Bolsista: KASSIA RAQUEL DA SILVA
Orientador(a): SANDRA MARIA DO VALLE LEONE DE OLIVEIRA
Resumo: Segundo a OMS (2020) a tuberculose está entre as 10 doenças infecciosas que mais causam mortes no mundo e, portanto, constitui-se como um dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS). Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a Estratégia pelo Fim da Tuberculose (End TB Strategy), que estabelece metas arrojadas para o fim da TB como problema de saúde pública até 2035 (BRASIL, 2018). E, de acordo com a OMS, para o alcance dessas metas, é imprescindível aumentar o rastreio, diagnóstico e tratamento da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis, reduzindo o risco de adoecimento e, consequentemente, evitando o adoecimento (BRASIL, 2018). A TB pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae. Em saúde pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, conhecida também como bacilo de Koch (BK). A TB é uma doença que pode ser prevenida e curada, mas ainda prevalece em condições de pobreza e contribui para perpetuação da desigualdade social (BRASIL, 2019). Em alguns casos, o sistema imune é capaz de contê-la, pelo menos temporariamente. Os bacilos podem permanecer como latentes (infecção latente pelo M. tuberculosis – ILTB) por muitos até que ocorra a reativação, produzindo a chamada TB pós-primária (ou secundária). Em 80% dos casos acomete o pulmão, e é frequente a presença de cavidade (BRASIL, 2019).
A doença geralmente afeta os pulmões, na denominada tuberculose pulmonar, mas também pode afetar outros locais, no caso da tuberculose extrapulmonar (WHO, 2020). A estimativa mundial de pessoas com infecção latente pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis é de quase um terço da população mundial, um reservatório de aproximadamente 2,3 bilhões de pessoas (HOUBEN; DODD, 2016). Ademais, esses indivíduos não apresentam nenhum sintoma e não transmitem a doença, mas são reconhecidos por testes que detectam a imunidade contra o bacilo (BRASIL, 2019).O rastreamento regular de sintomáticos respiratórios para detecção da tuberculose ativa e daqueles indivíduos com Infecção Latente TB que possam se beneficiar do tratamento preventivo são medidas fundamentais, tratadas como de maior impacto para redução da mortalidade por TB nos indivíduos com HIV. As estratégias elaboradas como prioritárias pela OMS, é a ampliação do acesso ao tratamento da ILTB entre os indivíduos portadores de HIV (BRASIL, 2019).Dentre os principais desafios para o alcance das metas está o aumento do rastreio, diagnóstico e tratamento da ILTB, principalmente entre crianças menores de cinco anos e pessoas vivendo com HIV (PVHIV), segundo a Estratégia pelo Fim da Tuberculose publicada pela OMS em 2015. Conforme Silva, Souza e Sant’anna (2012), as principais barreiras encontradas na continuidade do tratamento de ILTB em crianças foram: não comparecimento a unidade básica, as reações colaterais das medicações ou sintomas apresentados que impediram o uso adequado do medicamento, além disso, o uso irregular da medicação evidenciado por dose extra e esquecimento, a falta de fornecimento das medicações na farmácia da unidade e de disponibilidade e acessibilidade ao transporte, assim como o custo do transporte pelas condições econômicas desfavoráveis. As projeções da OMS mostram que a prevenção da tuberculose ativa com o tratamento da ILTB é uma das principais estratégias para a redução da taxa de incidência da doença, para o alcance das metas da Estratégia pelo Fim da Tuberculose (BRASIL, 2019). Com base nisso, a vigilância da ILTB se estrutura em cinco pilares principais: (1) identificação das pessoas com maior probabilidade de ter ILTB ou com maior risco de adoecimento; (2) identificação de pessoas com a ILTB; (3) indicação correta do tratamento e acompanhamento adequado; (4) notificação das pessoas que irão realizar o tratamento da ILTB; e (5) monitoramento e avaliação da realização do tratamento da ILTB (BRASIL, 2018). Antes de se afirmar que um indivíduo tem ILTB, é fundamental excluir a TB ativa, por meio da anamnese, exame clínico e radiografia de tórax (BRASIL, 2019). Para o diagnóstico há a prova tuberculínica, que consiste na inoculação intradérmica de um derivado proteico purificado do M. tuberculosis para medir a resposta imune celular a esses antígenos (BRASIL, 2019). Também há os ensaios de liberação do interferon-gama (Interferon-Gamma Release Assays – IGRA), os quais foram desenvolvidos como alternativa diagnóstica para detecção de ILTB. Tais ensaios baseiam-se na premissa de que as células anteriormente sensibilizadas com os antígenos da tuberculose produzem altos níveis de interferon-gama (BRASIL, 2019). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Center for Disease Control and Prevention (CDC) ambos os testes IGRA e PPD podem ser utilizados para o diagnóstico da ILTB (BRASIL, 2020). No Brasil, são recomendados dois esquemas terapêuticos para o tratamento da ILTB: um com isoniazida e outro com rifampicina. Considerada a ampla experiência de utilização no país, a isoniazida é o esquema preferencial para tratamento da ILTB pelo SUS (BRASIL, 2020). No ano de 2018, a OMS recomendou que, em países com alta incidência de tuberculose, a associação de rifapentina e isoniazida poderia ser oferecida como alternativa ao tratamento com isoniazida em monoterapia no tratamento de adultos e crianças (BRASIL, 2020). A associação de rifapentina com isoniazida por três meses administrada semanalmente por terapia diretamente observada (TDO), conhecida como esquema 3HP, tem sido colocada como alternativa terapêutica aos tratamentos de longa duração com isoniazida por oferecer vantagens posológicas, principalmente mantendo a adesão do paciente até a conclusão do tratamento. Segundo a OMS, a disponibilidade de tratamentos mais curtos para pessoas com ILTB oferecem uma oportunidade para a ampliação do tratamento preventivo da TB, aumentando as taxas de conclusão do tratamento e, em consequência, reduzindo casos de TB ativa e transmissão (BRASIL, 2020). Logo, o risco de abandono para pacientes em tratamento preventivo de ILTB depende de superar os principais desafios para o alcance das metas e da introdução de um esquema terapêutico que contemple redução de casos de TB ativa. OBJETIVO: Avaliar a indicação, conclusão do tratamento medicamentoso e monitoramento de eventos adversos para ILTB.METODOLOGIA: Estudo observacional e exploratório de caráter descritivo.Local, período: Este estudo é realizado no ambulatório de um serviço de referência de HIV/Aids, utilizando dados secundários no período de 2011 a dezembro de 2022.São utilizadas as etapas adaptadas conforme Fox et al. (2021) e a Organização Mundial da Saúde (2018b). Definição de caso: Foi considerado como de caso de ILTB ter teste tuberculínico positivo (? 5mm) ou IGRA positivo e LT-CD4+ ? a 350 células/mm³, e/ ou contagem de LT-CD4+ ? a 350 células/mm³ independente do TT ou IGRA (de cordo com a nova recomendação brasileira para tratar ILTB em PVHIV, em 2018; associados a avaliação de exclusão da TB ativa por exames de imagem e/ ou exames laboratoriais. Para os pacientes com TT negativo, foi considerado ILTB quando o IGRA foi positivo, e/ou o paciente era contato de ativa e tinha radiografia de tórax normal, e/ou com radiografia de tórax normal com cicatriz radiológica de TB, sem tratamento anterior para TB, com exclusão da TB ativa. Serão avaliados os pacientes que podem ter o diagnóstico para ILTB somente pela contagem de LTCD4, independente do TT ou IGRA.
Coleta de dados :As variáveis coletadas serão provenientes de dados do livro de registro da Unidade de Doenças Infecciosas (UNIDIP) que contém dados relativos aos resultados de teste tuberculínico, livros de registros e sistemas utilizados para controle de tratamento do serviço e da Farmácia. Serão utilizados também, fontes de dados secundários de acesso aos exames individuais do Hospital Dia e que estão disponíveis no prontuário do paciente. O serviço de referência utiliza como fontes de dados: SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação); SISCEL (Sistema de Informação de Controle de Exames Laboratoriais), utilizado para controle de CD4/CD8 e carga viral; SICLOM (Sistema de Controle Logístico de Medicamentos), para o gerenciamento do uso de antirretrovirais (TARV); SIM (Sistema de Informação sobre mortalidade) utilizado para pesquisar PVHIV cujo desfecho do tratamento de ILTB foi o óbito e o IL-TB. Análise de dados: O programa Microsoft Excel será utilizado para organização de planilhas e tabulação de frequência de registros. A comparação entre pacientes com diferentes desfechos do tratamento (completude, abandono e interrupção por eventos adversos), em relação às variáveis quantitativas avaliadas (idade, consultas realizadas, faltas às consultas e percentual de faltas), será realizada pelo teste t-student. A avaliação da associação entre o desfecho do tratamento e as variáveis categóricas avaliadas, foi realizada pelo teste do qui-quadrado. A análise estatística é realizada por meio do programa estatístico SPSS, versão 24.0 (software Statistical Package for Social Science), considerando um nível de significância de 5%.