Bolsista: SAMUEL FERREIRA SILVA
Orientador(a): Norma Lucena Cavalcanti Licinio da Silva
Resumo: O HLA-G é uma molécula de histocompatibilidade de classe I, não clássica, com atividades imunomoduladoras, com efeito inibitório sobre diferentes vias relacionadas à reposta imune inata e adaptativa, encontrada pela primeira vez em citotrofoblastos extravilosos em 1990, exercendo inibição sobre o sistema imunológico da mãe, assegurando a manutenção da gravidez. Alterações nas funções inibitórias do HLA-G são encontradas em algumas condições patológicas, como na pré-eclâmpsia, na eclâmpsia, em abortos de repetição, em infecções, neoplasias e doenças autoimune. Ao se ligar diretamente aos receptores de superfície de células imunes, o HLA-G pode inibir a proliferação de células T, células NK e células B, citocinas anti-inflamatórias, produção de imunoglobulina, ativação de MICA/NKG2D ou senescência celular. A expressão de HLA-G pode ser regulada positivamente por vários vírus, incluindo SARS-CoV-2, podendo favorecer a evasão imune do vírus e a progressão da doença. As modificações no sistema imunológico materno necessárias para hospedar o feto semi-alogênico aumentam o risco de infecção grave por SARS-CoV-2 na gravidez. A proteína spike do SARS-CoV-2 se liga ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) nas células do trato respiratório, interiorizando o vírus, promovendo o dano celular e quadro grave de inflamação, com risco de vida para o doente. O receptor ACE também é encontrado na face materna da placenta. Há uma atenuação geral do sistema imunológico da gestante e elevação da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) na circulação materna, aumentando a suscetibilidade das gestantes ao SARS-CoV-2. Além disso, o efeito imunomodulador do HLA-G na gravidez pode ter implicações adicionais diante da infecção por SARS-CoV-2. Outrossim, o padrão de lesões placentárias decorrentes da COVID-19 corresponde à arteriopatia decidual: o vírus invade o organismo através do receptor ACE2, alterando o sistema renina-angiotensina-aldosterona, levando à vasoconstricção. O estado inflamatório sistêmico ou hipercoagulável também pode influenciar as alterações funcionais da placenta e sofrimento fetal. Ademais, a expressão diminuída de HLA-G é determinada geneticamente e está associada ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia.
Este subprojeto é um desdobramento do projeto “Contribuição de moléculas/genes de histocompatibilidade, receptores, citocinas e fatores pós-transcricionais na patogênese e evolução da infecção por Coronavírus (SARS-CoV-2) em gestantes e recém-nascidos”, que tem como objetivo avaliar a expressão da molécula HLA-G e do receptor ACE2 associada à resposta imune em gestantes com COVID-19 com e sem pré-eclâmpsia. Foram processadas 150 placentas de gestantes com COVID-19, das quais 58 apresentaram alteração macroscópica da placenta, e ainda 58 placentas de gestantes sem COVID-19 cujas placentas não apresentaram alterações macroscópicas. Essas placentas foram blocadas, e cortes de tecidos foram realizados para estudos de imuno-histoquímicas. A padronização da imunofluorescência para os anticorpos anti-ACE2 monoclonal de coelho e anti-Spike monoclonal de camundongo foi realizada para avaliar a sensibilidade entre a ligação do anticorpo primário com os fragmentos das placentas, testes com dupla marcação está em andamento. A imuno-histoquímica de HLA-G já está padronizada no nosso laboratório. Desse modo, as imuno-histoquímicas para ACE2, Spike e HLA-G nas diferentes amostras serão realizadas nesse próximo período de bolsa, quando poderemos quantificar a expressão de cada biomarcador em 150 placentas de pacientes que testaram positivo para a COVID-19 (grupo de estudo) e 58 de pacientes que testaram negativo para a COVID-19 (grupo controle), visando associar alterações na expressão desses biomarcadores com a presença e gravidade da COVID-19 associada ou não a pré-eclâmpsia.
Apoio: FIOCRUZ, CNPq, FACEPE, IMIP, UFPE.