Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 1

Revista: Edição 1 | Ano: 2023 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
A Potencialidade e as dificuldades no uso e gerenciamento do Prontuário eletrônico do paciente para favorecer o Vínculo Longitudinal na Atenção Primária em Saúde
Bolsista: Ana Luiza Tavares Rocha
Orientador(a): Elenice Machado da Cunha
Resumo: INTRODUÇÃO: O Vínculo Longitudinal, atributo exclusivo da Atenção Primária em Saúde (APS), refere-se à relação terapêutica duradoura entre o profissional de saúde da equipe de APS e os usuários da Unidade Básica de Saúde (UBS) em base aos critérios de adscrição populacional; se constitui de três dimensões: o reconhecimento da UBS como Fonte Regular de Cuidados; Relação interpessoal profissionais da equipe/paciente; e Continuidade informacional (CUNHA et al.,2017). O método Matriz Avaliativa do Vínculo Longitudinal – MAVIL definiu um conjunto de critérios e indicadores para avaliar o vínculo longitudinal em serviços de APS no SUS (CUNHA et al.,2017). Resultados da aplicação da MAVIL apontaram a Continuidade da Informação, que tem o prontuário como fonte do dado, como a dimensão de pior performance (CUNHA et. al., 2021). Para o desempenho insatisfatório, em base aos achados de Gonçalves (2016) aventou-se a possibilidade do formato eletrônico do prontuário impor dificuldades para o registro e recuperação dos dados. Dificuldades também são relatadas em estudos sobre o E-SUS (REIS et al., 2021). A partir de tais achados tem-se como questão do estudo: Quais as características e/ou nós críticos do Prontuário eletrônico do paciente (PES) - na APS no SUS se constituem em empecilhos para a continuidade da informação e, consequentemente, para a continuidade do cuidado e vínculo longitudinal na APS? JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA - A continuidade da informação refere-se ao registro adequado e à organização da informação médica e social de cada paciente permitindo a conexão de informação entre diferentes profissionais para a condução do cuidado ao longo do tempo. Concretiza-se a partir dos registros no prontuário do paciente. Como dimensão do vínculo longitudinal pode ser considerada a base para a continuidade do cuidado. Excetuando a MAVIL, a análise do PES e, por consequência, a qualidade dos registros não tem sido abordada em estudos avaliativos na APS. OBJETIVO: Discutir a complexidade e as potencialidades do prontuário eletrônico do paciente de forma a favorecer a continuidade da informação e consequentemente o Vínculo Longitudinal na APS. METODOLOGIA: Na primeira etapa será realizada revisão da literatura sobre as novas tecnologias digitais e PES na APS contemplando suas bases teóricas, pressupostos para uso e experiências de adoção no SUS. Como segunda etapa, mas de forma concomitante será aberto, na Comunidade Virtual da MAVIL (https://www.mavil.epsjv.fiocruz.br/), Fórum sobre o tema, um espaço de diálogo, de relatos de experiências e encontros virtuais/seminário. Posteriormente, a discussão será sistematizada. Para tal, no fórum constará termo de consentimento. Em sequência, resultados preliminares da revisão, juntamente coma sistematização serão debatidos em oficinas com a equipe da pesquisa para a elaboração de relatório e artigo científico REFERÊNCIAS: Cunha EM et. Al. Matriz Avaliativa do Vínculo Longitudinal na Atenção Primária em Saúde: validação estatística em um território de saúde do município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 37, n. 7 Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00190220 Cunha EM, Andrade GRB, Oliveira CCM, Marques MC, Vargens JMC, O’Dwyer G. Matriz Avaliativa do Vínculo Longitudinal na Atenção Primária: processo de validação por especialistas. Cad. saúde colet. [Internet]. 2017; 25( 2 ): 249-258. Gonçalves JMS, As Promessas das TICS para a Gestão do SUS: Uma Reflexão Sociotécnica Sobre a Implantação de um Software para a Estratégia de Saúde da Família, Dissertação de mestrado, Orientador H. L. Cukierman HL, Engenharia de Sistemas e Computação UFRJ, 2016 Reis ACG et al. Avaliação da Implantação do e-SUS AB no Município de Piraí/RJ. Relatório de pesquisa. Fiocruz. Programa Inova Fiocruz – Edital Geração de Conhecimento-Novos Talentos. Outubro/2021
Caracterização de linhagens de Leishmania infantum e Leishmania braziliensis deficientes para a enzima Ascorbato Peroxidase
Bolsista: KARLA FERREIRA COSTA
Orientador(a): SILVANE MARIA FONSECA MURTA
Resumo: As Leishmanioses são um grupo de doenças negligenciadas causadas por protozoários do gênero Leishmania e transmitidas através da picada das fêmeas de flebotomíneos dos gêneros Phlebotomus e Lutzomia. Essas doenças se dividem em duas manifestações clínicas principais: leishmaniose visceral (LV) e leishmaniose tegumentar (LT). Atualmente, 350 milhões de pessoas se encontram sob risco de infecção e 12 milhões se encontram infectadas. O tratamento das Leishmanioses se baseia principalmente no uso dos antimoniais pentavalentes. Porém, essas drogas apresentam limitações, como elevada toxicidade e ocorrência de parasitos resistentes a esses compostos. A resistência a drogas é um dos principais problemas clínicos para o tratamento de várias doenças. A falha no tratamento com antimoniais pentavalentes tem sido relatada em diversos países. Na Índia, mais de 60% dos pacientes com leishmaniose visceral não respondem ao tratamento com antimoniais pentavalentes devido à resistência adquirida. Nesses casos, a droga de escolha é a Anfotericina B. Os mecanismos pelos quais as espécies de Leishmania adquirem resistência aos antimoniais têm sido objeto de intensa pesquisa nas últimas décadas. O fenômeno de resistência de Leishmania aos antimoniais é complexo, multifatorial e envolve diversas vias, que apresentam aspectos similares a outros micro-organismos. Essas vias incluem a entrada, o metabolismo, o efluxo e/ou o sequestro de determinada droga, bem como a morte celular do parasito através da ação do fármaco. Leishmania possui enzimas como superóxido dismutase, triparedoxina, peroxidases dependentes de triparedoxina e ascorbato peroxidase (APX) que mantêm o equilíbrio redox celular. APXs são enzimas que contêm heme classe I e catalisam a oxidação de ascorbato dependente de peróxido de hidrogênio (H2O2) em organismos fotossintéticos. Estudos anteriores mostraram que extratos de Trypanosoma cruzi exibiram atividade peroxidase dependente de ascorbato. Pal et al. (2010) mostraram evidências de que APX de L. major é um importante fator para o controle da diferenciação do parasito e sobrevivência em macrófagos através da regulação do estresse oxidativo. Nogueira et al. (2012) demonstraram que o nível de APX está aumentado em populações de T. cruzi resistentes ao benzonidazol e sua expressão é modulada pelo estresse gerado pelo H2O2. A superexpressão de APX em L. major confere tolerância à oxidação de cardiolipina mediada pelo estresse oxidativo e, consequentemente, protege as células contra danos. Moreira et al. (2018) demonstraram que a superexperessão de APX protege L. braziliensis contra os efeitos do SbIII. Dessa maneira, APX é uma enzima que faz parte do sistema de defesa antioxidante de Leishmania e que participa da conversão de H2O2 em moléculas de água. Uma vez que esta enzima está ausente em humanos, isso a torna um importante alvo para a quimioterapia das leishmanioses (Wilkinson et al., 2002; Turrens, 2004). Recentemente, parasitos das espécies L. infantum e L. braziliensis deficientes para o gene que codifica a APX foram obtidos em nosso laboratório (SANTOS et al. Comunicação pessoal). Neste projeto, pretendemos caracterizar o fenótipo de linhagens de L. infantum e L. braziliensis deficientes para a enzima Ascorbato Peroxidase. Como objetivos específicos pretendemos: avaliar a expressão da enzima APX nos parasitos mutantes; analisar o crescimento dos parasitos mutantes e avaliar a susceptibilidade dos parasitos mutantes ao antimônio trivalente, miltefosina, anfotericina B, menadiona e isoniazida. O estudo da enzima ascorbato peroxidase em duas espécies de Leishmania poderá contribuir para um maior conhecimento acerca da função dessa enzima e dos mecanismos de resistência do parasito aos antimoniais.
Vigilância de tuberculose no contexto da epidemia do novo coronavírus COVID-19, Cidade do Rio de Janeiro, 2019-2021
Bolsista: Camila Silveira Barbosa
Orientador(a): YARA HAHR MARQUES HOKERBERG
Resumo: A tuberculose (TB) é uma doença de transmissão respiratória de alta incidência e mortalidade na cidade do Rio de Janeiro. Em março/2020, a introdução do novo coronavírus COVID-19 impôs um novo desafio à vigilância da TB na segunda capital brasileira com maior incidência de tuberculose. Na ocasião, foi implantado um plano de contingência para reduzir a transmissão comunitária e nosocomial de COVID-19 e que incluiu o isolamento social e a suspensão temporária de consultas de acompanhamento e visitas domiciliares de TB. Os objetivos do atual subprojeto são: 1) Atualizar a busca bibliográfica sobre os efeitos da COVID-19 na vigilância e monitoramento de TB; 2) Revisar a literatura sobre a eficácia e efetividade dos testes Xpert e Xpert Ultra para detecção de TB; 3) Gerenciar as referências bibliográficas; 4) Participar da extração, consolidação/atualização do banco, análise e interpretação dos dados relativos às notificações de TB e COVID-19, oferta de procedimentos ambulatoriais e exames específicos para TB, bem como o índice de isolamento social e indicadores de acesso aos serviços de atenção primária. Até o momento, foi feita a atualização bibliográfica com os termos tuberculose e COVID-19 e correlatos, nas bases Pubmed, Embase, Web of Science e Lilacs. As referências foram importadas para o software livre ZOTERO e selecionadas pelo título e resumo. As fontes de dados para o objetivo 3 foram: notificações - Sistema de informação de agravos de notificação (SINAN-TB), disponível no Tabnet-RIO; procedimentos ambulatoriais – Sistema de informação ambulatorial (SIA) (Tabnet-RIO e Tabnet-DATASUS); e o índice de isolamento social – Plataforma InLoco. Os resultados do estudo mostraram que a atualização bibliográfica feita em outubro/2021 não capturou novas referências em relação ao obtido anteriormente no Subprojeto “Distribuição espaço-temporal da tuberculose e do novo coronavirus COVID-19, Cidade do Rio de Janeiro, 2019-2020” (PIBIC 2020-21). Os dados das notificações de TB foram atualizados em março/2022 e a extração foi expandida para o período 2014-2021. Os resultados mostraram que houve uma redução no número de notificações anterior à emergência do COVID-19. O aumento na detecção de casos de 2014 a 2016 foi posterior a entrada do teste rápido molecular Xpert e coincidente com a expansão da cobertura de atenção primária na cidade. Observa-se uma aparente redução nas notificações a partir de agosto/2018, em período concomitante a redução na cobertura de atenção primária na cidade, possivelmente devido a mudança na gestão municipal, com reflexos nos investimentos em saúde. Os menores valores para as notificações foram observados no segundo trimestre de 2020, após a entrada do SARS-Cov-2 e início da primeira onda epidêmica de COVID-19 na cidade do Rio de Janeiro (março/2020). Os resultados deste subprojeto podem contribuir para identificar os fatores associados à redução na detecção de casos de tuberculose antes e após a pandemia COVID-19, bem como identificar as variáveis clínicas e sociodemográficas importantes na elaboração de algoritmos diagnósticos de tuberculose em tempos de pandemia por COVID-19.
Caracterização de linhagens bacterianas isoladas de indústria farmacêutica localizada no estado do Rio de Janeiro por MALDI-TOF MS e sequenciamento completo do gene 16S rRNA
Bolsista: MARIA LUIZA SOARES DE SOUZA
Orientador(a): VIVIANE ZAHNER
Resumo: O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) é responsável pela produção de vacinas essenciais para o Programa Nacional de Imunizações, e cumpre o conjunto de normas de Boas Práticas de Fabricação, visando à diminuição dos riscos inerentes a qualquer produção farmacêutica, como a contaminação microbiana. A identificação correta da microbiota associada aos processos produtivos é extremamente importante para investigação de fontes de contaminação e adoção de medidas preventivas ou corretivas. Apesar de grupos bacterianos serem isolados desses ambientes, dados sobre gêneros/espécies dos mesmos ainda são escassos na literatura, propiciando à descoberta de novas espécies bacterianas. A descrição de uma nova espécie tem como base, a abordagem polifásica, que combina investigações fenotípicas e genotípicas para apoiar a diversidade de microrganismos a partir dos táxons mais estreitamente conhecidos . Estudos utilizando a metodologia Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization – Time of Flight/Mass Spectrometry (MALDI-TOF MS), que fornece informações sobre o proteoma bacteriano, têm demonstrado melhor taxa de identificação de espécies bacterianas na indústria farmacêutica em comparação com os métodos fenotípicos tradicionais . O sequenciamento completo do gene 16S rRNA (metodologia genotípica), têm sido utilizado para identificar e discriminar isolados bacterianos presentes nas áreas de produção em nível de gênero/espécie, como alternativa aos métodos fenotípicos e proteotípicos . Além disso, a análise do gene 16S rRNA é praticamente o único requisito que permanece obrigatório para a identificação de novas espécies. Este projeto inovador, multidisciplinar e que integra tres unidades da Fiocruz, visa o aprimoramento da identificação bacteriana, a formação de recurso humano e o melhoramento das medidas de controle de risco por contaminantes nas áreas de produção.
Caracterização de novos inibidores da protease principal (MPro) de SARS-CoV-2 selecionados por inteligência artificial
Bolsista: Lívia Mansini Liaffa Coelho
Orientador(a): RAFAEL FERREIRA DANTAS
Resumo: A COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) é uma doença infeciosa altamente contagiosa ocasionada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda severa 2 (SARS-CoV-2). Sua transmissão ocorre principalmente entre indivíduos em contato próximo através de gotículas orais ou nasais contendo o vírus. Inicialmente detectada na cidade de Wuhan (República Popular da China) no final de 2019, a COVID-19 rapidamente se espalhou pelo mundo alcançando o status de pandemia pela organização mundial da saúde (OMS) em março de 2020 que se mantém até hoje. Até o momento (12 de maio de 2022), cerca de 515 milhões de casos confirmados de COVID-19 já foram registrados no mundo todo levando à óbito aproximadamente 6,2 milhões de pessoas. Felizmente hoje existe uma variedade de vacinas que tem ajudado no controle desta doença. No entanto, o surgimento de novas variantes é uma preocupação constante. Neste contexto, outras abordagens terapêuticas também podem ser úteis, como a administração de fármacos. Diversas estratégias experimentais e computacionais têm auxiliado na descoberta de novos antivirais, como a triagem em alta vazão, triagem virtual e design de compostos por inteligência artificial. Muitas delas têm como objetivo encontrar compostos químicos que modulem a função de proteínas essenciais para o ciclo de vida do vírus. O SARS-CoV-2 é um vírus de RNA de fita simples, envelopado, que pertence à família Coronaviridae e gênero betacoronavírus. Parte do seu genoma codifica duas poliproteínas sobrepostas – pp1a e pp1ab – que, ao serem hidrolisadas, liberam uma série de proteínas necessárias para a replicação e transcrição viral. O processamento proteolítico dessas poliproteínas é feito predominantemente pela protease principal (Mpro, também conhecida como protease do tipo 3C ou 3CLPro), uma cisteína protease de 33,8 kDa. A atividade de Mpro é essencial para o ciclo de vida do vírus sendo, portanto, um alvo molecular validado para o desenvolvimento de fármacos. Além disso, não existe uma proteína homóloga em humanos o que diminui a chance de aparecimento de efeitos colaterais. Tais fatores tem estimulado a busca por inibidores desta enzima para o tratamento de COVID-19 e alguns compostos já se mostraram promissores. O maior exemplo disso é o fármaco PAXLOVID™ (combinação do nirmatrelvir e ritonavir) desenvolvido pela Pfizer para o tratamento da COVID-19 leve à moderada. Recentemente nosso grupo empregou técnicas de modelagem generativa por inteligência artificial para gerar novas moléculas com potencial inibitório sobre a atividade de Mpro de SARS-CoV-2. No total, 36 dessas moléculas foram adquiridas de fontes comerciais (Molport) e testadas sobre a Mpro recombinante. Dentre elas, 5 inibiram em mais de 30 % a atividade de Mpro na concentração de 100 µM. A mais potente apresentou um valor de IC50 (concentração do composto que inibe em 50 % a atividade enzimática) de aproximadamente 1,5 µM. Neste projeto propomos realizar um estudo mais aprofundado sobre a interação desses 5 inibidores com a Mpro recombinante (comercial ou produzida no laboratório) utilizando técnicas de cinética enzimática, termoforese e calorimetria. Todos os equipamentos necessários realização dos ensaios estão disponíveis na Plataforma de Bioensaios e Triagem de Fármacos do Instituto Oswaldo Cruz. A partir dessas técnicas será possível determinar se o inibidor é do tipo reversível ou irreversível, o mecanismo de inibição (ex: competitiva, acompetitiva), os valores das constantes de inibição (Ki) e de dissociação (KD), além de parâmetros termodinâmicos (ex: entalpia, entropia). Esperamos que os resultados gerados neste trabalho nos auxiliem no desenvolvimento de novos inibidores de Mpro com potencial farmacológico para o tratamento da COVID-19. Cronograma: cálculo do valor de IC50 dos compostos que ainda não tiveram este parâmetro determinado (mês 1), realização dos ensaios de reversibilidade (meses 2-3), determinação dos parâmetros cinéticos de inibição (meses 4-6), medida da afinidade da enzima pelos inibidores por termoforese (7-9), quantificação de parâmetros termodinâmicos da ligação (meses 10-12) e elaboração do relatório final do projeto (mês 12).
Interação entre o sistema do complemento humano e o percevejo de cama Cimex lectularius (Linnaeus, 1758)
Bolsista: BRENDA HEVILLIN ROCHA SIMTOB
Orientador(a): VLADIMIR FAZITO DO VALE
Resumo: 1. Justificativa e relevância Cimex lectularius (Heteroptera: Cimicidae) é um ectoparasito intimamente associado com os seres humanos que se alimenta de sangue em todos os estágios de seu desenvolvimento (Usinger, 1966). Durante a hematofagia esses percevejos podem gerar intensas reações alérgicas em seus hospedeiros (Doggett et al., 2012). A saliva de artrópodes hematófagos é composta por inúmeras moléculas biologicamente ativas que facilitam a alimentação no hospedeiro vertebrado e comumente modulam a resposta imunológica no local da picada (Andrade et al., 2005). Inibidores do sistema do complemento têm sido universalmente encontrados na saliva e intestino de artrópodes hematófagos e a presença dessa atividade em inúmeras espécies filogeneticamente distantes indica um papel fundamental dessas moléculas para a sobrevivência e desenvolvimento desses artrópodes (Schroeder et al., 2009). De fato, a proteção conferida por inibidores do sistema do complemento já foi mostrada em algumas espécies de insetos hematófagos (Barros et al., 2009). Como parte da imunidade inata, o sistema do complemento é composto por cerca de 30 proteínas plasmáticas que interagem entre si para formar uma cascata de reações bioquímicas. Três vias principais ativam o sistema do complemento: (1) a via clássica, normalmente dependente de anticorpos; (2) a via alternativa, ativada de forma espontânea e (3) a via das lectinas, que reconhece determinados açúcares encontrados na superfície de patógenos (Merle et al., 2015). A ativação do sistema do complemento é capaz de opsonizar patógenos (facilitando assim a fagocitose), produzir peptídeos pró-inflamatórios e até mesmo lisar células invasoras através da formação de poros na membrana celular (Merle et al., 2015). Apesar da crescente preocupação com os percevejos de cama, até o momento a interação entre C. lectularius e o complemento humano não foi descrita na literatura científica. Tendo em vista a importância de mecanismos inibidores do sistema do complemento para a sobrevivência e desenvolvimento de artrópodes hematófagos (Barros et al., 2009) e a possibilidade de se utilizar o conhecimento gerado como base para uma nova metodologia de controle, nos propusemos estudar essa interação. 2. Objetivos Específicos - Avaliar o status de ativação do sistema do complemento no sangue ingerido; - Testar a atividade inibidora do sistema do complemento humano pela saliva e conteúdo intestinal de C. lectularius; - Determinar o ponto de inibição da cascata do complemento pelo(s) inibidor(es) solúveis; - Verificar a capacidade do epitélio intestinal de C. lectularius em inibir o complemento através da ligação de moléculas reguladoras presentes no plasma sanguíneo. 3. Metodologia 3.1 Manutenção dos insetos e obtenção das amostras biológicas Serão utilizados machos de C. lectularius em jejum por 20 dias provenientes da colônia mantida no insetário do Grupo de Pesquisa em Triatomíneos do IRR/Fiocruz. Esses insetos são mantidos em potes de plásticos, sob temperatura e umidade controladas e alimentados semanalmente em camundongos. As amostras biológicas (glândula salivar e intestino) serão obtidas através de dissecação dos insetos em PBS utilizando-se um microscópio estereoscópico. 3.2 Ensaios do sistema do complemento humano Ensaios hemolíticos serão usados para avaliar o status de ativação do complemento humano ingerido e testar a capacidade das amostras biológicas de C. lectularius em inibir a via clássica e alternativa. Hemácias de carneiro opsonizadas com anticorpos (via clássica) e hemácias de coelhos (via alternativa) serão incubadas com soro humano normal, na presença e na ausência das amostras biológicas. A quantificação da lise mediada pelo complemento será feita através da dosagem da hemoglobina a 415 nm no sobrenadante do ensaio (Silva et al., 2016). A capacidade das amostras biológicas de C. lectularius em inibir a via das lectinas será testada de acordo com Mendes Sousa et al. (2016). Placas de ELISA serão cobertas com manana e incubadas com soro humano na presença e na ausência das amostras biológicas. A ativação da via das lectinas será mensurada através da detecção do componente C4 na superfície da placa. 3.3 Ensaios para determinar o ponto de inibição do complemento humano Com o objetivo de descobrir em qual ponto da cascata do complemento ocorre inibição, ensaios de ELISA serão realizados (Mendes Sousa et al., 2016). Os poços de placas de ELISA serão cobertos com IgG (via clássica), agarose (via alternativa) e manana (via das lectinas) e incubados com soro na presença ou ausência de amostras biológicas. A deposição de diversos componentes ao longo cascata do complemento (MBL, C1q, C4b, C3b, fator Bb, C5b e C9) será avaliada utilizando-se anticorpos específicos, de modo que será possível saber o ponto que a saliva ou conteúdo intestinal atua. 3.4 Ligação de moléculas reguladoras ao epitélio intestinal de C. lectularius Para avaliar a capacidade do epitélio intestinal de C. lectularius em captar moléculas reguladoras do complemento presentes no sangue humano, insetos serão dissecados e os intestinos serão abertos e incubados com soro humano normal. Após lavagem, esses intestinos serão sonicados e o material resultante será utilizado para cobrir uma placa de ELISA que será revelada utilizando-se anticorpos anti-fator H.
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