sendo o monitoramento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os planos nacionais de combate a insetos vetores. Neste sentido, a realização de ensaios de susceptibilidade é um dos principais pilares do MRI, requerendo infraestrutura laboratorial e equipes capacitadas, bem como insumos produzidos com padrão de qualidade reconhecido e indicado pela OMS, a fim de que os resultados sejam comparados ao longo do tempo e entre diferentes laboratórios. Os ensaios OMS com insetos adultos utilizam papéis impregnados com doses diagnósticas de inseticidas usados em Saúde Pública, além de kits relacionados, atualmente produzidos e comercializados exclusivamente pela Universidade da Malásia. Todavia, este único centro não tem sido suficiente para prover as demandas dos países, fazendo a descentralização dessa produção necessária. A OMS selecionou o LBCVIV (antigo LAFICAVE) como opção para suprir esta necessidade, ao menos, para os países das Américas, em reconhecimento a sua expertise. Após workshop realizado na Malásia, algumas adaptações e modificações do método de impregnação do LBCVIV tornaram-se necessárias e novas avaliações são fundamentais para validação desse método e confirmação de sua eficácia. Sendo assim, a realização dos bioensaios, bem como as análises cromatográficas dos papéis, são importantes para verificação da distribuição do inseticida, prazo de validade e número de vezes que os papéis podem ser usados. Os resultados obtidos vão contribuir para que a OMS aceite e reconheça os papéis produzidos pelo LBCVIV.
Monitoramento de SARS-CoV-2 e variantes virais em águas residuais da sub-bacia do Canal do Cunha, Rio de Janeiro e Manaus: um modelo de vigilância ambiental em territórios com alta concentração de aglomerados subnormais e saneamento precário
Bolsista: MANUELA ALVES BATISTA
Orientador(a): MARIA DE LOURDES AGUIAR OLIVEIRA
Resumo: Após a identificação dos primeiros casos em Wuhan, o SARS-COV-2 (SC2) se disseminou globalmente. O cenário epidemiológico varia nos distintos países, segundo a fase epidêmica, emergência de novas variantes virais e medidas de intervenção, demonstrando a necessidade de vigilância contínua, mesmo em cenário de redução de novos casos, baixa taxa de transmissibilidade e alta cobertura vacinal como no Rio de Janeiro(RJ). O virus é eliminado no excremento humano, despejado no esgoto ou ambiente. A epidemiologia baseada em esgoto tem sido usada para o monitoramento de SC2, agregando informações sobre a circulação viral pré/pós-bloqueio e vacinação. Estudos revelam alta taxa de detecção de RNA em diferentes matrizes, como esgoto e rios poluídos. Os últimos podem ser fonte alternativa para vigilância ambiental – estratégia central nos locais onde o sistema de esgotamento sanitário é precário/ausente. Contudo, as informações nesse contexto ainda são escassas. Abordagens que permitam estimar a incidência ou monitorar variantes virais no nível populacional são estratégicas para implementar a capacidade de enfrentamento. Esse projeto propõe monitorar a presença de SC2 em águas superficiais contaminadas; ii) avaliar a carga viral de SC2 por bacia hidrográfica e sua associação com dados epidemiológicos e iii) monitorar a circulação de VOCs, com ênfase em territórios com alta concentração de ASN e saneamento básico precário/ausente. Tais informações são centrais para orientar medidas, fortalecer a vigilância e subsidiar o enfrentamento à pandemia. Trata-se de estudo descritivo longitudinal em amostras de água superficial do RJ, compreendendo 6 pontos da Sub-Bacia do Canal do Cunha (SBCC, n=125), coletadas de agosto/2020 a fevereiro/2022. Pontos adicionais incluíram o Canal do Jardim de Alah (Leblon, n=3) e Rio Guandu (Seropedica, n=4). Adicionalmente, 18 amostras de Manaus foram estudadas. A concentração viral foi realizada por filtração em membrana e os ácidos nucléicos extraídos com o kit AllPrep PowerViral DNA/RNA (Qiagen). O SC2 foi pesquisado por RT-PCR em tempo real (Biomanguinhos) e a determinação de VOCs foi realizada utilizando-se o Conjunto para detecção 4Plex e triagem de VOCs (LVRS/ Biomanguinhos). Na SBCC, o RNA viral foi detectado em 76% das amostras, com variação entre os pontos e semanas epidemiológicas. A concentração viral média foi de 4.0log10gc/ml (0.0-4.8log10gc/ml), com maiores concentrações no Canal do Cunha. No Canal do Jardim de Alah e Guandu, encontramos positividade em 33.3% e 50% (4.1-5.0log10gc/ml). Das 18 amostras de Manaus, apenas 2 apresentaram RNA detectável (30,7 e 17.8gc/ml). Nos bairros da SBCC, a detecção viral em águas residuais foi compatível com o cenario epidemiologico. Na SE47 observamos pico de detecção, precedendo ao pico epidêmico de dezembro/2020. Manguinhos, Engenho de Dentro e Cavalcanti apresentaram comostras com alta carga viral. Na SE8-2021, novo pico de detecção coincidiu com a introdução da VOC Gamma. Contexto semelhante foi observado para a Delta. Após período de redução, em dezembro/2021 ocorreu aumento sigificativo da concentração viral em todos os pontos, sinalizando a explosão de casos em janeiro/2022 associada à Omicron - a maior encontrada no período investigado. De 31 submetidas à identificação de VOCs, 7 apresentaram resultados compatíveis com a sua circulação no RJ. As demais amostras não apresentaram amplificação típica. Os achados preliminares evidenciam que, nas áreas com saneamento precário ou ausente, o monitoramento de SC2 em rios poluídos constitui estratégia viável de vigilância. O aumento da concentração viral em água residual precede o aumento da incidência de casos, reiterando a capacidade de identificação precoce de hotspots para intensificação da vigilância epidemiológica. Finalmente, a circulação de novas variantes parece estar associada ao aumento da carga viral em agua residual, reforçando a relevância da vigilância genômica.
Alterações Climáticas e seus Impactos sobre as Doenças Transmitidas por Vetores
Bolsista: Maria Carolina Costa Prado
Orientador(a): SANDRA DE SOUZA HACON
Resumo: Título do Subprojeto: Alterações Climáticas e seus Impactos sobre as Doenças Transmitidas por Vetores O projeto tem por objetivo propor indicadores que permitam avaliar a associação entre mudanças climáticas e a incidência de doenças transmitidas por vetores no Brasil no período de 2000 a 2020 e por fim estimar a Carga Global das Doenças. Metodologia a) Oficinas com especialistas: As oficinas têm por objetivo discutir os indicadores socioeconômicos, ambientais e climáticos referentes à Leishmaniose. Essas continuarão a ser realizadas a fim de se obter informações específicas sobre cada bioma. b) Refinamento dos indicadores: O refinamento dos indicadores referentes à Leishmaniose estão em curso. Haverá ainda outras reuniões a fim de finalizar os indicadores já refinados. c) Sistematização de informações: Etapa já inicada que continuará em curso nos próximos meses. As informações incluídas nas planilhas serão as seguintes: dimensão do indicador, indicador temático, descrição curta, detalhamento/justificativa, fonte e relevância por bioma. d) Definição de indicadores: Serão definidos indicadores socioeconômicos, ambientais e climáticos das demais doenças a dos dados extraídos da revisão sistemática. Os indicadores referentes às demais doenças já foram definidos. e) Refinamento e finalização de indicadores: Os indicadores referentes às demais doenças serão estudados e trabalhados segundo a mesma metodologia. f) Inserção dos dados na plataforma AdaptaClima: Os indicadores propostos ao final do projeto serão inseridos na Plataforma AdaptaClima pela equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) a partir do envio dos indicadores descritos e normalizados de acordo com a ameaça climática e com as doenças analisadas. g) Elaboração de artigos: A partir da definição dos indicadores de cada doença os artigos serão elaborados e submetidos a periódicos nacionais e/ou internacionais, de acordo com a definição a ser feita com a colaboração com todos os autores.
Diversidade de Culicoides Latreille (Diptera: Ceratopogonidae) no município de Urucurituba, Amazonas
Bolsista: RUTE CRISTINA MARQUES COSTA
Orientador(a): Felipe Arley Costa Pessoa
Resumo: Os insetos do gênero Culicoides são diminutos, com 1-3 mm de comprimento. É o gênero mais estudado dentro da família Ceratopogonidae, por serem vetores de patógenos de importância médica e veterinária como vírus Língua Azul em ruminantes domésticos e selvagens, e em humanos, vírus Oropouche e algumas espécies de filárias, também são suspeitos a serem vetores de leishmanias. Existem poucos estudos de Culicoides Latreille na região e nenhum estudo para o município de Urucurituba-AM. Essa falta de estudo pode estar relacionada à falta de investimentos, e por conta da dificuldade de se identificar esses dípteros, devido seu diminuto tamanho. Identificar um inseto que possui importância ecológica, econômica e epidemiológica pode contribuir na solução de problemas entomológicos que possam ocorrer. O foco desse trabalho é conhecer a biodiversidade de Culicoides Latreille no município de Urucurituba, identificando as espécies de Culicoides que ocorre na área de estudo e comparando a riqueza, abundância e diversidade nos seguintes ambientes: florestas, borda de florestas e peridomicílio. O trabalho será realizado no município de Urucurituba no estado do Amazonas, em ambientes florestais e periurbanos nos arredores de Urucurituba, entre os rios Madeira e Tapajós. Para a coleta dos insetos será utilizada armadilhas luminosas tipo CDC. As armadilhas serão instaladas a 1,5m acima do solo e permanecerão por 12h no campo, no período de 18h à 6h. As coletas serão realizadas em transecto horizontal. Alguns morfotipos serão processados individualmente no processo de dissecação para a montagem de lâmina para a análise microscópica e identificação morfológica e identificadas em nível de espécie, através de observações por microscopia óptica, utilizando chaves de identificação, artigos com descrição de espécies. Para avaliar os efeitos dos ambientes na abundância e riqueza dos insetos, serão realizados modelos lineares generalizados mistos (GLMM) com distribuição Poison (para riqueza) e distribuição Gaussiana (para abundância). O estudo visa contribuir com o conhecimento sobre a biodiversidade de Culicoides na área de estudo, verificar se há presença de espécies já apontadas com vetoras de doenças, mostrar diferenças na composição de espécies nos diferentes ambientes e relatar quais espécies estão se adaptando ao peridomicílio.
Aspectos da biologia mitocondrial durante a interação Toxoplasma gondii - célula muscular esquelética
Bolsista: LARISSA CHRISTINE OLIVEIRA MUNIZ
Orientador(a): HELENE SANTOS BARBOSA
Resumo: O Toxoplasma gondii é o agente causador da toxoplasmose, doença infecciosa que afeta mais de 30% da população mundial. Esta doença pode afetar todos os animais de sangue quente, incluindo humanos. Ademais, a formação de cistos teciduais do parasito se dá preferencialmente no sistema nervoso e no tecido muscular esquelético. Mesmo em imunocompetentes, seja por infecção recente ou pela reativação dos cistos teciduais, podem ocorrer miosites no músculo esquelético. Apesar da descrição de casos de miosite pela infecção na literatura, ainda não está claro de que forma o T. gondii pode influenciar na fisiologia do músculo esquelético. A célula muscular esquelética é rica em mitocôndrias, e ainda não se sabe como a manipulação dessa organela pelo parasito é capaz de influenciar seu metabolismo energético, tão relevante neste tipo celular. Por essa razão, o objetivo do trabalho é avaliar a fisiologia mitocondrial de células musculares esqueléticas durante a infecção. Para isso, a linhagem celular de mioblasto murino C2C12 foi infectada com cepas de T. gondii tipo I, II e III (RH, Me49 e VEG, respectivamente) por 24 h. Primeiramente, foi aferida a taxa de infecção de cada uma das cepas em diferentes MOI (multiplicidade de infecção), afim de decidir a melhor proporção parasito-célula para os ensaios experimentais. Para a infecção de mioblastos foram selecionados os MOI de 5:1 para a cepa RH e de 10:1 para as cepas VEG e Me49, cuja taxa de infecção foi de aproximadamente 15%. Para a cultura de miotubos, obtidos após indução da diferenciação por 5 dias, foram os MOI 3:1, 5:1 e 10:1 para RH, VEG e Me49, respectivamente, com infecção de aproximadamente 20%. Os experimentos foram repetidos 2 vezes com lamínulas em triplicata e a montagem do terceiro experimento está em andamento para análise e discussão finais. Ensaios pilotos para avaliar a estrutura da rede mitocondrial em células infectadas com T. gondii estão sendo padronizados por imunofluorescência para a proteína Tomm20, para as formas taquizoítas com anticorpo anti-p30 e os núcleos evidenciados com DAPI. A aquisição das imagens está sendo realizada em microscópio Confocal e a avaliação desse experimento será por meio do plug-in Mito-Morphology. Ademais, o método de qRT-PCR será utilizado com o objetivo de avaliar a expressão gênica de marcadores da dinâmica mitocondrial. Os resultados provenientes deste projeto contribuirão para o melhor entendimento da patogenia da toxoplasmose, seus impactos na fisiologia muscular, e os mecanismos pelos quais o parasito manipula a célula hospedeira para garantir o sucesso da infecção.
O sertão vai virar mar: a usina hidrelétrica de Sobradinho e seus impactos socioambientais (1971-1981)
Bolsista: DANIEL SEIDEL DA SILVA
Orientador(a): Dominichi Miranda de Sá
Resumo: O objetivo deste projeto de pesquisa é realizar uma análise histórica da construção da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, no Vale do Rio São Francisco, inserida no contexto da Grande Aceleração. A ideia é compreender as formas pelas quais projetos como a Hidrelétrica de Sobradinho e seus objetivos principais, neste caso a produção de energia elétrica, contribuíram para a situação conflituosa na qual se encontra hoje a região. O Rio São Francisco tem sua nascente localizada em Minas Gerais e deságua na divisa entre Alagoas e Sergipe, após banhar outros Estados. A região do Rio São Francisco é atualmente palco de grave crise ecológica e de série de conflitos pelo uso da água que inclui acesso limitado das populações locais a este recurso. É um dos ecossistemas que mais sofreu intervenções a partir da segunda metade do século XX no país e foi foco de projetos modernizadores que conduziram um processo de reconfiguração das paisagens locais, que ocasionou impactos ambientais e sanitários. Um dos mais importantes projetos de modernização em regiões e países em desenvolvimento, no período que a historiografia chama de Grande Aceleração, foram barragens e hidrelétricas (Oliveira, 2018). Grande Aceleração é um conceito que vem sendo debatido nas ciências humanas e sociais e representa os anos após a Segunda Guerra Mundial em que foram internacionalmente compartilhados modelos de desenvolvimento calcados no aumento do consumo de bens, recursos e energia. Esse aumento súbito e exponencial da exploração de recursos naturais provocou uma intensificação do impacto das ações humanas nos processos biogeoquímicos do planeta (McNeil & Engelke, 2014). O recorte cronológico deste projeto, 1971-1981, refere-se ao período de construção da usina hidrelétrica. No entanto, pode ser estendido na análise uma vez que seus efeitos são duradouros, ainda estão em curso e a hidrelétrica encontra-se em atividade. A metodologia do projeto consiste na abordagem das fontes históricas a partir de articulação entre questões da história ambiental e da história da saúde. O trabalho compreende pesquisa bibliográfica e levantamento documental. Este projeto teve início em setembro de 2020, durante a pandemia de covid-19. Neste período, devido às restrições impostas pela pandemia e a necessidade de isolamento social, estiveram fechadas para a realização de consultas a acervos uma série de instituições arquivísticas, dentre as quais a Memória da Eletricidade. Essa instituição foi criada em 1986 por iniciativa da Eletrobrás com o objetivo de preservar a história da indústria da eletricidade no país e mantém um acervo histórico importante para este projeto por abranger desde o processo de construção das primeiras usinas hidrelétricas no Brasil à constituição do setor elétrico nacional. Este acervo esteve fechado até fevereiro de 2023 e, até então, só foi possível a realização de levantamentos pontuais na base de dados e eventual acesso a alguns documentos gentilmente cedidos, de acordo com sua disponibilidade em meio digital. Deste modo, um dos principais objetivos nesta próxima fase do projeto é a realização de levantamento e análise de documentos no acervo da Memória da Eletricidade, localizado no Rio de Janeiro. Apesar do desenvolvimento da historiografia ambiental sobre o Brasil, a literatura sobre corpos hídricos, considerada sob um ponto de vista histórico, ainda é escassa. Faltam estudos relacionando as políticas de desenvolvimento do Brasil no século XX e a transformação de sistemas hídricos do país e, principalmente, analisando os impactos socioambientais e sanitários decorrentes. A análise da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, inserida no contexto dos projetos modernizadores que foram implementados na região a partir da década de 1940, a partir da abordagem da história ambiental em diálogo com a história da saúde, contribui para o entendimento da crise hídrica atual e dos conflitos em torno dos usos da água na região do Vale do São Francisco.
Página 24 de 48 páginas.